Leitor,
Quando descobri o cadáver insepulto dessas histórias (retorcido e jogado num canto escuro de minha mente), imaginei que os deveria recolher e deitá-los sobre um punhado de páginas, pois assim me livraria deles — nada mais!
Sou amante incondicional de histórias de horror e há muito minha imaginação sussurra-me os nomes e peripécias destes cadáveres. Sei de sua afeição por este gênero literário e, assim como eu, já deve ter lido as mais diversas facetas do imaginário humano.
Reconheço que algumas são absurdas, capazes de causar extremo desconforto físico e mental em pessoas sensíveis a este gênero — talvez marginalizado, mas tão apreciado por nós — e por anos lutei para mantê-las trancafiadas, porém chegou um momento que não mais consegui: fruto de medos cotidianos ou às vezes mitos enraizados à mente humana, elas me assombram a alma. São histórias que gemem como fantasmas obscuros, se debatendo ensandecidos no interior de meu cérebro, querendo sair, clamando para também assombrar vidas alheias.
Meu intuito é somente diverti-lo com a leitura de minhas histórias, porque sei que você é suficientemente racional para distinguir a ficção da realidade. Mas e os leitores desprecavidos? Tenho profundo receio quanto aos sentimentos que poderei despertar… talvez me odeiem para o resto da vida após ler o que tenho para narrar.
Ainda assim, prossiga por sua conta e risco. Reservo-me ao direito de apenas assistir o desembestar da carruagem.
Fico por aqui... e saiba que estarei aguardando ansioso por sua resposta.
A única coisa que lhe peço é sigilo quanto à minha identidade e localização, pois ainda tenho muitos cadáveres a desenterrar — e você bem sabe: quando menos testemunhas, melhor.
(Quem dera eu escrever algo assim. Ele foi escrito a pedido de um amigo que muito aprecia meus contos de terror.)
