Doutor Hassam Ayala
Existem mais mistérios entre o Céu e a Terra do que imaginam vossa vã filosofia.
Cora sempre foi uma mulher à frente de seu tempo, desde criança, sabia que havia vindo para esse mundo para algo especial, para realizar um grande feito.
Tinha longos cabelos pretos, olhos castanhos e não era muito alta, porém a elegância em pessoa, morava em Madrid a muitos anos, desde quando resolveu sair de casa, porém um grande acontecimento a arrastaria de volta para o Brasil, lugar que nunca gostou.
Cora sempre fora apaixonada por seu Pai, havia cultivado um grande respeito por aquele homem. O pai de Cora se chamava Adalberto Corte Real e era um empresário do ramo de alimentos, começara seus negócios cedo, fez uma pequena fortuna e com isso, pode dar luxo e conforto para sua esposa e sua única filha, a qual amava mais do que a própria vida.
Cora havia saído do Brasil para trabalhar e quando chegou em casa havia uma correspondência embaixo da porta, ela abaixou-se e pegou a correspondência e entrou em casa, deu um grande grito e caiu desmaiada.
Quando acordou, resolveu reler a carta, nela estava escrito que seu pai estava muito doente e pedia sua presença antes que partisse dessa para uma melhor. Cora não sabia o que era pior, a doença de seu amado Pai ou ter que regressar para o Brasil.
Um mês foi o suficiente para que Cora resolvesse tudo que estava pendente, alugasse seu apartamento e partisse rumo ao seu destino no Brasil, antes de sair do apartamento, a jovem teve um presságio que não foi muito bom, porém decidiu não dar importância a isso.
Ao chegar no Brasil, sua mãe estava lhe esperando no aeroporto, qual não foi a surpresa de Cora, ela não se dava com sua mãe, uma mulher ríspida, de semblante fechado, porém sempre cuidou muito bem de Cora e de seu Pai, mas o Amor não habitava em seu coração.
Durante todo o caminho do aeroporto até em casa, o silêncio foi o personagem principal, somente quando chegou em casa e Cora sentiu aquele cheiro de infância, foi que sua mãe decidiu lhe contar o que havia acontecido com seu amado Pai.
- Minha filha, seu pai está gravemente doente e temo que não chegue ao fim do mês.
- Não sei se fico surpresa por me chamar de filha ou por ser gentil comigo, coisa que você nunca fez questão de ser.
- Vamos nos acalmar e dar um tempo em nossas diferenças, a hora pede isso.
Seu Adalberto fora acometido de um câncer muito agressivo nos pulmões e os médicos haviam dito que não lhe restava muito tempo. Adalberto era um homem alto, branco de olhos verdes, cabelos raspados e longa barba que fazia questão de manter sempre alinhada, sempre usou roupas elegantes de cor preta.
- Amanhã mesmo, na primeira hora, irei ao hospital ver como Papai está, disse Cora.
Foi para seu quarto e não quis estender muito o assunto com sua mãe, pois sabia que se continuasse ali na sala, coisa boa não sairia.
No outro dia, na primeira hora Cora pegou o carro de seu Pai, um lindo Cadillac vermelho e foi para o hospital, quando chegou lá, pegou todas as informações onde seu Pai estava e foi de encontro a ele, seu coração batia muito forte, suas mãos estavam geladas e trêmulas e ela era a própria ansiedade para rever aquela pessoa que amava tanto e estava prestes a perder.
- Meu grande e velho Pai – disse Cora, quando entrou na enfermaria.
- Olha quem resolveu dar o ar da graça – respondeu Adalberto.
O pai de Cora estava sentando em uma confortável poltrona, sempre bem arrumado e Cora correu ao seu encontro lhe dando um longo e saudoso abraço e seu rosto, ficou banhado de lágrimas de saudades, de amor e de medo.
- Minha filha amada, quanto tempo não te vejo, quantas saudades estou de você, desde que foi embora, nunca mais lhe vi, só nos falávamos por ligações, que bom que voltou e ainda me encontrou vivo, sente-se que vou lhe contar tudo.
Depois de algum tempo, Cora estava a par da situação de seu pai e realmente as coisas não estavam nada bem para ele. Cora resolveu passar a noite com seu pai, afinal de contas, tinham muito para conversar e ela faria questão de passar cada minuto, cada instante com ele.
A noite, quando seu Adalberto estava cochilando e Cora estava na poltrona, entrou na enfermaria um jovem médico, de estatura média, cabelos curtos e sem barba e com o semblante muito feliz, deu boa noite e foi olhar o paciente, ministrou a medicação e seguiu seu caminho. Cora achou o jovem doutor muito lindo e decidiu que no outro dia iria colher informações.
