O SOLAR DE BELLE, o segredo mórbido de Estevão


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Quando as trigêmeas nasceram não houve festa tampouco alegria, Estevão perdeu sua linda Belle no mesmo dia, por complicações na hora do parto. Seu mundo desabou e suas três filhas não mereceram dele, sequer um olhar. Por mais que o médico Dr. Luiz Cláudio, o pediatra Dr. Olavo e amigos se desdobrassem não conseguiram que ele mudasse de ideia, estava mesmo resolvido a entregá-las para adoção.

Estevão e Belle viviam um para o outro e sem famílias, não via sentido continuar sem ela, entrou em profunda depressão e a assistente social, colocou assim que possível, as trigêmeas na casa de uma família acolhedora temporária. A assistente social Shila, tinha esperança de que quando passasse o primeiro momento de pesar, Estevão enxergasse o absurdo que seria doar as meninas. Elas eram lindas e saudáveis, um misto da aparência dos dois. Nem lhes deu nomes ou fez o registro das meninas, mas, o hospital conseguiu uma autorização especial no juizado e deu nomes para elas, a mais morena e agitada se tornou Verdana, a mais loirinha e manhosa virou Fernanda e a mais tranquila e fofinha recebeu o nome de Martha. Onde elas foram acolhidas, o casal era muito amoroso e logo foram muito acarinhadas.

Dois meses se passaram e Estevão estava muito magro e abatido, ainda não tinha retornado ao trabalho, mas, a sua indústria química tinha um ótimo administrador e amigo Leandro, que se sentia impotente no auxílio ao amigo, só se o internasse à força...o que ainda não estava descartado.

Leandro e a esposa Tereza não tinham filhas, apenas um lindo menino de nome Lucas que era a alegria de suas vidas e se Estevão não se recuperasse, se prontificariam a adotar Verdana, Fernanda e Martha. Visitavam as meninas constantemente e já nutriam amor por elas, até seu querido Lucas estava se apegando às pequenas, mas, Estevão ainda existia...

Mais três meses se arrastaram na vida de Estevão, ele se recuperou um pouco do luto dormente, voltou ao trabalho e não tocava no assunto das trigêmeas, como se elas nunca tivessem nascido, então, Leandro resolveu abordá-lo sobre a adoção das meninas.
A resposta foi tão seca que impressionou até o seu amigo de longa data.
- Eu desconheço ter tido filhas...

Leandro ainda insistiu e a segunda resposta foi ainda mais chocante.

- Se quer tanto as monstrinhas que me tiraram Belle, então, faça como quiser, só peço à Deus que Belle me espere, logo estaremos juntos...

Leandro colocou uma empregada infiltrada na casa de Estevão, Maria Augusta, pois a sua última resposta lhe pareceu o pré discurso de um suicida, só que não foi de grande ajuda. Leandro estava muito preocupado com o amigo, mas, sua mulher Tereza exultou e procurando Shila, começou os trâmites para a adoção. Para pular algumas etapas, andou pagando regiamente alguns favores.

Começou obras em casa, enveredou num vai e vem de lojas carregando seu Lucas pela mão numa alegria desenfreada, tudo o que desejava no turbilhão do momento era ouvir a palavra mamãe das três lindas boquinhas.

Quatro anos lentos se passaram, a amizade de Shila e Tereza se consolidou, Leandro era só alegria, quando ouvia 'papaizinho' daquelas boquinhas rosadinhas, se derretia inteiro. Estevão por sua vez, ganhou forças físicas, focou no trabalho, só que de Leandro e das alegrias, se afastou inteiramente. Falavam apenas das coisas da indústria química, nunca tocava no nome das meninas, nem sequer sabia a aparência que elas  tinham...
 
Ah! Se ele soubesse...


Verdana, Fernanda e Martha, cresceram saudáveis e lindas e enfim, chegou o dia de ir para a escolinha e um trio muito carinhoso e ansioso foi levá-las até lá. Um trio porque Shila e Tereza ficaram tão amigas que Leandro fez a proposta de ir morar com eles. Ela morava sozinha mesmo e os pais no interior, além do que, espaço era o que não faltava no casarão. Shila virou da família e foi primordial na criação das trigêmeas.

