GATO PRETO...rubis (terror/ódio)
Aqueles olhos seguiam Leandro por cada milímetro da casa, como vigias atentos. Não importava a hora do dia ou da noite, eram olhos que pareciam não dormir, sempre abertos e inquisidores. Iolanda sua irmã tinha verdadeiro ódio de gatos, Bóris compactuava do mesmo sentimento, sentia que ela em algum momento faria alguma coisa contra o seu dono, talvez ele não estivesse de todo errado...
Uma herança de família, era o foco das discussões entre os irmãos, únicos herdeiros de uma fortuna considerável em rubis, avaliada em alguns milhões de reais, mas, uma condição no testamento era de ficarem juntos, caso contrário, nenhum dos dois receberia nada, isso não era fácil de se resolver, eram Sol e Lua, água e azeite, um acordo entre os irmãos parecia impossível.
Leandro era um rapaz doce e atento aos progressos do mundo, acreditava piamente na humanidade, talvez usasse sua parte da fortuna em algo criativo, lucrativo para que pudesse multiplicando, ficar bem e ajudar outras pessoas. Já Iolanda, com seu espírito ganancioso, com certeza viveria no luxo por uns dois anos, pois esbanjadora inconsequente como era, torraria tudo em dois tempos, depois na sarjeta correria para os braços do Tio Cláudio, que perdoava todos os seus deslizes.
Como criar uma aliança entre eles era um desafio para a prima Sandra, advogada da família, administradora do espólio dos pais de Leandro e Iolanda, ela tentava encontrar um elo de ligação entre dois polos tão distanciados.
Sandra só não tinha percebido, que o negro Bóris era a única coisa que ligava os dois, um elo de olhos vigilantes e um ódio latente, pulsante, a ponto de explodir.
Quando Bóris foi adotado por Leandro, tornou-se seu fiel escudeiro, talvez por gratidão por sair das ruas e Leandro o amou à primeira vista, já Iolanda o odiou ao primeiro olhar, sentia aversão a gatos, mas , com Bóris era diferente, era como um sentimento ressabiado sempre alerta, esperando um bote a qualquer segundo. Por outro lado, Bóris tinha certeza que o bote viria pelo lado dela contra seu dono, era só uma questão de tempo, seus olhos pareciam câmeras de segurança, não lhe concedia nem mesmo o benefício da dúvida.
Iolanda queria aqueles rubis só pra si, porque dividir com um tolinho como o irmão, tão bondoso, afetivo, um tonto que gastaria o dinheiro amealhado com a venda dos rubis, com causas sociais, animais e com certeza muito pouco ficaria pra si. Ela não, já imaginava a mansão onde iria viver e dar altas festas que daria, as viagens que faria, as pessoas a quem se associaria, pois dinheiro chama dinheiro e isso Leandro nunca entendeu.
Sandra acabou tendo uma ideia, quem sabe conseguiria que vivessem numa mesma casa, com entradas separadas, mas, um mesmo imóvel? Conta conjunta, onde os pagamentos dos gastos só poderiam ser feitos com cheques assinados pelos dois. Essa solução foi aceita por Leandro facilmente, mas, Iolanda conhecendo bem a índole do irmão recusou veementemente aos gritos, foi um verdadeiro escândalo no escritório. Então, Sandra deu um ultimato, vocês tem quarenta e oito horas para encontrarem uma solução ou vou fazer a vontade de seus pais e doar todo o patrimônio para a caridade, valores iguais para as instituições indicadas por eles. Leandro nem parecia preocupado, mas, Iolanda surtava por dentro. Sua mente maquinava uma forma de acabar com o irmão.
A oportunidade apareceu num sábado...
Depois de entrarem um acordo com advogada, venderam a casa e compraram uma mansão que já tinha alas independentes, um achado naquela situação. Leandro e Bóris no andar de cima e Iolanda no andar de baixo, entradas separadas com comodidades similares, enfim paz, pensou Sandra...só que Iolanda não pensava assim na realidade, se livrar do irmão e de Bóris era sua meta. Só ainda não sabia como.
Seis meses depois, num sábado chuvoso em meio a uma festa regada à champanhe na parte da casa de Iolanda, Leandro muito puto da vida com o som ensurdecedor, desce para reclamar com a irmã, Bóris o seguia soturno.
