O RETORNO DA RECÉM PARIDA (final da saga)- dedicado para a autora Iolanda Pinheiro
'Dizem que não há mal que sempre dure, nem mal que nunca se acabe...será'
Estevão, se mudou de Portugal para São Paulo para ficar mais próximo da família da esposa Vitoriah, estava para parir trigêmeos e sentia falta da mãe nessa hora, viajaram enquanto ela poderia empreender uma viagem daquelas, tudo correu bem graças à Deus e foram recebidos com muitos mimos, finalmente a filha pródiga estava de volta ao lar.
Como a família Ferreira era abastada, em menos de um mês estavam muito bem alojados numa mansão maravilhosa, com muito quartos. Vitoriah pediu a Estevão que providenciasse imediatamenter a contratação de três babás, não saberia lidar com tantas atribuições e tinha uma vida de rainha, sabia comandar uma casa, mas, nunca precisou 'colocar a mão na massa' por assim dizer. Outros serviçais já estavam no trabalho e conseguira uma governanta que também tinha experiência com bebês, nada mais completo, na realidade providencial, seu nome era Rosa Alves, a senhora contara sua macabra história, mas, trinta anos passados tudo aquilo já havia sido sepultado e não interferiria no seu trabalho na casa. Mal sabia Rosa que o mal sobrevivera.
Uma das babás Hellga, foi a mais bem avaliada, uma moça linda de olhos negros penetrantes e com um currículo impressionante, só era muito calada, o que não impedia a sua contratação. As outras duas eram mais velhas, Fernanda e Dolce, aparentemente muito amorosas, todas foram orientadas sobre suas atribuições por Rosa, entenderam que as três se revesariam no cuidado com três futuros reis da casa.
Três meses se passaram e Vitoriah começa a sentir as dores do parto e rapidamente Estevão a levou para o hospital onde a sua médica já lhe aguardava, ele se fez acompanhar de Hellga para qualquer eventualidade, no caminho o cheiro da placenta se soltando com algum sangue fazia Hellga tremer, Estevão imaginou que a moça nunca tivera uma experiência como aquela, mas, já estavam chegando à porta do hospital, ele era tão puro meu Deus!
O parto foi rápido pois ela tinha quadris largos e estava com excelente dilatação e os bebês eram lindos, dois meninos e uma menina para alegria de toda a família, perfeitos e saudáveis, como saíriam no dia seguinte, ele disse à Hellga, que pedisse ao motorista que a levasse para casa e na manhã seguinte ele retornasse, só que desta feita com o furgão com os bebês conforto e as três babás, a família crescera bastante, falou isso radiante de felicidade.
Num dos berços junto à Vitoriah sua filhinha chorava convulsivamente, uma enfermeira correu a atender e pegando a menina viu sangue em suas vestes, observando a menininha inteiramente, viu que lhe faltava um dedinho da mão esquerda e ela saíra perfeita do parto, como aquilo acontecera. A médica foi chamada e ninguém soube explicar o que acontecera, pobre criança e como explicar o inexplicável para o Sr. Estevão e sua esposa, com certeza a equipe toda seria dispensada e a indenização que o hospital teria que pagar, seria régia. A comoção era surreal, como aquilo pode ter acontecido, ninguém soube explicar. mas, alguém sabia.
Óbvio que Estevão foi procurar tratamento para a filha em outro hospital, enquanto isso na mansão a rotina frenética de cuidar de dois bebês seguia seu rumo, a menininha iria pra casa em dois dias.
Quando Rosa soube do acontecido quase desmaiou, sua mente voltou trinta anos atrás e a dor dentro do peito foi quase um infarto, aquilo não poderia estar acontecendo de novo, veio por dentro todos os horrores e dores que passara e esta memória a fez vigiar Hellga com olhos de águia e medo de gato chutado, Iolanda morrera era impossível que ela estivesse ali, mas, apenas Hellga estivera perto da criança além do casal. Seus instintos de sobrevivência estavam alertas.
