O QUINTO CORPO DA COVA (famílias...)

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'Não era o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro, tampouco o quarto corpo na cova e sim o anterior ao sexto, o sétimo seria de Luiz...'


 
Silvano foi o primeiro ou pelo menos o que sobrou dele depois do acidente de carro, Leandro foi o segundo, bem...há controvérsias, pois sua esposa afirma até hoje que o órgão sexual não era dele, mas, as digitais confirmaram a identificação, estavam tão afastados um do outro na época da morte dele num incêndio, que talvez estivesse confusa com o que via ou sua memória já estivesse entre outras pernas, vá se saber. Augusta foi o terceiro, enterrada sob o prantear de tantos homens que seu marido Olavo ficou encafifado com a situação, mas, deixou a morta em paz.  Se ele dormiria de lado ou envernizaria os chifres, ficou selado à boca pequena entre os familiares, mas, entre as amigas dela foi papo para meses. Maria foi o quarto, velada e sepultada apenas por sua filha Martha, sem lágrimas, apenas respeito por ela ser sua genitora, fora abandonada muito cedo por ela que preferiu esconder uma filha do marido rico e só lhe pediu perdão em seu leito de morte. A cova esperava o quinto corpo, mas, Israel estava difícil de resolver partir desta para melhor, resistia aos maus tratos e doses homeopáticas de veneno que seu filho mais novo Antonio, se encarregava de administrar, louco pela herança que receberia, mas, o pai tinha uma saúde de ferro e apesar de estar beirando a senilidade, não sucumbia ao intenso mal estar que volta e meia o fazia cambalear e vomitar. Fábio, o médico da família sempre o restaurava para a decepção do rapaz.

Antonio era ambicioso e gastador demais, nunca ouvia os conselhos da família e aos vinte anos e onze meses, não queria esperar os vinte e um para colocar a sua mão na parte da fortuna que lhe caberia, precisava acelerar a partida do pai, só então, ele receberia a sua parte e também a parte devida por herança de morte de Israel, mas, precisava ir com calma, pois apenas ele, o pai, um cuidador e uma governanta moravam no casarão e eles deviam tudo à sua família, jamais seriam culpados se alguma coisa acontecesse com Israel, lhe eram fiéis até mesmo mais do que um cão. Só que Israel não parecia pretender partir tão cedo apesar dos setenta anos. As doses de veneno administradas junto com os medicamentos do pai eram bem pequenas, para que ele fosse sucumbindo aos poucos, mas, para Antonio aquilo já estava demorando demais e ele já estava com uns parcos vinténs na conta, resolveu então, aumentar as doses batizando também as refeições do pai e por dentro rezava, para que o Dr. Fábio não desconfiasse de nada e o pai partisse logo, engordando a sua conta e também lhe libertando dos cuidados com ele, Antonio era um escroto, imoral e sem qualquer sentimento que não vingasse algum vil metal.

Como os justos permanecerão na Terra, num instante de distração, a governanta ao servir o jantar daquela noite, trocou sem querer os pratos de sopa, colocando o de Israel à frente de Antonio. Vale uma explicação, as sopas na casa eram servidas sobre croutons de pão e os do prato de Israel já haviam sido embebidos de veneno, o fim de Antonio foi dolorido, pois com a vida de esbórnia e luxúria que levava, não tinha a resistência do pai que sendo um caixeiro viajante que enricou, sempre preservara a saúde, assim sendo, o veneno agiu ferozmente em Antonio e o Dr. Fábio não conseguiu reverter o quadro. Antonio desceu a cova com uma palidez esverdeada e um fiapo de gente, sofreu bastante antes de bater as botas. O coveiro estranhou que depois de fechar a sepultura, o terreno estava quente, talvez o demo já estivesse levando sua alma para viagem.  Mais um corpo foi depositado, o quinto. Já Israel, o sexto, partiu sorrindo dois anos depois de causas naturais. 

Luiz o bastardo de Israel, ainda não conhecido pela família. Sem saber já tinha moradia futura, o sétimo...mas, quando o testamento fosse aberto, todos se surpreenderiam, isso fica para uma outra época, Luiz é muito jovem ainda e em sua distante propriedade rural, não faz ideia do que o futuro lhe reserva...



 

* Imagem - Fonte - Google
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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 22/06/2020
Reeditado em 23/06/2020
Código do texto: T6984903
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