O CASARÃO DOS DESEJOS ESCONDIDOS (miniconto) terror/loucura/mistério

Praça Pamplona – São Paulo Antiga | São paulo, Pamplona, Casas antigas



'Anos quarenta, mulheres votando, início do nosso empoderamento e um aflorar de desejos contidos, um tipo de libertação'



Martha, Leandro, Fábio, Olavo, Luiz, Luna, Verdana e Maria, jovens cheios de sonhos, num período de renovações no País, viviam em bares após o trabalho, se reuniam várias vezes para ouvir a programação da rádio e esbanjavam sua solteirice nas casas de chá e praças floridas, eram muito amigos e andavam convivendo com um certo tédio, procuravam coisas novas e mais aventura para suas vidas.

***

Na cidade havia um casarão sombrio e sóbrio na sua aparência, as matronas e beatas da cidade passavam por sua calçada de olhos baixos e se benzendo o tempo todo, já tinham ouvido muitos comentários sobre o casarão, mas, nunca confirmaram os boatos, só que pelo sim pelo não, mantinham as suas defesas em alerta e suas crias sob as asas protetoras. Para elas o casarão era um antro, de quê na realidade não tinham suas dúvidas confirmadas.


O grupo de amigos já tinha ouvido várias históras sobre o lugar, também ouviram que o Café que funcionava lá dentro tinha em seu cardápio o melhor latte macchiato com batismo de conhaque da região e com o acompanhamento de um quiche de queijo forte, ficava perfeito, isso atiçou a curiosidade e o palato dos amigos entediados. Num final de tarde resolveram visitar o lugar. Em tempo, tiveram o cuidado de não falar aos seus familiares, onde iriam se divertir naquela noite, com certeza não permitiriam a nova aventura dos jovens amigos.

Chegaram a entrada e tudo que escutaram anteriormente sobre o lugar, se apagou inteiramente. Por dentro o casarão sombrio e sóbrio, era elegante, em tons lisases, esverdeados e toques de tons terrosos, o café tinha uma variedade de opções, mas, resolveram manter o pedido sobre o que já tinham ouvido falar, para iniciarem a noite se serviram de cálices de um licor de ovos, pois era uma cortesia do casarão, ficando à disposição dos clientes, puderam comprovar que era delicioso e liberava qualquer timidez, os amigos gostaram bastante. O ambiente era composto de nichos acortinados, para que os clientes tivessem um pouco de privacidade, Fábio e Maria perceberam que algumas pessoas estavam muito alegres, até mesmo 'festivas' demais.

Martha, Luna e Olavo começaram a sentir um desejo mórbido e ardente, como vampiros indecentes, começaram a se chupar e quase tiraram sangue um dos outros, nem pareciam as pessoas que realmente eram...ou não, pois por dentro nutriam desejos que nunca revelaram, naquele ambiente tudo se impunha,  se aflorava.

Luiz e Leandro começaram a se encarar com desejos de vingança, um ódio explícito os invadia de modo fremente...disputavam Verdanna veladamente e ali no casarão isso ganhou um furor inclemente, havia sangue em seus olhos, se atracaram num ímpeto de loucura, se socavam e proferiam impropérios em altos brados.

Maria e Fábio tentavam em vão separá-los, mas, um casal que estava num nicho ao lado se aproximou e começou a acariciá-los e esqueceram dos briguentos, se deixando invadir pelo desejo abrupto que os invadia. Verdana levantava a saia e cantava como se uma Diva fosse e lançava olhares gulosos de cabaré aos frequentadores ..sua língua passeava pelos lábios de forma sensual e suas mãos invadiam certas partes suas vagarosamente, parecia estar em transe.

Outras pessoas se aproximaram dos amigos, se envolvendo na briga e nos acessos vampirescos e sexuais, até que um badalar de sinos interrompeu aquele surto surreal. 

As pessoas foram se afastando, se dirigindo aos toilletes para verificar os estragos, se compondo da melhor maneira possível.

Os sentimentos dentro de todos eles se confrontavam, foi um surto de loucura inexplicável, os amigos apenas queriam sair daquele lugar.

O pacto de segredo não esboçado, fortificou a amizade entre eles, as marcas deixadas na noite renderiam muitas explicações. Durante o caminho de retorno às suas casas, criariam as suas mentiras, pois a verdadeira história, não era uma opção. A certeza em suas mentes, era de que jamais pisariam sequer na calçada daquele casarão...mas, quando ouviam um badalar de sinos...




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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 12/10/2020
Reeditado em 12/10/2020
Código do texto: T7085562
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