Uma Noite para Nunca Mais!
Uma noite daquelas, sentindo um vazio profundo minha em essência anímica, metamorfoseei em um cão vira-latas e saí pela casa rodopiando feito pião, atrás do rabo.
Repentinamente, fui à geladeira e após um latido estridente, de cortar os ares, uma fenda de fogo incendiou a cozinha, explodiu a geladeira, espatifou o fogão, quando não havia mais nada para destruir, ralhou: "Muta, velho Mutagambi traidor de uma figa, tu sóis gente; tú não sóis cão. Pare de trocar os pés pelas mãos, levante-se e caminhe sobre as duas patas que Deus te deu. Inútil miséria moribunda". Facas desgrudavam do faqueiro e perambulavam livremente pelo ambiente; chocavam-se e soltavam faíscas pelo encontrão e após as acrobacias, sumiam no ocaso.
Sentei em um toco madeira que sobrara, e meditando sobre a paranoia, a qual os humanos se submeteram, tomei dois litros de vodca com coca-cola em uma hora. Tempo suficiente para eu comer 10 pães com margarina bem sebosa. Ranço, cheiro se ranço.
Morcegos e moscas varejeiras sobrevoavam os arredores. Peguei a vara de pescar estrelas e vapt: pesquei vários deles. Como aperitivo, mordisquei-os.
Enquanto comia-os e confabulava com meus fantasmas, um deles voou sorrateiramente e pá: ferroou minha jugular. Passei a mão e destapei os buraquinhos deixados por àquele estrume de morcego. Sangue esguichou, envermelhando o mundo.
Retornei para a cama, espichei as pernas, acendi uma vela, uni as mãos espalmadas em forma de oração sobre o peito, tirei o par de dentaduras já espatifadas pelo tempo, bati uma contra a outra, mordi a língua umas 5 vezes, urrei delirantemente e despedi da vida. Despedi da vida no isolamento, filosofando a prisão em uma solitária. Tudo escombro fétido, avermelhado, gotejado, empossado de sangue!
Era uma vez um Mutagambi, senhor dono do vento, da filosofia, da lua, do sol, das estrelas, da música em poesia. Dono do mundo que não se apegava à nada.
Morri; como morri o sol em fim de tarde! Queria eu viver outra noite como àquela, fatalmente não incorporaria em meu ser anímico um cão; e se fizesse-o, seria um cão de madame. Colo, boa ração, água mineral, canto de leito, sombra e direito a cheirar algo de bom semanalmente; oxalá senão todo madrugada.
Pobreza é desgraça, terror, guerra anímica e morte precoce da carne chamuscada pelo fogo da incompreensão e não aceitabilidade! Paguei com a vida, mas vendo por outro ponto, nunca mais alimentarei com meu voto o parasita péssimo político; porque o razoável, nasceu morto. Coisa boa seu FdP. Deus seja louvado!