Iolanda não estava afim de discutir, subiu as escadas arrastando o irmão consigo, Bóris seguia os dois com o pelo arrepiado. Ao chegarem no portão de ferro que dividia o casarão dos irmão, Iolanda obrigou Leandro a abrir o acesso. Na sala ela não poupou o irmão de ofensas e verdades, como detestava aquele cara e seu gato preto soturno, sentia-se ameaçada por ele. Cega de ódio, Iolanda arremessa Bóris com toda força contra o mármore que ladeava a lareira, dilacerando sua cabeça. Leandro vendo seu amigo com os olhos brilhantes vidrados, quase enlouqueceu, partiu para cima da irmã com os olhos fuzilando, não pensou nas consequências, agarrando Iolanda pelo pescoço a sufocou até seus olhos pularem das órbitas. Ao perceber o que tinha acabado de fazer Leandro mergulhado em remorsos, busca o atiçador de fogo da lareira e com um golpe mortal, enfia no próprio peito deixando a última opção do testamento dos pais, nas mãos da prima Sandra. Muita gente e muitos animais seriam beneficiados, triste fim de uma 'família'.
Com tantas arestas para aparar, Sandra contou com ajuda de Estevão um pesquisador de ONG's de apoio a crianças, idosos e animais e Alberto um corretor de imóveis. Quanto às instituições já determinadas no testamento pelos pais de Iolanda e Leandro, só aguardavam o repasse dos valores. Já o casarão seria vendido , parte pagaria as custas destes processos todos e os honorários de Sandra e seus auxiliares técnicos. O que foi até fácil, Leandro era muito querido por seu amor aos animais e seus pais também, quando o anúncio da venda apareceu logo logo apareceram vários pretendentes, mas quem acabou arrematando foi a própria Sandra, nem sabia bem o porquê, mas, queria preservar a memória de Leandro...já Iolanda, que queimasse no Inferno, ô moça asquerosa e mercenária, nunca ficaram bem esclarecidas as mortes dos pais deles, um casal esportista, cuidadoso e saudável, como poderiam ter morrido por um escapamento de gás no carro, enfim, não havia mais ninguém vivo para cobrar respostas. Sandra mandou fazer uma boa limpeza no casarão, liberou o acesso tornando um único imóvel, fez de seu o quarto de Leandro e como homenagem ao rapaz e seu fiel companheiro, manteve em sua mesinha de cabeceira uma foto emoldurada de Leandro e seu negro gato Bóris, só que conquistou com isso um singular problema. Sua governanta Fernanda lhe fez um pedido inusitado, que só ela limpasse aquele porta retrato, tinha a impressão que os olhos daquele gato se mexiam e a vigiavam...Sandra só ria, mas, atendia ao pedido, afinal Bóris era o protetor de Leandro, quem sabe agora não seria ela o seu novo foco...Descansem em paz...
Aqueles olhos seguiam Leandro por cada milímetro da casa, como vigias atentos. Não importava a hora do dia ou da noite, eram olhos que pareciam não dormir, sempre abertos e inquisidores. Iolanda sua irmã tinha verdadeiro ódio de gatos, Bóris compactuava do mesmo sentimento, sentia que ela em algum momento faria alguma coisa contra o seu dono, talvez ele não estivesse de todo errado...
Uma herança de família, era o foco das discussões entre os irmãos, únicos herdeiros de uma fortuna considerável em rubis, avaliada em alguns milhões de reais, mas, uma condição no testamento era de ficarem juntos, caso contrário, nenhum dos dois receberia nada, isso não era fácil de se resolver, eram Sol e Lua, água e azeite, um acordo entre os irmãos parecia impossível.
Leandro era um rapaz doce e atento aos progressos do mundo, acreditava piamente na humanidade, talvez usasse sua parte da fortuna em algo criativo, lucrativo para que pudesse multiplicando, ficar bem e ajudar outras pessoas. Já Iolanda, com seu espírito ganancioso, com certeza viveria no luxo por uns dois anos, pois esbanjadora inconsequente como era, torraria tudo em dois tempos, depois na sarjeta correria para os braços do Tio Cláudio, que perdoava todos os seus deslizes.
Como criar uma aliança entre eles era um desafio para a prima Sandra, advogada da família, administradora do espólio dos pais de Leandro e Iolanda, ela tentava encontrar um elo de ligação entre dois polos tão distanciados.
Sandra só não tinha percebido, que o negro Bóris era a única coisa que ligava os dois, um elo de olhos vigilantes e um ódio latente, pulsante, a ponto de explodir.
Quando Bóris foi adotado por Leandro, tornou-se seu fiel escudeiro, talvez por gratidão por sair das ruas e Leandro o amou à primeira vista, já Iolanda o odiou ao primeiro olhar, sentia aversão a gatos, mas , com Bóris era diferente, era como um sentimento ressabiado sempre alerta, esperando um bote a qualquer segundo. Por outro lado, Bóris tinha certeza que o bote viria pelo lado dela contra seu dono, era só uma questão de tempo, seus olhos pareciam câmeras de segurança, não lhe concedia nem mesmo o benefício da dúvida.
