O DIÁRIO

 

“Às vezes é melhor estar morto”

 Cemitério Maldito

 

"Eu adoro o jeito que a sua mente sórdida funciona." 

Jafar

 

"O coração batia-lhe rijo na arca do peito"

Iaiá Garcia-MDA

 

"O louco também vê e ouve o que julga ver

e ouvir"

Alexandre Dumas

 

 

À Elisa, minha primeira leitora.

 

 


31 de maio de 2021

"George, o seu diagnóstico não é fácil. O que estava ao nosso alcance foi feito... O senhor é um homem de fé, não é?" 

 

"Fé? Entendi." Esta foi a minha resposta.

 

EU deixei de prestar atenção na parte em que o doutor João falou que não era fácil. Passou-me pela cabeça meus filhos, minha esposa, minha mãe, meus sonhos...

 

"Quanto tempo, doutor?" A resposta? "Hum... Veja bem, sou médico e não Deus." 

 

Pelo menos sei como será. Um infarto! Basta um pedacinho de gordura se desprender das veias e páh!!! Bloqueia a passagem de sangue. Simples demais. A vida interrompe-se por causa do óleo de um delicioso pastel de feira comido sagradamente aos sábados nos últimos 30 anos. 

 

Ter fé. Rezar. Intervenção divina. Era tudo o que eu não queria. Não que eu despreze a religião,  mas é que não me sinto digno de tal intervenção celestial. Quem sou eu sou para o Pai das alturas me estender as mãos ? Se eu tivesse ao menos a sorte da hemorroísa. 

 

No caminho para casa, vim pensativo. Vendo os bares. "Pessoas felizes e saudáveis. Ligando nem um pouco para a saúde. É justo, isso?" Foi o meu pensamento. Quase que um questionamento ao próprio Criador.

 

Quando desci do ônibus, vi um grupo de mendigos reunidos em um prédio abandonado. Rindo. Debochadamente riam. Até pareciam que estavam zombando de mim.  Fechei a cara e segui o meu caminho.

 

Em casa, fui recebido com beijos e abraços pelas crianças e minha esposa. Os pequenos queriam subir por meus  braços e escalando alcançarem o meu cangote. Sempre a maior algazarra.

 

Ninguém desconfiava; nem a minha esposa. Esse é o meu primeiro segredo em 17 anos de convivência.  Nem os exames eu trouxe para casa. Fingi esquecimento,  e os deixei lá no consultório.

 

01 de junho de 2021

Elisa me percebeu com um ar sério. Mas achou que fossem as coisas do dia a dia. Meus pensamentos ainda estão envoltos nas palavras do cardiologista: fé e fulminante. 

 

Tomei café com leite. Vim para o escritório corrigir algumas monografias. Estou aqui há  praticamente  seis horas. As monografias foram só desculpas para eu ficar sozinho.

 

Desde que saí do consultório, uma dor  me faz companhia. Ela não estava aqui antes. Bastou o fechamento do diagnóstico, que ela pousou no meu peito. É como um cuco, alertando que está próxima a minha hora nona.

 

Saber que  morreremos a qualquer momento é diferente de saber que estamos morrendo. A angústia no primeiro caso é maior.

 

O "estamos morrendo" pode levar um século, corre-se o risco de  tornar-se um macróbio. Digno dos livros dos recordes. Uma vida linda. Ver os filhos casarem-se e trazerem os netos nas tardes de domingo para subirem em nossos  braços e escalando sentarem em nossas corcundas. E brincarmos de aviãozinho com eles. Isso é o "estamos morrendo".

 

Já o "morrer a qualquer momento", nos tira tudo. Que netos, se eu nem conseguirei ver meus filhos se formarem no ABC? Que sonhos, se a dor que carrego agora pode estourar meu peito num pesadelo fulminantemente? 

 

02 de junho de 2021

"Tudo bem, amor?" Elisa já percebeu que não estou bem. Sinto-me mal por lhe esconder isto. Minto. Aliás, minto muito mal, já que nunca precisei utilizar esse artifício com ela. 

 

Me perguntou se eu iria trabalhar pela manhã ou só à tarde. Disse-lhe que já estava de saída. Bebi o meu café rapidamente. Mas, não antes de ouvir ela reclamando que eu não comento  nada do meu trabalho. Na verdade, não tem nada para comentar. O semestre só vai começar amanhã.