Quando amanheceu o dia, Cora deu o café para o seu pai e disse que iria em casa, tomar um banho, comer algo e que logo logo estaria de volta, Adalberto olhou profundamente nos olhos da filha e não disse nada.
Ao chegar em casa, Cora se deparou com sua mãe que perguntou como seu pai estava, ela fez um rápido resumo, foi tomar um bom banho, preparou uma boa comida e quando estava terminando, seu celular tocou, era do hospital, seu coração gelou e ela voou pela porta, rumo ao hospital.
Passando pelo enorme corredor que havia antes de chegar na enfermaria, encontrou o médico que cuidara de seu pai na noite anterior e ele disse:
- Para onde vai, com tanta pressa, Cora.
- Indo ver meu pai, ele não está nada bem.
- Não se preocupe, ainda não chegou a hora dele – disse o médico.
Cora estava tão nervosa que nem reparou que não havia dito seu nome ao médico, mas achou muito estranho tudo o que ele disse.
Quando chegou na enfermaria, seu pai não estava nada bem, porém a Enfermeira chefe concedeu que Cora ficasse ao seu lado.
Quando toda a situação passou, Cora havia adormecido, sentada ao lado de seu pai e percebeu um vulto entrar no quarto, aproximar-se do leito de seu pai, parecia o jovem médico que abaixou-se perto do ouvido do seu pai, lhe disse alguma coisa e saiu do quarto. Assim que o médico saiu, os aparelhos que estavam ligados ao Senhor Adalberto começaram a disparar e a equipe médica entrou na enfermaria, Cora assustada, levantou-se e saiu da enfermaria e avistou o médico, parado perto de outra enfermaria e decidiu ir falar com ele, quando chegou perto, ele saiu andando, apressado e ela decidiu segui-lo, quando o alcançou, percebeu que sua face estava fechada e triste e acredite ou não, ele desapareceu em sua frente. Chocada com tudo aquilo, ela decidiu voltar para a enfermaria de seu Pai e quando chegou lá, deu um grande grito e novamente caiu ao chão.
Quando acordou, a Enfermeira Chefe estava ao seu lado e a amparou, infelizmente o Senhor Adalberto havia falecido. Cora chorou muito, lamentou muito a perca de seu amado pai, no funeral, não conseguia parar de chorar.
Alguns dias depois do falecimento de seu pai, Cora teve que voltar ao hospital para resolver algumas pendências e decidiu conversar com a enfermeira chefe sobre o tal médico.
- Sabe que gostei muito do atendimento desse médico – Disse Cora.
- O Doutor Lustosa? Perguntou a enfermeira chefe.
- Não não, o outro médico mais novo – Disse Cora.
Cora descreveu o médico para a enfermeira e ela fez uma cara de assustada.
- Acho que a senhora está equivocada – respondeu a enfermeira.
- Com toda certeza que não, conversei com ele e o vi entrar na enfermaria para cuidar do meu pai.
- Mas não é possível, isso deve ser um grande erro.
- Certeza que era ele e no dia que meu pai estava morrendo eu o vi entrar e sair da enfermaria e depois ele estava na enfermaria ao lado, fui atrás dele, porém, pasme você, ele desapareceu na minha frente e não estava com o semblante muito bom.
- O nome desse médico era Doutor Hassam Ayala, era um jovem médico oncologista aqui da nossa ala, muito competente, gentil e sempre fazia o máximo para amenizar a dor dos pacientes e de seus parentes, porém, um dia, o Doutor estava vindo para o seu plantão, quando chegou aqui, foi ver seus pacientes e foi para o repouso, algumas horas depois eu o encontrei morto, a autópsia revelou que ele havia morrido de causas naturais, mesmo sendo tão novo e desse dia para cá, muitas pessoas relatam que já viram o Doutor Ayala por ai, visitando seus pacientes e algumas, assim como a senhora, até conversam com ele, mas ele já não pertence a esse mundo, porém, todo paciente que ele visita, morre.
Ao ouvir esse relato, Cora ficou pasma com tudo aquilo e imaginou que o Doutor Ayala poderia ser um Anjo da Morte.
Quando estava saindo do hospital, para ir embora, Cora encontrou de novo com o Doutor Ayala e ele disse:
- Cora, não se preocupe, seu pai está em um ótimo lugar.
Virou as costas e continuou andando pelo longo corredor e desapareceu.