Iolanda queria aqueles rubis só pra si, porque dividir com um tolinho como o irmão, tão bondoso, afetivo, um tonto que gastaria o dinheiro amealhado com a venda dos rubis, com causas sociais, animais e com certeza muito pouco ficaria pra si. Ela não, já imaginava a mansão onde iria viver e dar altas festas que daria, as viagens que faria, as pessoas a quem se associaria, pois dinheiro chama dinheiro e isso Leandro nunca entendeu.
Sandra acabou tendo uma ideia, quem sabe conseguiria que vivessem numa mesma casa, com entradas separadas, mas, um mesmo imóvel? Conta conjunta, onde os pagamentos dos gastos só poderiam ser feitos com cheques assinados pelos dois. Essa solução foi aceita por Leandro facilmente, mas, Iolanda conhecendo bem a índole do irmão recusou veementemente aos gritos, foi um verdadeiro escândalo no escritório. Então, Sandra deu um ultimato, vocês tem quarenta e oito horas para encontrarem uma solução ou vou fazer a vontade de seus pais e doar todo o patrimônio para a caridade, valores iguais para as instituições indicadas por eles. Leandro nem parecia preocupado, mas, Iolanda surtava por dentro. Sua mente maquinava uma forma de acabar com o irmão.
A oportunidade apareceu num sábado...
Depois de entrarem um acordo com advogada, venderam a casa e compraram uma mansão que já tinha alas independentes, um achado naquela situação. Leandro e Bóris no andar de cima e Iolanda no andar de baixo, entradas separadas com comodidades similares, enfim paz, pensou Sandra...só que Iolanda não pensava assim na realidade, se livrar do irmão e de Bóris era sua meta. Só ainda não sabia como.
Seis meses depois, num sábado chuvoso em meio a uma festa regada à champanhe na parte da casa de Iolanda, Leandro muito puto da vida com o som ensurdecedor, desce para reclamar com a irmã, Bóris o seguia soturno.
Iolanda não estava afim de discutir, subiu as escadas arrastando o irmão consigo, Bóris seguia os dois com o pelo arrepiado. Ao chegarem no portão de ferro que dividia o casarão dos irmão, Iolanda obrigou Leandro a abrir o acesso. Na sala ela não poupou o irmão de ofensas e verdades, como detestava aquele cara e seu gato preto soturno, sentia-se ameaçada por ele. Cega de ódio, Iolanda arremessa Bóris com toda força contra o mármore que ladeava a lareira, dilacerando sua cabeça. Leandro vendo seu amigo com os olhos brilhantes vidrados, quase enlouqueceu, partiu para cima da irmã com os olhos fuzilando, não pensou nas consequências, agarrando Iolanda pelo pescoço a sufocou até seus olhos pularem das órbitas. Ao perceber o que tinha acabado de fazer Leandro mergulhado em remorsos, busca o atiçador de fogo da lareira e com um golpe mortal, enfia no próprio peito deixando a última opção do testamento dos pais, nas mãos da prima Sandra. Muita gente e muitos animais seriam beneficiados, triste fim de uma 'família'.
Com tantas arestas para aparar, Sandra contou com ajuda de Estevão um pesquisador de ONG's de apoio a crianças, idosos e animais e Alberto um corretor de imóveis. Quanto às instituições já determinadas no testamento pelos pais de Iolanda e Leandro, só aguardavam o repasse dos valores. Já o casarão seria vendido , parte pagaria as custas destes processos todos e os honorários de Sandra e seus auxiliares técnicos. O que foi até fácil, Leandro era muito querido por seu amor aos animais e seus pais também, quando o anúncio da venda apareceu logo logo apareceram vários pretendentes, mas quem acabou arrematando foi a própria Sandra, nem sabia bem o porquê, mas, queria preservar a memória de Leandro...já Iolanda, que queimasse no Inferno, ô moça asquerosa e mercenária, nunca ficaram bem esclarecidas as mortes dos pais deles, um casal esportista, cuidadoso e saudável, como poderiam ter morrido por um escapamento de gás no carro, enfim, não havia mais ninguém vivo para cobrar respostas. Sandra mandou fazer uma boa limpeza no casarão, liberou o acesso tornando um único imóvel, fez de seu o quarto de Leandro e como homenagem ao rapaz e seu fiel companheiro, manteve em sua mesinha de cabeceira uma foto emoldurada de Leandro e seu negro gato Bóris, só que conquistou com isso um singular problema. Sua governanta Fernanda lhe fez um pedido inusitado, que só ela limpasse aquele porta retrato, tinha a impressão que os olhos daquele gato se mexiam e a vigiavam...Sandra só ria, mas, atendia ao pedido, afinal Bóris era o protetor de Leandro, quem sabe agora não seria ela o seu novo foco...Descansem em paz...