DRAMAS E TRAMAS (terror/atemporal)
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‘Tantas versões para uma mesma história, mas, a ampulheta do tempo segue seu curso, independentemente da nossa vontade’
Luiz Cláudio era um homem maduro e jovial, mente criativa, corpo forte, sempre ligado às coisas rurais. Seu sítio próximo ao Município de Três Rios era simples e encantador, tinha um pouquinho de vacas, cabras e cavalos, plantação de milho, hortaliças, batatas e aipim. Praticamente o sítio se pagava com a venda do excedente. No comércio na cidade mantinha uma venda que auxiliava no sustento da família, seu primo Celson e a esposa Verdana uma adorável moça administravam a venda, acompanhado de perto por ele.
Casado com Marta linda mulher bem brejeira, dois filhos Leandro e Aila e dois cães labradores cujos nomes eram, Branca e Tufão, a fêmea era dócil e vigilante, já o macho era um azougue e tinha suas próprias vontades, mas, ambos eram fidelíssimos aos seus donos, uma família feliz e harmoniosa, mas, não foi assim nas gerações anteriores, soube dessa história por um idoso capataz que trabalhou com o bisavô de Luiz Cláudio quando era ainda um menino remelento e que só andava descalço, seu nome é Francisco, boa gente, moreno claro com rugas profundas marcando sua história no rosto fustigado pelo Sol serrano do Rio de Janeiro. Sua esposa Maria Augusta, que é bem mais jovem do que ele, auxiliava nos lapsos de memória, pois já ouvira diversas vezes pela boca de seu querido marido.
Nos idos de 1910 a família de Cristian era formada da mesma maneira, um casal com dois filhos e dois cachorros, pai Lucas, mãe Dolce uma italiana, filho mais velho Dilson e o mais novo Antonio, seus cães eram da raça pastor alemão Bóris e Luna extremamente inteligentes. O sítio era o mesmo, mas, focado apenas em gado leiteiro subsistência da família em leite, doces e queijos, assim criavam seus filhos. Uma relação de vida e não de afeto eram soturnos e calados. Os dias eram cáusticos, apenas lida e tarefas domésticas, Lucas usava a mulher Dolce e se esparramava num bordel infecto à beira da estrada com as mulheres da noite, sua Dolce apenas recebia seus restos de atenção, ela se apegava aos seus santos em silêncio e resiliência, tampouco seus filhos eram diferentes Dilson era focado unicamente no trabalho queria ser rico e se mandar daquele lugar, já Antonio esperava encontrar uma boa mulher, que lhe desse uns dois filhos e a alegria que ainda não conhecia. Intento difícil porque nunca saía do sítio, apenas o pai Lucas e o irmão Dilson faziam as vendas e entregas.
Um dia uma chance de fortuna se apresentou, com uma proposta de um fazendeiro interessado em contratar Dilson para ser seu capataz numa fazenda enorme no Amazonas, o que fez surgir cifrões e sonhos na mente do rapaz, nem pensou duas vezes, aceitou de pronto e viajou sem se importar com a família ou a falta que faria na lida no sítio. Por carta, poucos meses depois, receberam a notícia que contraíra malária logo em sua chegada e não resistiu aos vai e vens da febre, seus sonhos morreram no grande rio e o avô Cristian morreu de desgosto.
Com o excesso de trabalho, Lucas enveredou na bebida chegando sempre altas horas da noite, completamente bêbado, acordava Dolce e Antonio e os espancava sem motivo, desmaiava de cansaço e nos dias seguintes agia como se tudo fosse normal, Dolce e Antonio não mais suportavam aquela situação, numa tarde de lida com os bois e as vacas, um coice bem programado findou a existência pérfida de Lucas. Na verdade, Lucas posicionou o boi e o feriu de forma que o coice acertasse em cheio a cabeça do pai que estava abaixado no momento, para a mãe foi um acidente, nunca relatou esta história nem mesmo em confissão.
Não houve lágrimas de dor em seu enterro, apenas alivio. Como passou a fazer tudo no sítio com o auxílio da mãe, Antonio numa de suas idas à cidade para negociar os seus produtos, conheceu a filha de um comerciante o Sr. Estevão, um jovem português, sua filha moça se chamava Rosa e era um encanto, adorava poesia e era muito trabalhadeira, a atração entre os dois foi quase imediata, da corte até o casamento foi menos de dois anos. Tudo isso foi bom para ambas às partes, bom para os negócios e mais ajuda no sítio, pois Sr. Estevão mandou um sobrinho jovem e bem forte Silvano, para ajudar no sítio, afinal o rapaz precisava de teto e comida, a paga seria dividida por Antonio e Estevão, os negócios prosperavam e arriscaram no plantio de alfaces, couve e abóboras e andava rendendo uns bons cobres.