 

À noite, quando retorno, quase que encontro os meninos dormindo. Clemente já está no quarto. Lino  assiste no Tablet.  "Se está quieto, deixe quieto". É o nosso lema. Mas, não dura muito o ⁷⁰sossego. O pequeno  corre e se lança em mim com aquela confiança filial. 

 

O seu peso, me faz sentir o coração quase sair pela boca. Mas a inocente criança não tem culpa de nada. Foi apenas uma demonstração de amor. 

 

 Se tornou mais aguda a dor. Parece  pregos  enfiados no meu peito. 

 

"Papai, papai, o senhor compra para mim esta bicicleta? Queria tanto! Laura tem uma parecida. ⁸⁰Mas eu quero da vermelha." Foi o pedido que ele me fez.

 

Respondo que verei com a mamãe sobre a possibilidade... A resposta dele? "Sabia que eu te amo, papai?!" Parece que já recebi o pagamento por antecipação.

 

Refletindo agora sobre o peso dessas palavras,  quase que  desabo.  Como posso morrer e deixar meus filhos órfãos? Sinto minha garganta travar. É um misto de medo e ansiedade. 

 

03 de junho de 2021

 semestre iniciou hoje. O primeiro compromisso do dia foi com a turma de calouros do curso de mecatrônica, e o tradicional discurso do professor Helder.

 

Após a recepção,  todos os novatos se direcionaram para as suas respectivas salas, ansiosos pela primeira aula. 

 

Vi a turma. Um bando de adolescentes.  Cada dia mais novos ao entrarem no curso superior.

 

No quadro, escrevi meu nome e o da disciplina: Fundamentos da robótica. Antes de iniciar,  questionei se eles tinham alguma dúvida. Dois ou três levantaram as mãos. A primeira foi a clássica: "Professor, o senhor faz chamada?"

 

Estava ali um espécime que não iria passar do primeiro semestre. Mecatrônica requer disciplina e comprometimento.  Essa dúvida era apenas para saber se  eu  reprovaria alguém por falta.

 

Disse-lhe que eu não faço chamada, e que ¹¹⁰assistia as aulas quem quisesse. Apesar de doente do coração, meus ouvidos estão em perfeito estado, e pude escutar alguém cochichando: "mas em compensação, as avaliações costumavam ser cruéis com os descompromissados, foi o que eu ouvi dizer."

 

A próxima pergunta foi: "Professor,  os grupos de estudos começam quando?"

 

Outro tipo de aluno. Aparentemente promissor na carreira. São desses  que saem os melhores pesquisadores, futuros professores e profissionais do mercado.

 

Intrigou-me mesmo foi a terceira pergunta: "É verdade que seremos como deuses?

 

No peito, a dor se manifestou como um lembrete sinistro: "tu estás morrendo". Foi inevitável levar a mão ao coração. Quase como uma denúncia do que eu sentia. Mas fiz-me parecer estar  bem, disfarçando como se fosse apenas uma coceira banal.  Era na verdade um cacto; um verde, rechonchudo e espinhoso cacto que ocupou o lugar do meu coração.

 

Quando terminou a aula, fui direto para a minha sala e joguei-me na cadeira.

 

Na parede, meio torto, tenho um quadro de Jacob Jordaens.  Na verdade não é meu. Alguém antes de mim o colocou lá e esqueceu de levar quando foi embora. Agora, isso não pode ser pura e simples coincidência.

 

Primeiro, o aluno que ressuscitou uma frase do discurso do professor Helder, dita dezenas de outras vezes e que ninguém nunca deu a mínima. E agora, o velho quadro  do Jacob. Tudo gritava: "Sereis como Deus."

 

Continuei o resto do dia com o meu cacto florindo no peito.

 

04 de junho de 2021

Amanheci com o  notebook aberto. A meta? Estudar a anatomia do coração humano. 

 

órgão é dividido em quatro câmaras. Nada muito diferente de um motor. Fiz umas anotações que juguei interessantes e nisso nem percebi que já havia passado da hora de ir trabalhar. Era a segunda aula no p2. Fácil de se resolver. Mandei uma mensagem para a monitora da disciplina e pedi que estudassem  o capítulo 7 de Craig. 

 

Assim, a manhã foi curta; garimpar informações é a minha especialidade. Já estava com uma ideia na mente: "Ser como Deus."

