O PIOR PESADELO
O pior pesadelo.
“Boa noite, querido”; minha mãe me coloca na cama com um beijo na testa. Ela se encaminha para o armário já ciente da minha insegurança e o escancara para que eu possa ver que não há nada além de roupas, minhas botinhas de chuva e algum espaço vazio. Eu agradeço enquanto ela apaga as luzes e sai deixando a porta entreaberta.
O meu quarto é cheio de tralhas, bagulhos e todo tipo de objetos que formam sombras, mas não qualquer tipo de sombra. São daquelas que causam medo, aquelas que o perfil me fazem lembrar do trailer daquele filme “Frankenstein” que vi na televisão mais cedo.
Eu sei que é tolice ter medo de monstros. Afinal eu já tenho quase 8 anos , estamos em 1984 e nenhuma criança de hoje em dia tem medo deles. Os adolescentes estão todos ocupados demais jogando em seus vídeos-games Atari e ouvindo os novos discos de Bom Jovi ou Guns n’Roses como se fossem gente grande e entendessem o que a letra de suas músicas querem dizer de verdade. E as outras crianças? Bem, elas estão ocupadas fingindo ser adolescente, o que não deixa muito tempo para se preocuparem com monstros.
Mesmo sabendo de todas essas coisas é difícil ignorar o frio na barriga ao pensar no que pode ter embaixo da cama. Na criatura que pode tirar as garras pra fora no meio da noite e me puxar para a escuridão profunda, privando-me eternamente dos prazeres de uma juventude bem vivida, de crescer, conhecer alguém especial, construir uma família sólida.
Meu cérebro continua martelando essas ideias até minhas pálpebras começarem a pesar. Fecho meus olhos sem ao menos perceber o que estou fazendo, permito que as sombras tomem o lugar das imagens que até então eu tinha formulado em minha cabeça.
Acordo assustado em uma cama diferente. Olho ao redor e estudo os elementos desse novo quarto em que me encontro. Corro os dedos pela cabeceira esculpida em madeira. Sinto um cheiro doce de lavanda nos lençóis como se tivessem acabado de sair da máquina de lavar. Passo os olhos pela escrivaninha e os cravo na poltrona próxima à janela. Há algo de convidativo nela.
“CABRUM...” Um poderoso trovão percorre os céus e me ponho de pé com o susto. Caminho lentamente pelo cômodo a fim de ver o tempo lá fora. A visão que tenho é assustadora, pois um tom escuro de roxo tomou conta do céu antes estrelado que via da varanda do meu quarto. As nuvens eram tão escuras quanto grandes e raios avermelhados caíam no campo deserto abaixo. Não, deserto não. Havia uma única silhueta iluminada peles breves flashes de luz que a tempestade emitia. Algo macabro, esguio, com o peito largo e pés compridos como pranchetas.
Fosse o que fosse, avistou-me e disparou em uma corrida frenética sob quatro patas em direção à casa. Com a proximidade sou capaz de capturar traços de sua aparência. Pelo negro com fios longos, olhos inteiramente brancos e presas caninas de tamanho alarmante. Em outras palavras, era meu pior pesadelo.
Ouço as unhas arranharem a porta, a madeira ceder sob o peso de seu corpo. O ranger da escada congela meu sangue. Sinto meus pés fixos no piso, até que algo me puxa para uma poltrona. Olho para meus braços presos aos do assento, agora não mais convidativa, por meio de firmes cipós.
Mais rangidos, desta vez no corredor. Vejo a maçaneta girar e imagino seus dedos compridos e ossudos tocando-a do outro lado. “Clique” e ela está aberta. O monstro coloca seu focinho horrendo pela abertura e solta um rugido que arrepia todo meu cabelo.
-Mãe!” Tento gritar, mas minha voz está muda
Um passo adentro, sinto o odor do seu pelo encharcado pela chuva. Outro passo, seu hálito de carne fresca também já é perceptível. Mais um passo, estamos tão próximos que consigo enxergar meu reflexo nos seus olhos frios. O reflexo da minha pobre alma inocente.
_Mãaaaaaeeeeeeee!!!!!! – O grito parece encontrar seu caminho pela garganta e sai estridente pela minha boca.
Acordo em meio a uma poça de suor. As luzes estão acesas e a única coisa de anormal no quarto é o rosto preocupado da minha mãe enquanto tira minha temperatura. Foi tudo apenas um sonho, ou melhor, como eu disse antes, talvez o meu pior pesadelo.
Apago a luz, ajeito-me na cama e olho para a janela. Vislumbro um par de olhos verdes brilhando por uma fresta da cortina.
MATEUS SOUSA DE OLIVEIRA – 2º C – 2019.
