O BAOBÁ QUE CHORA
 
O tronco de madeira escura, não era mogno, sequer jacarandá. Era sim um baobá claro, curtido e escurecido de sangue escravo, lascas de pele moravam em suas entrelinhas. Já cansado de ouvir tantos gritos e gemidos de dor, também definhava impotente.
 

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Maria Augusta, branca de pele e escrava de nascença, filha do feitor Leandro Severo com a escrava mulata Cecile Banto Severo, Severo como todos os serviçais e escravos daquela fazenda, não por ternura ganharam o sobrenome do seu senhor, era como uma marca de boi, impressa em papel apenas constavam, como propriedade dele.

Num certo dia de labuta árdua na lavoura e de lavagem do casarão, a submissa Maria Augusta conhece Olavo, negro forte comprado recentemente e que serviria como cavalariço na propriedade, um verdadeiro deus de ébano, já primeira troca de olhares foi paixão à primeira vista, só que a relação foi se estreitando, estreitando e mesmo às escondidas, Leandro Severo descobriu. Embora Maria Augusta fosse sua filha, seu desejo sobre ela aguardava silente, até se sentir traído com a atenção do negro sobre ela, o pavio se acendeu e saraivada de chicotadas sobre o lombo de ébano foi épica e na frente de todos moradores, capatazes e escravos da fazenda. Olavo escapou da morte por um fio tênue como o de algodão, mas, as sequelas foram um olho a menos e feridas que praticamente o aleijaram, assim que melhorou foi vendido por uma ninharia para um mascate que passou pelo lugar, nunca mais Maria Augusta veria o amor de sua vida. Chorou por dias, minguava a olhos vistos e não esquecia a cena do espancamento do deus de ébano.
 
Depois de uns poucos meses, Leandro já não escondia seu desejo pelo moça, ela fugia de todas as formas possíveis, afinal, escrava ou não ela era filha dele. Só que no último dia da Primavera, onde as flores já estavam no auge da florada, Severo deflorou a moça perto do córrego atrás do casarão, morta de medo ela sequer esboçou um gemido, a dor rasgou suas partes mais íntimas e ela calou o menor resquício de voz. Foi largada nua sem uma palavra sequer, até a negra velha Aila Luanda Severo, socorrê-la. Demorou uma semana até que Leandro fosse procurá-la na senzala e a estuprou violentamente outra vez, mas, desta feita ela cometeu um desatino. Perto dela estava um ancinho e com uma força que não soube de onde conseguiu cravou no peito dele e foi quase fatal. Levantou e fugiu pela mata atrás do casarão.
 
Sua fuga logo foi percebida e os capatazes com cães a encontraram e a colocaram no tronco, sem água ou comida por cinco dias. Assim que Leandro se recuperou um pouco, foi levado até o tronco e a quantidade de chicotadas que mandou dar em Maria Augusta, fez o baobá chorar até os anjos levarem a moça para prados mais tranquilos.




* Imagem - Fonte - Google
*escultura - mercado livre

 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 29/08/2019
Reeditado em 30/08/2019
Código do texto: T6732376
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