A Casa Amaldiçoada - Libertação
Desde que fui aprisionada no espelho em 2018 minha vida se transformou. Eu não dormia, não comia, nunca mais sorri e o choro foi uma constante em meus dias escuros. Esqueci tudo que aprendi, esqueci do conselho de minha vozinha, me entreguei ao medo.
Olhando através do espelho vi minha vida seguindo em frente, vi uma pandemia levando pessoas queridas e tanto isolamento que até me conformei em ficar ali dentro. Acho que foi uma fuga, decidi não lutar por essa alma perdida, pois lá fora não estava melhor. Ali, pelo menos me protegia da covid.
Até aceitei esse espírito maligno que me atormentava e algumas vezes até sorri das frases tenebrosas que ele escrevia no espelho para me atormentar.
Acho que quando a gente vê tanto sofrimento do lado de fora, nosso cantinho, por mais feio que seja, se torna um oásis seguro.
Bom, o fantasma deve ter se decepcionado comigo: um dia apertei os olhos sentindo muita dor. . . Era a luz do sol! Eu estava livre, sem perceber, voltei para o lado de fora.
Mas a casa continuava sendo sombria. Mesmo estando de volta, podendo rir, sair, viver ... Algo não estava certo.
Olhei ao redor e vi um vulto saindo do banheiro. Era um vulto apenas e por mais que eu tentasse, não via seu rosto.
-Porque ainda está aqui? Acabou a graça! Sem medo não tem graça não é...
O vulto parou por um instante e seguiu seu caminho de volta ao banheiro. Não entendia porque estava ali novamente.
- Bom, pelo menos não sussurra mais, não ri, não assombra. Talvez more aqui e não queira ir embora. Melhor me acostumar...- Uma ova! Sou mais forte que isso!
Primeiro quero viver de novo, sair, tirar as máscaras e respirar. Preciso me atualizar já que o pior da pandemia já passou. Preciso de tanta coisa...
Decidi que na calma se aprende, na calma se prepara e na calma se vive. Afinal...
O ditado de todas as vozinhas: Apressado come cru...
Continua...