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O Último Prego do Caixão (3º Trecho)
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O Último Prego do Caixão (3º Trecho)
Belial: “Demônio adorado pelo povo de Sidon.
O inferno jamais recebeu espírito mais dissoluto,
mais sórdido, mais imbuído do vício pelo próprio vício.
Sua alma é hedionda”
Dicionáio Infernal
Kuzaliwa upya: Renascido
O movimento nas duas únicas estradas que levavam àquela "fazenda" nos arredores do município de Suzano se intensificara absurdamente, com veículos chegando em comboios que nem mesmo o terreno acidentado e a incessante chuva eram capazes de conter — há meses aquele extraordinário evento era anunciado entre os membros mais prestigiados do Templo da Mãe Terra, alimentando não apenas grandes expectativas, mas também forte temor. Todos sabiam que jamais esqueceriam o que ali seria visto.
O próprio templo era de uma constituição assombrosa: circular, erguido com blocos de rocha sólida, encravado no interior do solo e escondido pela vegetação alta da floresta. Era como adentrar o seio da Mãe Terra, diriam.
Após uma discreta entrada e um extenso corredor paramentado com nichos retangulares guarnecidos de grossas velas, sentia-se o declive do piso, encaminhando-se lentamente para as profundezas, recaindo num esplendido anfiteatro flaviano sustentado por colunas jônicas trançadas em mármore branco e negro e paredes douradas, também revestidas com nichos e velas. Ao chegar, os membros dispersavam-se pelas arquibancadas em travertino polido, voltadas para o centro recoberto de madeira escura e lustrosa. Ao alto, uma cúpula dantesca replicava a noite, soturna, salpicada de miúdos olhos imitando estrelas.
Aquele era o templo-mor, reservado somente às comemorações mais honrosas dos seguidores da Mãe Terra.
Libertadoramente claustrofóbico.
(…)
O local encontrava-se repleto de pessoas e outras mais que se achegavam à procura de acomodações, quando a iluminação sutilmente diminuiu e a imponente figura de Kuzaliwa upya irrompeu de um imenso par de portas aos fundos, infligindo tão súbito e profundo silêncio que foi possível ouvir o ranger de seus sapatos na madeira, o terno semi brilho prata destacando-se à luz de um holofote direcionado exclusivamente à sua passagem.
Imperioso, reverenciado.
Kuzaliwa upya exalava poder de muitas formas — e à sua visão, pessoas começaram a tremer num misto de admiração e medo.
Altivo, caminhou até o centro do palco e subiu numa estrutura quadrada cujas laterais recobriam-se de cetim escarlate. Esquadrinhou o público, nitidamente satisfeito com a mescla de sentimentos que despertava, enfim retirando seu habitual chapéu panamá e executando uma dramática mesura.
— O tempo urde lá fora, bem aventurados, castigando nossa Mãe Terra pela audácia de sua revelação! — proferiu, o tom encorpado exprimindo segurança e convicção. — Mas não temeis, porque hoje vocês conhecerão a verdadeira face de Belial e saberão com quem estão lidando… — sua voz alteou —, para que assim possam dominá-lo e fazer dele o seu escravo.
Um burburinho se formou entre os espectadores. Alguns soluçavam nervosos, outros davam-se as mãos procurando mútuo alento, enquanto a grande maioria se mantinha estática, expectante, os olhos vidrados parecendo magnetizados pela presença do homem.
— Os mais sábios diriam que estou enganado… — retomou, passando a caminhar pela estrutura, as mãos enfatizando em gestos suas palavras — e talvez estejam certos, afinal há muitas faces no Mal… porém, ainda assim, afirmo que esta é a pior delas… E o digo não apenas pela imediata perturbação causada aos nossos sentidos, mas por ela ser capaz de despertar em nós a compaixão. — Abriu uma pausa, entrelaçando as mãos atrás das costas e lançando um olhar ameaçador à platéia. — Mas advirto que aquele que por tal sentimento for possuído, também o estará sendo pelo Enganador… Bem aventurados, se querem se fortificar no veneno da víbora, convém livrar-se da sagacidade de suas presas.