 

Na parte da tarde fui dar uma volta no comércio. Comprei um motor. "Perfeito!" Foi o que eu disse para mim mesmo. Ainda passei na distribuidora de materiais médicos, adquiri uns itens que precisava para o meu projeto. Os demais acessórios eu os tinha em casa.

 

Foi este o meu primeiro passo  para ser igual ao criador". Mas, o meu espinho na carne não o deixa esquecer um minuto sequer a minha condição; na verdade, as dores começam a se intensificar ainda mais, pior do que quando Lino saltou nos meus braços. Era o sinal de que eu não dispunha de muito tempo.

 

Em casa, tentei chegar sem fazer barulho para que ninguém desse conta de minha presença.  Peguei um pouco de café com leite e parti para a oficina. Fiz a limpeza necessária. Troquei as lâmpadas por outras mais adequadas. Direcionei o grande  espelho para cobrir bem a região do meu tórax.

 

Quando Elisa me viu, parece que ela tem o faro de um retriever, perguntou-me o que eu estava fazendo em casa uma hora daquelas. Respondi que terminei mais cedo as aulas e que, como não tinha mais nada para fazer, vim descansar. Falei isto afastando‐a bruscamente da oficina e dizendo que precisava ficar sozinho naquela tarde. Iria fazer uns experimentos e não queria ser interrompido. Sugeri-lhe que fosse ao shopping com as crianças ou a casa da sua mãe.  

 

Demorou um pouco mas, concordou.  Percebeu-me mais abatido do que antes, e se incomodou com o fato de eu sempre estar levando a mão ao peito. Pedi-lhe para que não se preocupasse. Só havia batido o ombro na porta, e estava doendo um pouco.

 

Exatamente ao meio dia, eu estava sozinho. Como quem não tem tempo a perder, meti-me na oficina. Tudo estava preparado. A iluminação excelente. 

 

Repassei todo o procedimento. Onde ficaria cada conexão.  As veias cavas ficariam do lado esquerdo do motor. A Aorta e a pulmonar ficariam do lado direito. Mas, e as  veias pulmonares? Não havia pensado nelas. Só tinha lugar para as grandes artérias. Tive a ideia de unir as cavas com as pulmonares, como nos octópodes. 

 

Tomei coragem e iniciei o procedimento. Esperava que a lidocaína agisse mais rápido. Talvez eu tenha colocado pouca. Passei mais pomada. Esperei alguns segundos e, comecei a abrir o meu próprio  peito. "Sereis como Deus".

 

O sangue pulava em jato. Eu sabia que a prioridade era estancá-lo. Aos poucos, tive acesso ao coração. 

 

Lá estava o músculo! A fonte de vida de todo ser que respira. O motor já estava posicionado, cortei o que tinha de cortar e liguei o que tinha de ligar. Aos poucos, o sangue passou a ser bombeado pela máquina. Era como se ele ganhasse vida. Era a vida que eu  criei. Eu me tornei  um Deus! 

 

Posso estar enganado, mas eu senti como se o motor batesse. Uma batida forte. Vigorosa. Anunciando a vida. Deus soprou nas narinas. Eu fui além. Fiz meu próprio coração. Enquanto Adão era criatura, eu me tornei o criador.

 

O órgão inútil deixei sobre a mesa. Fiz os remendos necessários. O motor parece que foi feito por encomenda. Encaixou perfeitamente em meu peito. 

 

Um minuto sem sentir a dor. Finalmente  arranquei o cacto pelas raízes. Matei o maldito cuco. Dolorido estava, mas eram apenas as dores "pós-operatórias; dava para suportar na esperança de que não iria mais morrer a qualquer momento.

 

Entrei em casa e tomei o meu café com leite. Sentei-me à mesa. Com o orgulho luciferino exalando por todos os meus poros.

 

Fui ao banheiro. Dei uma olhada no espelho e vi os pontos malfeitos, mas bem justos. Levei a mão ao peito apenas pela força do hábito. 

 

Elisa chegou do passeio com os meninos bem na hora que eu estava no banho. Como eu faria para esconder tamanho corte no meu dorso? Enrolei-me na toalha e ainda coloquei uma camisa dos meninos sobre mim. Mesmo assim, ainda estava sangrando. Mas, parece que deu certo. Ela entrou no banheiro, falou comigo, perguntou-me se estava tudo bem e saiu. 

