O Vinho



Olhei no fundo dos olhos dele, estava sem compreender do que se tratava aquela comemoração. Ele sabe que eu sei que ele tem uma amante, e vou acabar com tudo isto de uma vez por todas.

Uma garrafa de um genuíno vinho do porto. Seria este o preço da hipocrisia. Seus olhos enganadores, como fui uma tola. Poderia ser em qualquer outro lugar, que colocaria um ponto final na nossa relação.

Mas Juan é muito inteligente, sabe que não sou do escândalo, logo esperarei o jantar, e em casa, colocarei este traidor para fora.

Estas íris, e as pupilas de um mentiroso, as expressões do sinismo afrontam a minha moral, agora com as provas poderei colocar este aproveitador no seu devido lugar.

Sou uma Dama da alta sociedade carioca, e este? Um pobre qualquer que eu dei o meu sobrenome, a minha fortuna e a minha vida.
Metade de uma taça de vinho de vinho para finalizar a relação e retomar minha vida.

— Amor, não era a hora do seu remédio?
O bom vivant, certamente querendo flertar com alguma dama deste restaurante, querendo que eu vá ao toalet. Mas vou, preciso retocar a maquiagem e compreender como tratar com o fim.

Ele olha para os lados e tenta deixar os belos cabelos cacheados ordenados, no pulso um belo rolex, que ofereci-lhe como presente de casamento ano passado.
— Casamento? Eu não aceito este tipo de vida em que preciso dividir o que é meu. Ele é o meu bibelot, ou era, arranjo outro...

— Boa lembrança querido, você não se importa de ficar sozinho? Como sou boba mesmo em ser gentil com um cafajeste como o lobo que coloquei dentro da minha casa. — Seria a primeira amante? A segunda? Quantas teria?

Deixei minha taça de vinho em cima daquela mesa, bem disposta de um belo restaurante italiano, o bom que o dinheiro pode comprar, seria a última taça de vinho com ele? Certamente. 

Já no toalet, depois de tomar meu remédio, olho-me no espelho, e retoco a maquiagem, precisava estar apresentável, para o gran finale, ele precisava entender que era ele que perderia. Os carros, os cartões e principalmente eu.

Por mais ingênua que sou, nossa separação será com comunhão de bens, um bom advogado colocará o aproveitador com uma mão na frente e outra atrás. É questão de quem paga, e o dinheiro que sou herdeira, o meu sobrenome, trás prestigio e confiabilidade.

Olhando-me ao espelho surge uma moça bem jovem, pede o batom emprestado. Pensei: "Que abuso? Onde esta novinha colocaria a boca para ter a ousadia de colocar o meu caro batom da Mac?" Sem saber dizer não deixo-a usar.

Quando aqueles lábios novos passam na sua boca aveludada o meu batom, fico a pensar na amante do meu marido. "Seria eu uma velha acabada, e ele precisaria ter suas noites de prazer na cama de uma ninfeta?"

— Você esta tão pensativa, disse a loira que aparentava ter uns 17 anos, com um vestido bem colado ao corpo.
Paro de olhar para a moça, realmente não era nada conveniente ficar comparando uma desconhecida com a minha algoz.

— Nada não querida, pode ficar pra você este batom, preciso voltar para a mesa que o meu marido esta esperando ansioso. Parece que precisava mentir para a sociedade que tinha um casamento de fachada, até mesmo para uma menina em um toalet qualquer.

Ao voltar a minha mesa, parecia que o meu marido estava arrumando a minha taça, pois mexia nela. Eu queria tomar logo aquele vinho e sair urgentemente daquele local, olhar aquela jovem no banheiro me fez compreender qual seria a minha vingança, meu próximo bon vivant, seria um garotão, só para a desforra.

Sentei na cadeira, olhava para ele, que parecia observar a taça de vinho, eu olhava a taça dele, um bom vinho isto era, o nosso último vinho em casa, lhe demonstraria toda a verdade, colocaria todas as cartas na mesa e terminaria a minha relação.

— Vamos embora, Juan, agora estava começando a ficar transtornada.
Ele com uma calma assustadora entrelaçou os dedos nas mãos e disse:

— Antes finalize a taça de vinho.

Foi o que eu fiz. Tomei aquele líquido em um gole só.O gosto me pareceu salubre e aos poucos minha visão começou a ficar turva, olhava na mesa da frente a loirinha com um velho, outras pessoas que parecia conhecer, o garçom e me veio a escuridão.



Quando abri os olhos estava em uma escuridão assustadora. "— Onde seria este local?" entendia que estava presa, e era uma caixa, a escuridão me sufocava. Comecei a gritar: — Me tire daqui, arranhava a tampa daquele local inóspito, tentava inutilmente me mover, estava deitada, e agora entendia do que se tratava, era um caixão eu estava dentro de um caixão.

Arranhava o teto daquele lugar que eu nunca imaginava estar. Tentava me desvincilhar de flores e de um tecido fino que me prendia a aquele lugar... "— Meu Deus me tire daqui!" Meu corpo foi enfraquecendo minhas pernas doiam de tanto bater e chutar, e entendi que era o fim.



Tempos depois por uma denúncia anônima, fizeram autópsia na Dama carioca que morreu de forma misteriosa. 

Um velho Senhor esperava a sua prostituta para uma noitada, e observou um jovem vistoso colocar algo na bebida da mulher, demorou dias para tomar coragem de denunciar, leu que a causa da morte da Dama era ataque cardíaco por causas desconhecida.

Na autópsia os legistas constataram ser um caso de envenenamento, somente não compreenderam os arranhados na tampa do caixão e os dedos machucados da Jovem Senhora.

 

Observação:
Inspiração para o conto,
Clipe da Avril Lavigne I Fell In Love With The Devil
Imagens pixabay e do clipe da Avril


Waldryano
Enviado por Waldryano em 31/07/2019
Reeditado em 06/08/2019
Código do texto: T6709141
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