Kuzaliwa prosseguiu numa impecávelretórica, até que lentamente uma voz infantil passou a ser ouvida, despertando a atenção dos espectadores. Logo uma estranha confusão se formou, fazendo uns olharem para os outros e em redor à procura da fonte do choro, que ao longo dos minutos se intensificava e causava mais comoção.
— Mamãe, cadê você? — A voz era abafada, repleta de angústia.
— Procurem, procurem…procurem! — instigou Kuzaliwa, seu insidioso sorriso alargando-se numa expressão de sórdido contentamento. — Vamos! Vamos! Procurem o quanto quiserem, mas nada irão encontrar!… E sabem por quê?
Todos se voltaram num brusco movimento, girando suas cabeças como se seus corpos tivessem congelado na posição em que estavam.
— Sabem ? — ratificou, descendo compassadamente da estrutura e ficando ao lado dela. — Por que este choro não vem de uma criança e sim de uma das mil formas daquele que chamamos o Demônio Branco… Um ser bestial que mesmo à nossa frente não conseguimos crer que ele exista! Vejam!
Dizendo isso, puxou o cetim que recobria as laterais da estrutura, descobrindo uma jaula fortificada contendo um garotinho que tampava os olhos por causa da súbita claridade, o corpinho totalmente nu e a pele tão branca que era possível ver o traçado das veias.
Surpreendida, a platéia suspirou horrorizada; mulheres se abanavam, algumas desmaiaram, homens se congelaram numa muda expressão de espanto, outros desabaram sentados nos assentos.
— E isso não é tudo... Este pequeno demônio reserva-nos ainda muito mais.
Aos poucos, chorando, o infante foi se acostumando à luz e retirando a mão da frente do rosto, causando gritos de terror e espanto, pois seus olhos eram tão grandes e vermelhos que pareciam duas esferas de sangue.
— Onde está minha mãe? — perguntou aos prantos.
Kuzaliwa virou-lhe as costas, dirigindo-se à platéia.
— Eis a inocência de sua face, bem aventurados… mas não se enganem, não deixem que ela amoleça seus corações, apenas apeguem-se à ideia do que este ser infernal lhes pode oferecer… O que acham de começar com o lance de cem mil?
O próprio templo era de uma constituição assombrosa: circular, erguido com blocos de rocha sólida, encravado no interior do solo e escondido pela vegetação alta da floresta. Era como adentrar o seio da Mãe Terra, diriam.
Após uma discreta entrada e um extenso corredor paramentado com nichos retangulares guarnecidos de grossas velas, sentia-se o declive do piso, encaminhando-se lentamente para as profundezas, recaindo num esplendido anfiteatro flaviano sustentado por colunas jônicas trançadas em mármore branco e negro e paredes douradas, também revestidas com nichos e velas. Ao chegar, os membros dispersavam-se pelas arquibancadas em travertino polido, voltadas para o centro recoberto de madeira escura e lustrosa. Ao alto, uma cúpula dantesca replicava a noite, soturna, salpicada de miúdos olhos imitando estrelas.
Aquele era o templo-mor, reservado somente às comemorações mais honrosas dos seguidores da Mãe Terra.
Libertadoramente claustrofóbico.
(…)
O local encontrava-se repleto de pessoas e outras mais que se achegavam à procura de acomodações, quando a iluminação sutilmente diminuiu e a imponente figura de Kuzaliwa upya irrompeu de um imenso par de portas aos fundos, infligindo tão súbito e profundo silêncio que foi possível ouvir o ranger de seus sapatos na madeira, o terno semi brilho prata destacando-se à luz de um holofote direcionado exclusivamente à sua passagem.
Imperioso, reverenciado.