 

Quando cheguei à sala, as crianças me viram e correram como um trem de carga. Eu não aguentaria tanta pressão. Meu peito se abriria em duas bandas, com certeza. Eu  gritei. Eles pararam.  Foi a primeira vez que me viram elevando a voz.

 

Assustada, Elisa  pegou os meninos e pediu para que fossem trocar de roupa; enquanto isso, eu fiquei perto da janela tomando café.

 

Meu peito ainda sangrava. "Agora ela veria e descobriria tudo". Mas, nem percebeu. Bem, em momento algum fiquei de frente. Sempre de costas ou de lado. Algumas gotas de sangue  manchavam o chão, mas eu as encobria passando o pé.

 

 "Por que você  gritou com as crianças?"  O que dizer para ela? A verdade? De forma alguma. Culpei o estresse. Logo era assunto vencido. Depois, eu daria um beijo em cada um, e tudo estaria resolvido. 

 

Os meninos a chamam novamente. Antes de ir perguntou-me porquê eu havia dado carne para Suzy. Quando olho, a cachorra estava com o meu coração na boca.

 

Tive um acesso de raiva. Estrangulei o animal com apenas uma mão. Um prazer me invadiu ao ver a cadela morrendo sufocada. Lutando para sobreviver. Ela conseguiu se soltar um pouco e encravou os dentes no meu dedo. Uma mordida dolorosa e profunda, o que só  aumentou minha ira. A matei quebrando-lhe o pescoço .  Livrei-me do corpo jogando-a na lata de lixo junto com o coração podre.

 

 Maldita quase que me arrancou o polegar. 

 

Aqui, acontece algo que pode ser atribuído apenas a um deus. Enquanto vou ao banheiro lavar as mãos, olho no espelho e  vejo meu peito: Nada de cicatriz. Nem um pontinho sequer. Nem depilado está. A única justificativa que encontro para isso é que eu realmente me tornara um deus.

 

05 de junho de 2021

Hoje, Elisa perguntou pela cachorra. Nem ouvi.  Estava absorto com o meu milagre. Ela insiste. Eu apenas disse que ela saiu correndo quando eu  tentei ver o que ela estava comendo. Ainda disse-me que os meninos estavam achando que Suzy tinha fugido. Prometi que se a encontrasse eu a traria para casa e fui á padaria.

 

Quando saí vi que o carro do lixo tinha passado. Segui confiante. Estava me sentindo bem como nunca me sentira antes.

 

Na esquina tinha um desses fanáticos esbravejando aos quatros ventos as suas crenças e obrigando as pessoas a aceitarem seu panfleto, às sete da manhã.

 

"Arrependei-vos e credes no Evangelho! O Senhor está à porta, quem vai abrir e convidá-lo à cear?"

 

Passei longe; inclusive estava atravessando a rua quando o Bíblia me chama e grita:

 

"O pecado do homem foi querer ser igual a Deus."

 

Parei. 

 

"Esse foi o primeiro pecado!" 

 

 Transcrevo aqui mais ou menos o diálogo que tivemos antes de eu  quase o esganar como fiz com a cadela na noite anterior.

 

— Quem mandou dizer isso para mim?

— Eu sou um arauto do Senhor. Arrepende-te e  serás salvo!

— E se eu não quiser?

— Então, vais viver escondido nos seus medos...

— Quanta besteira!— Falei. 

— Esse é o pecado de Babel. Querer ser maior que o criador...

— E se eu quiser ser maior?

— Um rei teve esse mesmo pensamento e virou uma besta comendo a grama do próprio quintal...

— Irmão, você quer ir para o céu?

— Este é o anelo da minha alma.

— Então,  diga oi a Deus por mim.

 

Falei isso já com mão no seu pescoço.  Ele ainda sussurrou por entre os dentes algo como "o salário do pecado ser a morte". Não o matei por pouco. Vi a luz do giroflex dobrando a esquina. Larguei o miserável na calçada e corri.

 

Cheguei em casa. Não estava ofegante. E que força era aquela? De onde vinha aquela ira? Provavelmente são superpoderes divinos, pensei comigo.

 

Elisa perguntou pelo pão. Disse-lhe que a padaria estava fechada. Sem acreditar, ela diz que seu Aluísio nunca fecha e   guardou o celular.

 

Quero saber com quem ela estava falando. Mas, me diz que apenas estava pondo o celular para carregar. Sinto que é mentira.

