Memórias póstumas de Eva Francisca

Seria um conto? Um relato? Uma crônica? O que seria? Se eu lhe dissesse que tudo que relatarei a partir daqui é real você acreditaria? Certamente não, afinal, você intrépido leitor é cético e pensa que pode decifrar cada palavra que escreverei a seguir, com a precisão que a vida lhe ensinou a usar.

Era no jogo do Brasil, lembro-me como se fosse ontem, mas na verdade foi na segunda feira. Estava ela deitada, sendo velada, e todo os parentes, e eu. O narrador deste relato no data show a olhar o cenário que a você pode parecer típico, todavia, a mim, ocasionou-me terror. Qual seria a mensuração do terror para você leitor? Assistir um filme? Ler um conto de Lovecraft ou Poe? Teria uma fórmula perfeita para ser um conto de Terror? O Terror em mim poder-se-ia estar elencado nos contos de Clarice Lispector, onde o ser humano é desnudado a sua forma perfeita. Podre, a podridão das relações humanas me causam terror eu não sei a você a mim causam repulsa. Mas as memórias não são minhas.

As memórias que compartilharei agora pertencem a uma história que ouvi de um amigo próximo, um relato que ainda ecoa em minha mente com intensidade. Permita-me contar-lhe essa história, como se eu estivesse lá, observando tudo.

Naquela segunda-feira, durante o jogo do Brasil, o ambiente estava carregado de uma atmosfera estranha e tensa. Enquanto a nação torcia pelo time, naquele mesmo momento, uma mulher era velada. Era uma cena surreal, a mistura de emoções contrastantes preenchendo o ar.

A sala funerária estava repleta de parentes, amigos e conhecidos, todos vestidos de preto e com expressões sombrias em seus rostos. A mulher deitada em seu caixão, em silêncio, transmitia uma aura de mistério e intriga. Através do projetor do, data show, um narrador começou a compartilhar sua história.

Aquela que estava sendo velada era uma mulher enigmática, conhecida por sua personalidade marcante e suas peculiaridades. Ela tinha uma maneira peculiar de enxergar o mundo, como se estivesse sempre observando além do óbvio, buscando desvendar os segredos mais profundos da existência humana.

À medida que o narrador desvendava a vida dessa mulher, o terror silencioso se instalava em mim. Não era o terror dos filmes ou dos contos macabros, mas sim o terror de confrontar a realidade crua e nua da condição humana. Era o terror de se deparar com a complexidade dos relacionamentos, com as máscaras que usamos para encobrir nossas fraquezas e as cicatrizes que carregamos em nosso âmago.

A medida que as memórias daquela mulher eram compartilhadas, ficava claro que ela havia experimentado tanto momentos de felicidade intensa quanto de desespero profundo. Seus relacionamentos eram um reflexo de sua busca incessante por compreender a si mesma e aos outros, mas também eram palcos de traição, desilusão e sofrimento.

As relações humanas, vistas através das lentes daquela mulher, eram um labirinto tortuoso e sombrio. O terror que me invadia não era apenas pelo retrato de suas experiências, mas pela reflexão que se fazia presente em minha mente. Será que todos nós carregamos uma dose de terror em nossas vidas, mesmo que mascarado sob a aparente normalidade?

A história daquela mulher continuou a ser revelada ao som do jogo do Brasil, que ecoava ao fundo como uma trilha sonora sinistra. Enquanto o país celebrava as jogadas e gols, eu me encontrava imerso nas profundezas de um terror existencial, confrontando minhas próprias máscaras e medos.

No final do relato, quando as últimas palavras do narrador ecoaram no ambiente sombrio da sala funerária, percebi que aquele momento não era apenas um conto de terror, nem uma mera crônica. Era uma experiência compartilhada, um vislumbre da fragilidade humana e das camadas ocultas que compõem nossa existência.

Portanto, caro leitor, acredite ou não na veracidade dessas memórias, elas continuam a ecoar em minha mente como um lembrete de que o terror não se limita apenas às histórias fictícias, mas pode surgir das experiências reais e das relações humanas complexas. Afinal, cada um de nós carrega suas próprias histórias de terror, suas próprias batalhas internas e seus próprios momentos de escuridão.

Então, quando você se deparar com as nuances da vida, com os enigmas do ser humano e com os momentos que desafiam sua compreensão, lembre-se de que o terror pode se manifestar de maneiras imprevisíveis. Não julgue apenas pelas aparências, pois por trás de cada semblante, há uma história única e uma bagagem de emoções que moldam quem somos.

E assim, encerro este relato deixando a reflexão no ar. O que é o terror para você? Seria ele encontrado apenas nos contos fantásticos ou pode residir nas entranhas do cotidiano? Cabe a cada um de nós explorar essas perguntas e encontrar nossas próprias respostas, enquanto seguimos adiante nessa jornada chamada vida.