A Noiva

 
Quem iremos atender hoje? Olhava para o relógio, precisava ser rápida. Pois gostaria de sair com o meu novo namorado. Ele era meio gordo antipático, porém, tinha boa pegada e era disto que me importava.

— Uma moça bem elegante, ela é bem bonita, sabia? A minha assistente queria de todos os modos contar sobre a vida das clientes, eu não gostava, preferia fazer o meu serviço; e só.

Nós duas sozinhas com a cliente, realmente, muito bonita e jovem. Olhei para a foto. Que belos traços. Peguei a minha bolsa de maquiagem. Acendi um cigarro e comecei o trabalho.

A minha assistente inexperiente não sabia controlar-se, logo, me deixou sozinha. Eu pedi para ela buscar a roupa que a cliente iria vestir.

Ela foi dizendo: — Num instante só.

Comecei a passar o pó no rosto da bela moça, fiquei feliz, pois era um achado uma cliente com tanta beleza. Olhei para o relógio. Cruel como sempre, passava depressa, precisava me arrumar também. Enquanto fazia a maquiagem dela, fazia a minha. A pele dela nova, a minha nem tanto. As marcas do tempo implacáveis e os pés de galinha também. Passei uma base, depois um prime. Nela caia bem. Nem mim, será? Olhei no espelho gostei do resultado. Era um momento especial, o meu novo namorado, merecia, a propósito: — Será que trouxe aquele perfume que impregna o ambiente todo. Precisava.

Olhei novamente para o relógio, estava quase na hora. O cigarro estava em bituquinha, que raiva não ter comprado outro maço.

A assistente, que parecia haver morrido, voltou com a roupa. Dentro de um plástico, um belo vestido de noiva.

Pensei: "Que bonito, será que eu ainda vestiria um vestido deste?" Tanto que queria, no entanto, a vida sempre deu uma rasteira em mim. Ela me olhou e disse:

— Credo tira isto.

Eu pensei: — Meu Deus que abusada, a maquiagem era de uma boa marca. Parecia que estava tirando com a minha cara aquela novata.

— De quem? Dela ou de mim?

— Claro que é de você, ela esta maravilhosa, olha a roupa que ela vai vestir! Um vestido de noiva!

Olhei para ela realmente estava deslumbrante com a maquiagem, os traços do rosto bem desenhados, e o rímel, passei bem certo, bem de leve, e a pele da moça ajudou bastante; Um pêssego. O batom de um rosinha irradiante para deixar ela irresistível. Precisava.

Olhei para o espelho tentando certificar que a ajudante estava com a razão ou não. Realmente agora olhando com calma eu estava uma espantalha.

— É guria, eu estou a própria Emília do sítio do pica pau amarelo.

Ela já esticando a roupa para vestir.

Eu olhei novamente para o relógio enquanto lavava o rosto tirando todo o meu esforço desnecessário. Estava realmente atrasada, este tempo que não para!

— Você termina com ela. Eu preciso me aprontar, vou sair com o boy novo.

— Eu? Com ela?

— Claro queridinha... Tá bom eu me apronto aqui mesmo. Seja rápida com ela aí. Ficou linda a maquiagem não é?

A novata toda desajeitada esticava a roupa vestindo na moça.

— Nem precisa abotoar isto aí, amarra. Novata!

Terminava de colocar a meia calça, e já tinha me pestiado com aquele perfume. E não encontrava de jeito nenhum o brinco. "Que raiva."

Fui no espelho e observei que as marcas do tempo não me deixavam tão feia assim. Amarrei o cabelo, e me sentia uma Dumba com aquela orelha de abano.

A cliente estava bela, nossa parte tínhamos feito. Pensei. "Ninguém esta vendo, e provavelmente não fará falta." Tirei o brinco dela, era uma singela pérola. E disse pra assistente.

— Quando terminar solta o cabelo, e deixa bem espalhado que ninguém vê.

Olhava para o corpo dela, que busto, e que pele.

— Mas não combina com o vestido, sempre se amarra o cabelo com vestido de noiva.

Retirei do plástico o véu, era lindo e singelo.

— Bobagens não precisa mesmo. Ela vai ficar linda de qualquer jeito. Entrega a cliente, que eu preciso ir, deixa a chave com o Jorge; Tchau.

Dentro do carro do Meu namorado, já estávamos indo para o bar, após iriamos ir para a nossa primeira noite de amor. Assim esperava, estava precisando.

Passamos com o carro na frente do meu serviço. O meu boy (que não é tão boy assim convenhamos) comentou.

— Coitada, tão bela a mocinha que morreu, iria casar esta semana.

Realmente era uma movimentação atípica, parecia que a cidade inteira estava naquele velório.

Eu tirei o espelho da bolsa, enquanto ele diminua a velocidade pra ver o fuzue que se instaurava na frente daquela praça.