Kuzaliwa upya exalava poder de muitas formas — e à sua visão, pessoas começaram a tremer num misto de admiração e medo.
Altivo, caminhou até o centro do palco e subiu numa estrutura quadrada cujas laterais recobriam-se de cetim escarlate. Esquadrinhou o público, nitidamente satisfeito com a mescla de sentimentos que despertava, enfim retirando seu habitual chapéu panamá e executando uma dramática mesura.
— O tempo urde lá fora, bem aventurados, castigando nossa Mãe Terra pela audácia de sua revelação! — proferiu, o tom encorpado exprimindo segurança e convicção. — Mas não temeis, porque hoje vocês conhecerão a verdadeira face de Belial e saberão com quem estão lidando… — sua voz alteou —, para que assim possam dominá-lo e fazer dele o seu escravo.
Um burburinho se formou entre os espectadores. Alguns soluçavam nervosos, outros davam-se as mãos procurando mútuo alento, enquanto a grande maioria se mantinha estática, expectante, os olhos vidrados parecendo magnetizados pela presença do homem.
— Os mais sábios diriam que estou enganado… — retomou, passando a caminhar pela estrutura, as mãos enfatizando em gestos suas palavras — e talvez estejam certos, afinal há muitas faces no Mal… porém, ainda assim, afirmo que esta é a pior delas… E o digo não apenas pela imediata perturbação causada aos nossos sentidos, mas por ela ser capaz de despertar em nós a compaixão. — Abriu uma pausa, entrelaçando as mãos atrás das costas e lançando um olhar ameaçador à platéia. — Mas advirto que aquele que por tal sentimento for possuído, também o estará sendo pelo Enganador… Bem aventurados, se querem se fortificar no veneno da víbora, convém livrar-se da sagacidade de suas presas.
Kuzaliwa prosseguiu numa impecávelretórica, até que lentamente uma voz infantil passou a ser ouvida, despertando a atenção dos espectadores. Logo uma estranha confusão se formou, fazendo uns olharem para os outros e em redor à procura da fonte do choro, que ao longo dos minutos se intensificava e causava mais comoção.
— Mamãe, cadê você? — A voz era abafada, repleta de angústia.
— Procurem, procurem…procurem! — instigou Kuzaliwa, seu insidioso sorriso alargando-se numa expressão de sórdido contentamento. — Vamos! Vamos! Procurem o quanto quiserem, mas nada irão encontrar!… E sabem por quê?
Todos se voltaram num brusco movimento, girando suas cabeças como se seus corpos tivessem congelado na posição em que estavam.
— Sabem ? — ratificou, descendo compassadamente da estrutura e ficando ao lado dela. — Por que este choro não vem de uma criança e sim de uma das mil formas daquele que chamamos o Demônio Branco… Um ser bestial que mesmo à nossa frente não conseguimos crer que ele exista! Vejam!
Dizendo isso, puxou o cetim que recobria as laterais da estrutura, descobrindo uma jaula fortificada contendo um garotinho que tampava os olhos por causa da súbita claridade, o corpinho totalmente nu e a pele tão branca que era possível ver o traçado das veias.
Surpreendida, a platéia suspirou horrorizada; mulheres se abanavam, algumas desmaiaram, homens se congelaram numa muda expressão de espanto, outros desabaram sentados nos assentos.
— E isso não é tudo... Este pequeno demônio reserva-nos ainda muito mais.
Aos poucos, chorando, o infante foi se acostumando à luz e retirando a mão da frente do rosto, causando gritos de terror e espanto, pois seus olhos eram tão grandes e vermelhos que pareciam duas esferas de sangue.
— Onde está minha mãe? — perguntou aos prantos.
Kuzaliwa virou-lhe as costas, dirigindo-se à platéia.
— Eis a inocência de sua face, bem aventurados… mas não se enganem, não deixem que ela amoleça seus corações, apenas apeguem-se à ideia do que este ser infernal lhes pode oferecer… O que acham de começar com o lance de cem mil?
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