Pouco mais de uma depois Rosa gerou filhos gêmeos, um casal para a alegria de todos, lhes deram os nomes de Esther e Jorge, eram lindos de viver. Só que a mente de Antonio se corroía com o segredo da morte do pai, não por remorso, talvez por culpa mesmo, sentia que precisava ao menos se confessar ou se abrir com alguém, pensou bem, melhor com o Padre Walmor, quando ele soubesse o motivo que o levou a tal gesto, lhe daria a penitência devida e quem sabe Deus pudesse um dia perdoá-lo, pelo menos dividiria aquela carga. Assim fez, gastou os joelhos no genuflexório, mas, se sentiu mais leve. Na velhice os delírios de culpa fizeram Antonio sucumbir com loucura acabou os seus dias gritando.
- Perdão, perdão!
Mas, o Padre Walmor não mais existia e ninguém nunca soube deste segredo mórbido.
Nos anos trinta, a vida próspera no sítio de Esther, Jorge da idosa Rosa e no comércio de Sonya a madura esposa de Estevão que com o auxílio do sobrinho Silvano, seguia na lida. Só que Silvano andava se engraçando de forma abusiva e grosseira com Esther e Rosa e Jorge não estavam gostando nada disso, tampouco Sonya, que já pressentia problemas e muitos. Eram uma família, não queria que isso fosse arranhado, precisava conversar com ele sério e rápido.
Quando terminou o trabalho à noite, Silvano estava cansado e disse para a tia que iria fazer uma visita à Esther, então, Sonya resolveu que era o momento certo de lhe dar um conselho e um aviso, de que não se metesse com Esther, não era do agrado da moça, nem da família e nada que estremecesse aquela família seria bem vindo, que ele procurasse outra moça para se acertar e deu a conversa por encerrada, se recolhendo aos seus aposentos.
Silvano ficou possesso e foi se deitar tremendo por dentro, odiou a atitude da tia se metendo nos seus assuntos, ele faria o que quisesse sem interferência de ninguém. A insônia o consumia e resolveu aplacá-la de forma torpe. Invadiu o quarto de Sonya tapando sua boca e a cobrindo com seu corpo forte e após se satisfazer, torceu seu pescoço, partindo em seguida para o sítio de Rosa, Esther e Jorge.
Só Deus sabia com que intenções...
Ao chegar lá foi direto à janela do quarto de Esther, pulou e sem dar chance à moça violentou-a deixando-a desmaiada, foi em seguida para o quarto de Rosa e simplesmente a sufocou com o travesseiro, saiu pelo portão dos fundos, mas, deu de cara com Jorge que insone fumava um cachimbo de roça e vendo a pressa do sujeito, partiu atrás dele e foi uma briga danada, mas, Silvano levou a pior, ao cair deu com a cabeça na lâmina de uma enxada e morreu no mesmo instante.
Jorge entrou na casa aos gritos de socorro, acompanhado de seus cães labradores Rex e Ruiva, só então, viu a tragédia que havia acontecido, blasfemou aos céus, por instantes desacreditando de Deus, sua fé foi abalada até perceber que pelo menos Esther ainda estava viva, correu a socorrê-la.
Como já era tarde, começou a gritar pelo vizinho mais próximo o Sr. Aleixenko um gringo, que se prontificou em ir de charrete até a cidade buscar um policial, o médico Dr. Fábio e o Padre Alberto, além de aconselhá-lo a ficar cuidando da irmã, ela precisa de atenção e cuidado naquele momento sórdido e delicado, pobre moça estava arruinada para um casamento e eles nem sabia da desgraça que se abatera sobre Sonya.
Foi uma noite e madrugada muito longas, a morte não marca hora, mas, com Lucas foi um acidente, sobre Esther teve que juntar seus cacos e se consolar com o ventre, pois poucos meses depois descobriu estar grávida do estuprador, mas, sua fé era inabalável e o Padre Alberto era um bom conselheiro e sua governanta Iolanda uma boa companhia, as coisas estavam se ajeitando. Jorge se desdobrava na lida, buscou com o vizinho sitiante o Sr. Aleixenko dois ajudantes para que pudesse dar conta do sítio e do comércio da finada sogra Sonya.
A vida seguia seu curso apagando as dores, Esther deu a luz a um menino forte e graças a Deus se parecia com a mãe, pelo menos não haveria a chance de ser rejeitado, pelas memórias horrorosas em sua concepção não consentida. Jorge se enrabichou pela filha de Aleixenko, Sandra Rosa e com as bençãos da companheira amada de Aleixenko, Lucia, desse enlace nasceu Luiz Cláudio e a história que se segue, já se sabe no início deste conto, a ampulheta do tempo segue seu curso de areia de maneira inexorável.