Eles estavam mais preocupados do que as meninas, que estavam eufóricas e curiosas com a novidade, com as cores e as outras crianças, só que para elas tudo era uma grande brincadeira.

Tereza, fez um comentário com Leandro em tom de voz normal, durante a convenção dos acionistas e Estevão por acaso escutou...
- Amor...você reparou como Verdana está cada vez mais parecida com Belle? Impressionante a semelhança...
- Até mostrei à Shila umas fotos de Belle de quando éramos meninas, ela também comentou que os olhos eram iguais, era uma linda menina...

Estevão ouviu a conversa sem querer, mas, a menção ao nome de Belle chamou sua atenção de forma doída. Vieram lembranças tantas, que o seu olhar umedeceu, então, saiu da sala antes que percebessem, há anos não se permitia pensar nela, agora aquela conversa ouvida arrebentava as amarras. Deixou a convenção sem proferir sequer algumas palavras.

Estevão arrastou seus antigos pesadelos até o cemitério, precisava pelo menos olhar pela última vez o rosto de sua amada Belle, ao fazer isso...desabou.

Desmoronou-se o paredão blindado que construíra em torno de suas dores e ele chorou copiosamente...e o bichinho da curiosidade começou a morder o seu pensamento. A menina Verdana...que aparência teria pensou...será que as outras rebentas eram parecidas com Belle também?

Essas perguntas borbulhavam em sua mente, nem entendia bem o porquê, desde a morte de Belle tentava apagar do pensamento que as meninas existiam, mas, a proximidade com Leandro, Tereza e Shila na indústria química, mesmo que um pouco menos frequente hoje em dia, acabava lhe transportando ao início de seu calvário e doía...

Os dias se passavam e a rotina de todos seguia seu curso, mas, Tereza jurava a Leandro que tivera a impressão de ver Estevão nas redondezas do colégio. Leandro respondia que devia ter sido só alguém parecido.

Perto do início das férias Verdana, Fernanda e Martha brincavam no horário do recreio e pelas grades Estevão se aproximou. A visão das características de sua amada Belle nas três meninas, o levaram ao passado. Verdana era Belle menina, Fernanda tinha seus cabelos arruivados sempre rebeldes e suas adoráveis sardinhas, além disso, reconheceria aquele narizinho em qualquer lugar, já Martha aparentava ter a mesma docilidade da mãe, o porte elegante e as orelhinhas pequeninas que portavam as pérolas de sua mãe, as mesmas que Estevão dera de presente à Belle no dia do casamento deles, róseas e raras, era a joia que ela mais adorava, Estevão estava de fato perdido, via nas meninas pedacinhos lindos de sua querida esposa.

Um pensamento louco começou a minar qualquer atitude de bom senso. Queria criar aquelas pequenas Belles...precisava preparar seu lugar de fantasia, o 'Solar de Belle' e contratar empregados fiéis, aquelas meninas eram suas Belles...'precisava' delas por perto...em pensamento algum, lhe vinha a palavra plural 'filhas'...possuí-las era uma necessidade...não amor.

Como tirá-las de Leandro, Tereza e da vigilante Shila seria um problema e que precisava ser resolvido, só não sabia como...ainda.

Contratando uma empresa de reformas, com contrato de confidencialidade muito bem pago, Estevão comprou uma casa longe da cidade, mas, adaptou toda ela para crianças da idade das meninas. Da mesma forma contratou Jadel e Sandra para que decorassem a casa com tudo que pudesse agradá-las e investiu num quarto de princesas enorme e protegido, qualquer criança acharia que estava sonhando com tanta beleza e encantamento.

Através de outra empresa contratou 03 babás de tempo integral, Esther, Aila e Norma, que deveriam residir na casa, em aposentos conjuntos aos das trigêmeas. Cercou o solar de seguranças bem treinados, Albuquerque, Fábio, Waldirano e Valença, que obedeceriam as ordens sem questionar. Restava agora completar o seu plano. Pensava...
- As rebentas ficariam satisfeitas

Ele nunca se referia às três meninas como sendo suas filhas.