As coisas iam correndo dentro da normalidade, apenas Hellga era vigiada de muito perto por Rosa Alves, estranhava nunca ter visto os dentes de Hellga, seua sorrisos eram sempre apenas de lábios entreabertos. A menininha foi cuidada e apesar de não ter sido possível implantar o seu dedinho, pois ele desapararecera, sem que nada tivesse sido explicado,mas, ela estava bem. As crianças eram lindas fortes e muito saudáveis. Um dia a outra babá a Dolce, fez um comente tosco perto de Hellga , dizendo que o menino Olavo o que nasceu primeiro, era esquisito pois chorava em soluços e parecia estar sempre engasgado e ela corria a toda hora, para ver se ele estava sufocando, só quer quando ela se aproximava ele sorria e isso lhe cansava. Hellga fixou seu olhar negro e penetrante sobre ela com um sorriso cínico, mas, não falou nada...Rosa também ouvira.
Poucas horas depois o menino Olavo se engasga e acreditando que era mais um blefe dele. Dolce nem foi olhar o menino e o mesmo acabou morrendo, foi o maior desespero na família, Hellga nem pareceu se abalar. Dolce foi demitida, processada, Fernanda ficou sobrecarregada, o leite de Vitoriah secou com desespero e uma ama de leite foi contratada, Rosa praticamente não dormia, parecia a sombra de Hellga pois as suas suspeitas estavam lhe queimando a alma, seria possível que o mal reencarnara, não estava querendo acreditar nisso, mas, estava a um passo de contar tudo para Vitoriah, só tinha medo de que a patroa achasse que ela estava impressionada, por causa da sua trágica experiência anterior, estava entre a cruz e a caldeirinha.
Naquele final de mês, as crianças já estavam começando com as comidinhas, a ama de leite foi dispensada e saiu dizendo para Rosa que achava Hellga muito estranha, se despediu e ao sair pelo portão da mansão foi atropelada por um carro e teve morte fulminante. Estevão depois deste episódio, mandou construir uma capelinha dentro do terreno, achava que aquele local precisava de oração e já se arrependia de ter deixado seu amado Portugal. Só que Vitoriah não queria ficar longe dos pais e como amava aquela mulher, assim fazia sua vontade haja reza então.
Quando a capelinha ficou pronta, Hellga adoeceu e pediu licença por três dias, o padre do bairro foi chamado para abençoar aquele cantinho abençoado, um intenso temporal desabou e após a celebração a capelinha pegou fogo, mas, graças à Deus ninguém ficou ferido. Todos imaginaram ter sido um raio, só que mais tarde chega Hellga bela e faceira, alegando que tinha melhorado...coisa estranha...
Estevão ficou tão impressionado que mandou derrubar o pouco que sobrou da construção, limpar aquela parte do terreno e cobrir de cal virgem. Parecia que uma maldição os estava perseguindo, nunca se apegara tanto às orações como nos mais recentes tempos.
Rosa terve certeza das suas dúvidas mais desesperadoras, quando pegou Hellga girando a cabecinha de um dos periquitinhos da casa, como se fosse a coisa mais normal do mundo, com um sorriso de dentinhos brancos anavalhados na face, a única coisa que pensou foi em proteger aquela família, correu até a cozinha pegou uma garrafa de álcool, um isqueiro e uma réstia de alho e empreendendo uma corrida desabalada, se joga sobre Hellga e cobrindo as duas com o líquido inflamável e acende o isqueiro...incendiando as duas. Com uma força que não soube de onde vinha, se manteve agarrada à Hellga até perder as forças, ambas sucumbiram nas chamas, enfim o mal fenecera.
** Se algum tópico ficar enevoado em sua compreensão, por favor leia os contos de terror - A Fome da Recém Parida 1 de 2 e 2 de 2.
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