Que futuros mais suaves sejam concedidos àquela família.
* Imagem - Fonte - Google
*imovelweb.com.br
Casado com Marta linda mulher bem brejeira, dois filhos Leandro e Aila e dois cães labradores cujos nomes eram, Branca e Tufão, a fêmea era dócil e vigilante, já o macho era um azougue e tinha suas próprias vontades, mas, ambos eram fidelíssimos aos seus donos, uma família feliz e harmoniosa, mas, não foi assim nas gerações anteriores, soube dessa história por um idoso capataz que trabalhou com o bisavô de Luiz Cláudio quando era ainda um menino remelento e que só andava descalço, seu nome é Francisco, boa gente, moreno claro com rugas profundas marcando sua história no rosto fustigado pelo Sol serrano do Rio de Janeiro. Sua esposa Maria Augusta, que é bem mais jovem do que ele, auxiliava nos lapsos de memória, pois já ouvira diversas vezes pela boca de seu querido marido.
Nos idos de 1910 a família de Cristian era formada da mesma maneira, um casal com dois filhos e dois cachorros, pai Lucas, mãe Dolce uma italiana, filho mais velho Dilson e o mais novo Antonio, seus cães eram da raça pastor alemão Bóris e Luna extremamente inteligentes. O sítio era o mesmo, mas, focado apenas em gado leiteiro subsistência da família em leite, doces e queijos, assim criavam seus filhos. Uma relação de vida e não de afeto eram soturnos e calados. Os dias eram cáusticos, apenas lida e tarefas domésticas, Lucas usava a mulher Dolce e se esparramava num bordel infecto à beira da estrada com as mulheres da noite, sua Dolce apenas recebia seus restos de atenção, ela se apegava aos seus santos em silêncio e resiliência, tampouco seus filhos eram diferentes Dilson era focado unicamente no trabalho queria ser rico e se mandar daquele lugar, já Antonio esperava encontrar uma boa mulher, que lhe desse uns dois filhos e a alegria que ainda não conhecia. Intento difícil porque nunca saía do sítio, apenas o pai Lucas e o irmão Dilson faziam as vendas e entregas.
Um dia uma chance de fortuna se apresentou, com uma proposta de um fazendeiro interessado em contratar Dilson para ser seu capataz numa fazenda enorme no Amazonas, o que fez surgir cifrões e sonhos na mente do rapaz, nem pensou duas vezes, aceitou de pronto e viajou sem se importar com a família ou a falta que faria na lida no sítio. Por carta, poucos meses depois, receberam a notícia que contraíra malária logo em sua chegada e não resistiu aos vai e vens da febre, seus sonhos morreram no grande rio e o avô Cristian morreu de desgosto.
Com o excesso de trabalho, Lucas enveredou na bebida chegando sempre altas horas da noite, completamente bêbado, acordava Dolce e Antonio e os espancava sem motivo, desmaiava de cansaço e nos dias seguintes agia como se tudo fosse normal, Dolce e Antonio não mais suportavam aquela situação, numa tarde de lida com os bois e as vacas, um coice bem programado findou a existência pérfida de Lucas. Na verdade, Lucas posicionou o boi e o feriu de forma que o coice acertasse em cheio a cabeça do pai que estava abaixado no momento, para a mãe foi um acidente, nunca relatou esta história nem mesmo em confissão.
Não houve lágrimas de dor em seu enterro, apenas alivio. Como passou a fazer tudo no sítio com o auxílio da mãe, Antonio numa de suas idas à cidade para negociar os seus produtos, conheceu a filha de um comerciante o Sr. Estevão, um jovem português, sua filha moça se chamava Rosa e era um encanto, adorava poesia e era muito trabalhadeira, a atração entre os dois foi quase imediata, da corte até o casamento foi menos de dois anos. Tudo isso foi bom para ambas às partes, bom para os negócios e mais ajuda no sítio, pois Sr. Estevão mandou um sobrinho jovem e bem forte Silvano, para ajudar no sítio, afinal o rapaz precisava de teto e comida, a paga seria dividida por Antonio e Estevão, os negócios prosperavam e arriscaram no plantio de alfaces, couve e abóboras e andava rendendo uns bons cobres.