Tentei nem olhar para o lado.

— Como que você consegue, disse ele.

Continuava passando o batom na boca. respondi-o

— Consegue o quê? Há a gente se acostuma, já não sou mais uma mocinha, e são tantos. Esta até que era bonitinha, foi fácil preparar para o velório.

Guardei o batom olhei para ele. Um gato, pensei: "Estou precisando."

Coloquei as mãos nas pernas dele, que deu uma risada.

Acelera aí, que eu quero me divertir. Estou viva!

Ele retribuiu o agrado, me dando um beijo quente de língua na boca.

Me olhando nos olhos disse:

— Belos brincos.

Eu respondi: — Você achou?

Fiquei com aquilo na cabeça, sabe, soltei os cabelos, e me acabei na pista, parecia uma mocinha de vinte e tantos anos, ele, dava risadas sentado no bar, fomos para a nossa noitada. "Que lord e que gato." Sabe tratar uma loba igual a mim.

Antes de ir dormir, olhei para o meu rosto em frente ao espelho. Realmente aqueles brincos tinham caído bem em mim. O sentimento de culpa me fez pensar naquela moça. Coitada! Quando ganhara aqueles brincos? Seria da mãe dela ou do noivo? Deitei na cama.

Olhava para o teto, o sono não vinha.

"Seria o velório de manhãzinha?" Provavelmente seria, ouvi dizer que estariam esperando uns parentes pra finalizar o negócio. Lembro de ouvir o Jorge se queixando, o preguiça odeia acordar cedo.

Meu namorado dormia, pelado naquela cama de motel, olhei para aquele corpo, realmente era tudo e mais um pouco que as zinha falavam.

Cutuquei ele. Estava encasquetada.

— Vamos, já esta de manhã.

Ele olhou para o relógio, e disse. —Esquece, odeio acordar cedo, só saio daqui meio dia. Pensei: "Outro preguiçoso na minha vida."

Fui gentilmente e beijei ele pedi com agrado, sabia fazer bem as coisa da vida. E ele entendeu perfeitamente que precisava me agradar.

— Amanhã eu te retribuo, é que preciso voltar no serviço, esqueci algo lá.

Ele se esticava, vestindo as calças, o malandro estava sem cueca, calças jeans vestidas, ajudei ele ajeitar a camisa, alisando-o e beijando o seu pescoço.

Ele riu, e já ficou animado.

Eu disse: — Vamos, se desanima aí que precisamos ser rápidos.

Estava com ele nas mãos, o meu namorado, meio que retrucava dirigindo, disse qualquer coisa, como: Esqueci uma chave.

Chegando no velório, aquela choradeira clássica, estavam pra fechar o caixão. A mãe desesperada em prantos, passava mal e desmaiara. O noivo um frangote, no lado chorava igual bebê.

O Jorge, lá com o ajudante pegando a tampa. Já iriam fechar a bela noiva pra ir embora, para o cemitério.

Eu disse:

— Espere, espere!

O Jorge ficou horrorizado, com a minha intromissão. O noivo frangote, disse:

— Quem é ela?

Meu namorado ficou no carro não gostava de ver gente morta. Eu fui adentrando no salão da funerária. E o Jorge o respondeu:

— A maquiadora que fez a maquiagem da defunta. O noivo olhou ele com reprovação, enchendo de lágrimas os olhos. O Senhor sem noção mudou a frase para ser mais cortês: — Da sua noiva.

O noivo sem entender nada com a cena. Falou: — Deixe ela.

O Jorge fazia sinal que cortaria o meu pescoço, iria atrasar o negócio, e provavelmente precisava liberar o salão urgente, o dia estava ótimo.

Tirei da bolsa um pequeno estojo de maquiagem, a coisinha nem precisava. O noivo olhando desconfiado. Os familiares consternados com a cena. Coloquei os brincos na morta. E empurrei os cabelos para trás da cabeça, colocando novamente a renda entrelaçada no rosto tão jovial.

O noivo, que estava a caráter, ficou chorando, colocou a mão no bolso.

E agora ele disse-me: — Espere. Colocando o anel no dedo da moça. Pensei:

"Que disperdido." Fecharam e a levaram.

O Jorge de lado, bastante irritado com tudo aquilo, falou: — Depois você me explica este papelão!

Voltei para o carro, e disse pro Boy:

— Me leva pra casa. Sem entender nada, o gato me levou, chegando em casa, ele queria entrar, não deixei, fazendo aquele charminho gostoso tão importante dos primeiros encontros.

Ele falou: — Nossa, você esta sem os brincos, eu passei as mãos na orelha fingindo não ter percebido. E falei: — Acho que perdi, nem gostava deles mesmo.

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Conto de terror soft
Autor; Waldryano
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Waldryano
Enviado por Waldryano em 12/07/2019
Reeditado em 07/08/2019
Código do texto: T6694526
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