 

Os meninos estavam chorando muito. Pela primeira vez eu estava incomodado com o barulho. Elisa diz que eles estão com saudade de Suzy. "Você não a viu por aí?" Ela me pergunta. Eu respondi gritando que o carro do lixo a levou. Os meninos ouviram e choraram mais ainda.

 

"Como assim o carro do lixo a levou, George?" "Eu a matei. Matei ontem. E joguei no lixo. E se ela aparecesse de novo na minha frente, a mataria novamente. Agora que eu disse um segredo meu, porque você não me conta um segredinho, e fala quem estava ao telefone quando eu cheguei!" 

 

São 10 horas do dia 05 de junho de 2021. Vim  descansar  aqui no meu escritório. Uma tentativa de escrever um pouco, me livrar do tédio do choro dos meninos e da cara esganada de Elisa. Isso! O fanático escapou, mas ela não teve a mesma sorte!

 

"O salário do pecado é a morte". E a mentira é pecado. E como um deus, eu não poderia deixar o pecado impune. Matei-a. As crianças são seres puros. Inocentes. Mas ela? Mentiu! Eu vi no seu celular que Zélia tinha ligado . Tinha Mandado mensagem. A maldita me denunciou à policia pelo que fiz ao pregador. Ela tinha me visto.

 

Abro a porta do escritório na intenção de fazer uma visita a comadre Zélia. Vejo os meninos ainda em cima do corpo da mãe. As crianças me perceberam e tive que fechar rapidamente. Não por causa delas apenas, mas vi  a luz de um giroflex  em frente da nossa casa, pelo espelho. Vieram me pegar. Mas tenho um plano...

 

O restante da história foi contada por testemunhas oculares do caso. Pode-se ter a ideia de que faltam detalhes, ou que o escriba teve preguiça. Um vício comum aos péssimos homens de letras. Mas, não! Justamente por depender da boa vontade de quem presenciou, que temendo serem testemunhas do caso, pouco falaram sobre. Sem contar o fato da maioria dos que testemunharam serem sequelados pelo uso constante de entorpecentes. E por que eu não consultei as autoridades policiais? Infelizmente, eles estavam com pressa; provavelmente já haviam recebidos outra chamada. E por que não falei a senhora Elisa ? Convenhamos, a dor que devia estar passando...  Eu não quis arrancar a casca ⁴⁰⁰dessa terrível ferida. Assim, segue-se o pouco que obtive de informações. Claro que eu poderia inventar detalhes, criar uma ilusão ao leitor, mas eu não ficaria em paz comigo mesmo e nem com a memória do meu amigo.

 

 

Quando os policiais entram na casa ficam em alerta. A ligação dizia que no prédio havia um homem provavelmente armado.

 

A rua encheu-se de curiosos. Alguém grita: "Ele tem uma faca!"

 

O meliante de forma alguma iria se entregar. Os policiais fizeram  vários disparos. Aparentemente nenhum  tiro o atingiu. Ele correu com a faca na mão para outro cômodo do prédio abandonado.

 

Quando a polícia consegue se aproximar, eles veem na parede uma frase escrita com sangue, por toda a parede:

 

"Sereis como Deus."

 

Num canto, eles  encontram um caixote com uns tamboretes, dando a ideia de uma mesinha. Em cima tinha um caderno velho e sujo.

 

Analisado depois pela perícia,  o que estava escrito ali era uma história. Após a realização de uma investigação preliminar, descobriu-se que o morador de rua sofria de transtorno de dissociação de personalidade. Estava na rua há uma semana.

 

Quando os policiais entraram numa espécie de quarto, encontram George com o peito dilarerado, com o coração a mostra.  Ainda deu para ver os últimos batimentos.

 

Sua esposa foi localizada. Estarrecida, não acreditava naquilo que lhe diziam. "Como assim o meu George morreu!" Ela tinha a esperanças de que ele entrasse em casa a qualquer instante. Depois, a polícia lhe entregou o diário.

 

Na varanda do apartamento. Vendo Lino e Clemente brincarem com Suzy, ela  chorava a cada palavra que lia. Seu marido era um homem doente e escondeu isso de todos.

 

 

TEMA: INVENÇÕES CIENTÍFICAS

 

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George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 23/02/2023
Reeditado em 18/02/2024
Código do texto: T7726278
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