Pouco mais de uma depois Rosa gerou filhos gêmeos, um casal para a alegria de todos, lhes deram os nomes de Esther e Jorge, eram lindos de viver. Só que a mente de Antonio se corroía com o segredo da morte do pai, não por remorso, talvez por culpa mesmo, sentia que precisava ao menos se confessar ou se abrir com alguém, pensou bem, melhor com o Padre Walmor, quando ele soubesse o motivo que o levou a tal gesto, lhe daria a penitência devida e quem sabe Deus pudesse um dia perdoá-lo, pelo menos dividiria aquela carga. Assim fez, gastou os joelhos no genuflexório, mas, se sentiu mais leve. Na velhice os delírios de culpa fizeram Antonio sucumbir com loucura acabou os seus dias gritando.
- Perdão, perdão!
Mas, o Padre Walmor não mais existia e ninguém nunca soube deste segredo mórbido.
Nos anos trinta, a vida próspera no sítio de Esther, Jorge da idosa Rosa e no comércio de Sonya a madura esposa de Estevão que com o auxílio do sobrinho Silvano, seguia na lida. Só que Silvano andava se engraçando de forma abusiva e grosseira com Esther e Rosa e Jorge não estavam gostando nada disso, tampouco Sonya, que já pressentia problemas e muitos. Eram uma família, não queria que isso fosse arranhado, precisava conversar com ele sério e rápido.
Quando terminou o trabalho à noite, Silvano estava cansado e disse para a tia que iria fazer uma visita à Esther, então, Sonya resolveu que era o momento certo de lhe dar um conselho e um aviso, de que não se metesse com Esther, não era do agrado da moça, nem da família e nada que estremecesse aquela família seria bem vindo, que ele procurasse outra moça para se acertar e deu a conversa por encerrada, se recolhendo aos seus aposentos.
Silvano ficou possesso e foi se deitar tremendo por dentro, odiou a atitude da tia se metendo nos seus assuntos, ele faria o que quisesse sem interferência de ninguém. A insônia o consumia e resolveu aplacá-la de forma torpe. Invadiu o quarto de Sonya tapando sua boca e a cobrindo com seu corpo forte e após se satisfazer, torceu seu pescoço, partindo em seguida para o sítio de Rosa, Esther e Jorge.
Só Deus sabia com que intenções...
Ao chegar lá foi direto à janela do quarto de Esther, pulou e sem dar chance à moça violentou-a deixando-a desmaiada, foi em seguida para o quarto de Rosa e simplesmente a sufocou com o travesseiro, saiu pelo portão dos fundos, mas, deu de cara com Jorge que insone fumava um cachimbo de roça e vendo a pressa do sujeito, partiu atrás dele e foi uma briga danada, mas, Silvano levou a pior, ao cair deu com a cabeça na lâmina de uma enxada e morreu no mesmo instante.
Jorge entrou na casa aos gritos de socorro, acompanhado de seus cães labradores Rex e Ruiva, só então, viu a tragédia que havia acontecido, blasfemou aos céus, por instantes desacreditando de Deus, sua fé foi abalada até perceber que pelo menos Esther ainda estava viva, correu a socorrê-la.
Como já era tarde, começou a gritar pelo vizinho mais próximo o Sr. Aleixenko um gringo, que se prontificou em ir de charrete até a cidade buscar um policial, o médico Dr. Fábio e o Padre Alberto, além de aconselhá-lo a ficar cuidando da irmã, ela precisa de atenção e cuidado naquele momento sórdido e delicado, pobre moça estava arruinada para um casamento e eles nem sabia da desgraça que se abatera sobre Sonya.
Foi uma noite e madrugada muito longas, a morte não marca hora, mas, com Lucas foi um acidente, sobre Esther teve que juntar seus cacos e se consolar com o ventre, pois poucos meses depois descobriu estar grávida do estuprador, mas, sua fé era inabalável e o Padre Alberto era um bom conselheiro e sua governanta Iolanda uma boa companhia, as coisas estavam se ajeitando. Jorge se desdobrava na lida, buscou com o vizinho sitiante o Sr. Aleixenko dois ajudantes para que pudesse dar conta do sítio e do comércio da finada sogra Sonya.
A vida seguia seu curso apagando as dores, Esther deu a luz a um menino forte e graças a Deus se parecia com a mãe, pelo menos não haveria a chance de ser rejeitado, pelas memórias horrorosas em sua concepção não consentida. Jorge se enrabichou pela filha de Aleixenko, Sandra Rosa e com as bençãos da companheira amada de Aleixenko, Lucia, desse enlace nasceu Luiz Cláudio e a história que se segue, já se sabe no início deste conto, a ampulheta do tempo segue seu curso de areia de maneira inexorável.
Que futuros mais suaves sejam concedidos àquela família.
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*imovelweb.com.br