Estevão seguiu sua rotina normalmente, nunca dava a perceber alguma alteração de humor ou conduta, mas, suas manhãs tinham outra rotina, vigiar o horário do recreio das trigêmeas. Percebeu também que na lateral do muro da escolinha havia duas barras de grades mais largas, uma criança magra passaria facilmente por ali e as meninas eram esguias.

No Solar de Belle, tudo já estava pronto e os empregados bem instruídos e pagos, sob os contratos de confidencialidade, alegou que as meninas eram maltratadas pela mãe e todos se condoíam dele e até o apoiavam, mal sabiam eles...

Um circo mambembe chegou aos arredores do solar e Estevão, viu uma oportunidade única se apresentar. Com muito jeito e astúcia convenceu Antonio, o anão do circo. Circo pobre, disse que era para alegrar três lindas menininhas e dinheiro tem um poder de convencimento inigualável. Combinaram de se encontrar na frente do solar no dia seguinte.

Estevão apareceu dirigindo um furgão cinza prata, extremamente comum naquela cidade, dentro dele doces, sanduiches e refrigerantes para as meninas. Chamá-las em surdina até a parte da grade escolhida foi bem fácil, pois quando viram o anão ficaram curiosas, mas, quando ele lhes mostrou um filhote de cachorrinho, elas sozinhas passaram pelo gradil e entraram no carro.

Partiram suavemente para não chamar a atenção das outras crianças ou da monitora do pátio da escolinha. No caminho levou o anão até próximo do circo, lhe entregou o pagamento e partiu direto para o solar.

A felicidade das meninas foi imensa, ao chegar a casa então, êxtase total, era como estar num lindo sonho, o encanto e os carinhos das babás contratadas, as contagiou. Brincavam com o cãozinho, com os novos brinquedos e bonecas, nem pareciam se lembrar de Tereza, Leandro e Shila. Estevão só via Belles correndo e brincando pela casa, Verdana era a cópia da mãe menina.

A tarde passou rápida e Estevão sorria apenas com a boca.

Avisou que iria fazer um suquinho bem docinho para que dormissem tranquilas e pediu às babás que preparassem as meninas  para dormir, o que foi prontamente atendido.

Logo que beberam o suco adormeceram, cansadas e pelo sonífero que Estevão colocara nas bebidas.

Estevão chamou cada babá a porta de seus respectivos quartos e  rapidamente espetou em seus pescoços um injeção de veneno letal e fulminante. O mesmo fez com cada um dos seguranças em sua ronda.

A cena encontrada no salão principal dias depois era pavorosa e revoltou a todos que ali estiveram.

Um quadro enorme do busto de Belle encostado na parede, Fernanda sem os ruivos cabelos e Martha sem suas pequenas orelhinhas, pois os mesmos foram arrancados e colados sobre a imagem de Belle no quadro. Verdana, como as irmãs, jazia morta ao pé do quadro envolvida no abraço de Estevão, também morto.

As marcas nos braços das meninas e a investigação mais tarde, revelou ser um veneno fabricado na própria indústria química dele, além da agulha espetada no braço esquerdo de Estevão.

Toda a cena encontrada era mórbida e os fatos apurados se juntaram às muitas suposições. Tereza e Shila jamais se recuperaram, viviam num sanatório aos gritos e momentos de total inconsciência. Já Leandro, que no dia fatídico, depois de muito chutar o corpo de Estevão numa fúria tresloucada, saiu andando sem rumo e ainda não se tem notícias do paradeiro dele.

O Solar de Belle foi posto abaixo e queimado, por pessoas que se sensibilizaram com a história acontecida lá, encerrando assim o absurdo que maculou a inocência das lindas trigêmeas Verdana, Fernanda e Martha.




*Imagem  - Fonte - Google
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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 27/03/2020
Reeditado em 29/03/2020
Código do texto: T6899036
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