O pior pesadelo.
“Boa noite, querido”; minha mãe me coloca na cama com um beijo na testa. Ela se encaminha para o armário já ciente da minha insegurança e o escancara para que eu possa ver que não há nada além de roupas, minhas botinhas de chuva e algum espaço vazio. Eu agradeço enquanto ela apaga as luzes e sai deixando a porta entreaberta.
O meu quarto é cheio de tralhas, bagulhos e todo tipo de objetos que formam sombras, mas não qualquer tipo de sombra. São daquelas que causam medo, aquelas que o perfil me fazem lembrar do trailer daquele filme “Frankenstein” que vi na televisão mais cedo.
Eu sei que é tolice ter medo de monstros. Afinal eu já tenho quase 8 anos , estamos em 1984 e nenhuma criança de hoje em dia tem medo deles. Os adolescentes estão todos ocupados demais jogando em seus vídeos-games Atari e ouvindo os novos discos de Bom Jovi ou Guns n’Roses como se fossem gente grande e entendessem o que a letra de suas músicas querem dizer de verdade. E as outras crianças? Bem, elas estão ocupadas fingindo ser adolescente, o que não deixa muito tempo para se preocuparem com monstros.
Mesmo sabendo de todas essas coisas é difícil ignorar o frio na barriga ao pensar no que pode ter embaixo da cama. Na criatura que pode tirar as garras pra fora no meio da noite e me puxar para a escuridão profunda, privando-me eternamente dos prazeres de uma juventude bem vivida, de crescer, conhecer alguém especial, construir uma família sólida.
Meu cérebro continua martelando essas ideias até minhas pálpebras começarem a pesar. Fecho meus olhos sem ao menos perceber o que estou fazendo, permito que as sombras tomem o lugar das imagens que até então eu tinha formulado em minha cabeça.
Acordo assustado em uma cama diferente. Olho ao redor e estudo os elementos desse novo quarto em que me encontro. Corro os dedos pela cabeceira esculpida em madeira. Sinto um cheiro doce de lavanda nos lençóis como se tivessem acabado de sair da máquina de lavar. Passo os olhos pela escrivaninha e os cravo na poltrona próxima à janela. Há algo de convidativo nela.
“CABRUM...” Um poderoso trovão percorre os céus e me ponho de pé com o susto. Caminho lentamente pelo cômodo a fim de ver o tempo lá fora. A visão que tenho é assustadora, pois um tom escuro de roxo tomou conta do céu antes estrelado que via da varanda do meu quarto. As nuvens eram tão escuras quanto grandes e raios avermelhados caíam no campo deserto abaixo. Não, deserto não. Havia uma única silhueta iluminada peles breves flashes de luz que a tempestade emitia. Algo macabro, esguio, com o peito largo e pés compridos como pranchetas.
Fosse o que fosse, avistou-me e disparou em uma corrida frenética sob quatro patas em direção à casa. Com a proximidade sou capaz de capturar traços de sua aparência. Pelo negro com fios longos, olhos inteiramente brancos e presas caninas de tamanho alarmante. Em outras palavras, era meu pior pesadelo.
Ouço as unhas arranharem a porta, a madeira ceder sob o peso de seu corpo. O ranger da escada congela meu sangue. Sinto meus pés fixos no piso, até que algo me puxa para uma poltrona. Olho para meus braços presos aos do assento, agora não mais convidativa, por meio de firmes cipós.
Mais rangidos, desta vez no corredor. Vejo a maçaneta girar e imagino seus dedos compridos e ossudos tocando-a do outro lado. “Clique” e ela está aberta. O monstro coloca seu focinho horrendo pela abertura e solta um rugido que arrepia todo meu cabelo.
-Mãe!” Tento gritar, mas minha voz está muda
Um passo adentro, sinto o odor do seu pelo encharcado pela chuva. Outro passo, seu hálito de carne fresca também já é perceptível. Mais um passo, estamos tão próximos que consigo enxergar meu reflexo nos seus olhos frios. O reflexo da minha pobre alma inocente.
_Mãaaaaaeeeeeeee!!!!!! – O grito parece encontrar seu caminho pela garganta e sai estridente pela minha boca.
Acordo em meio a uma poça de suor. As luzes estão acesas e a única coisa de anormal no quarto é o rosto preocupado da minha mãe enquanto tira minha temperatura. Foi tudo apenas um sonho, ou melhor, como eu disse antes, talvez o meu pior pesadelo.
Apago a luz, ajeito-me na cama e olho para a janela. Vislumbro um par de olhos verdes brilhando por uma fresta da cortina.
MATEUS SOUSA DE OLIVEIRA – 2º C – 2019.