PELO BURACO DA FECHADURA
Por uma pequena réstia de luz, vislumbro meu cadafalso, inusitadamente de pedras montadas, colocado sobre uma fogueira deslumbrante, cores de fogo sagazes, d`um colorido lindo, um belo espetáculo. Meu crime foi considerado tão cruel, que o circo montado para o cumprimento da pena, será lembrando por anos e lançado nos anais da história daquele lugar, o Prefeito estava exultante, sua âmbição desmedida seria coroada e o posto que almejava seria conquistado em alto estilo, que palhaçada!
O que você faria, se sua mulher estivesse sendo ameaçada de morte, por um crime que não cometeu, apenas se calou, ao reconhecer o criminoso como sendo o delegado da cidade. Nem era um crime hediondo, ainda assim um crime. Sua esposa o viu surrar um rapaz e lhe entregando um casaco largo, ordenou que ele não prestasse queixa, caso ele não obedecesse sua família pagaria. O rapaz se afastou mancando, tremendo e de cabeça baixa. Ela se afastou do lugar, mas, o delegado a seguiu, a forçou a dar o seu endereço, sob a brutalidade do pedido ela passou a infomação, ele a empurrou falando em tom de ameaça, que ela deveria se manter calada.
Eu estranhei o nervosismo dela, perguntei e minha doce Elise quase rosnou, calculei que ela estivesse naqueles dias de mulher, onde é melhor não discutir. Só que os dias iam passando, ela emagrecia, se assustava ao simples trotar de cavalos no passadiço, ficava longe das janelas, aquilo estava estranho demais. Resolvi perguntar diretamente pois me preocupo com quem amo, tanto insisti que ela contou tudo num pranto descontrolado. O vigarista do delegado, aparecia na porta várias vezes por dia, enquanto eu estava trabalhando, com ameaças, ficava com a carruagem parada na nossa porta, a vigiava em todas as suas saídas, de longe à espreita com olhares sisudos. Já faltavam certos alimentos dentro de casa, tinha medo de sair, deixou de levar nosso filho ao seu habitual passeio no parque, só para sair menos vezes à rua. Dormia pouco e seu sono era sobressaltado. Como estava sofrendo a minha menina. Me revoltei, disse que viria confrontá-lo, ela me implorou de joelhos, com pavor nos olhos, pois não sabia como o camarada poderia reagir, temia por ele. Lhe dei um chá calmante bem forte, fiquei abraçado na cama com ela até que ela adormecesse. O filho estava na casa de um amiguinho, resolvi pegá-lo mais cedo. Qual foi o meu espanto ao retornar, encontrar uma charrete parada na porta de casa, deixei meu filho na casa da vizinha, com uma desculpa tola e parti com sangue ns olhos ao encontro da charrete, num rompante sem muito pensar, arranquei o camarada de cima do banco aos socos e gritos, sem lhe dar chance de reagir, sou um homem de estatura média, mas, sou bem forte, o deixei desmaiado no chão poeirento, só parei pois fui contido por outros homens que passavam por ali. O delegado está acamado sem reações há seis meses, parece um vegetal, minha mulher adoeceu, minha sogra a levou junto com o nosso filho para sua casa em outra cidade, nunca mais tive notícias deles, nem uma missiva sequer.
Agora aqui neste cárcere fechado, insalubre, observando pelo buraco da fechadura o tempo passar, aguardo o final do ato da minha tragédia, na verdade uma comédia está sendo montada para que o ponto alto seja meu enforcamento sobre as chamas...um espetáculo de horrores para regozijo do candidato a Governador.
Rufam-se os tambores, a chave entra pela última vez na fechadura de minha cela, os gritos de bandido e morte ecoavam pela praça. Sinceramente não sou capaz de sentir mais nada ou melhor, alívio talvez, já, já esse palco dos absurdos cerra as cortinas, pelo menos as minhas, do olhar. A porta finalmente se abre, me arrastam para fora, sigo passo a passo, subo os quatro degraus com pressa, não pretendo ver a saliva do Prefeitinho escorrer de júbilo, o carrasco me coloca em posição, a grossa corda me arranha o pescoço. Com um lenço na mão pequena, o animador de festa - vulgo Prefeito, dá o sinal e a corda vai cortando meu ar, me debato e no último instante, já ardendo nas chamas, vejo no meio da multidão, o olhar em lágrimas de Elise, já estou no paraíso...
O que você faria, se sua mulher estivesse sendo ameaçada de morte, por um crime que não cometeu, apenas se calou, ao reconhecer o criminoso como sendo o delegado da cidade. Nem era um crime hediondo, ainda assim um crime. Sua esposa o viu surrar um rapaz e lhe entregando um casaco largo, ordenou que ele não prestasse queixa, caso ele não obedecesse sua família pagaria. O rapaz se afastou mancando, tremendo e de cabeça baixa. Ela se afastou do lugar, mas, o delegado a seguiu, a forçou a dar o seu endereço, sob a brutalidade do pedido ela passou a infomação, ele a empurrou falando em tom de ameaça, que ela deveria se manter calada.
Eu estranhei o nervosismo dela, perguntei e minha doce Elise quase rosnou, calculei que ela estivesse naqueles dias de mulher, onde é melhor não discutir. Só que os dias iam passando, ela emagrecia, se assustava ao simples trotar de cavalos no passadiço, ficava longe das janelas, aquilo estava estranho demais. Resolvi perguntar diretamente pois me preocupo com quem amo, tanto insisti que ela contou tudo num pranto descontrolado. O vigarista do delegado, aparecia na porta várias vezes por dia, enquanto eu estava trabalhando, com ameaças, ficava com a carruagem parada na nossa porta, a vigiava em todas as suas saídas, de longe à espreita com olhares sisudos. Já faltavam certos alimentos dentro de casa, tinha medo de sair, deixou de levar nosso filho ao seu habitual passeio no parque, só para sair menos vezes à rua. Dormia pouco e seu sono era sobressaltado. Como estava sofrendo a minha menina. Me revoltei, disse que viria confrontá-lo, ela me implorou de joelhos, com pavor nos olhos, pois não sabia como o camarada poderia reagir, temia por ele. Lhe dei um chá calmante bem forte, fiquei abraçado na cama com ela até que ela adormecesse. O filho estava na casa de um amiguinho, resolvi pegá-lo mais cedo. Qual foi o meu espanto ao retornar, encontrar uma charrete parada na porta de casa, deixei meu filho na casa da vizinha, com uma desculpa tola e parti com sangue ns olhos ao encontro da charrete, num rompante sem muito pensar, arranquei o camarada de cima do banco aos socos e gritos, sem lhe dar chance de reagir, sou um homem de estatura média, mas, sou bem forte, o deixei desmaiado no chão poeirento, só parei pois fui contido por outros homens que passavam por ali. O delegado está acamado sem reações há seis meses, parece um vegetal, minha mulher adoeceu, minha sogra a levou junto com o nosso filho para sua casa em outra cidade, nunca mais tive notícias deles, nem uma missiva sequer.
Agora aqui neste cárcere fechado, insalubre, observando pelo buraco da fechadura o tempo passar, aguardo o final do ato da minha tragédia, na verdade uma comédia está sendo montada para que o ponto alto seja meu enforcamento sobre as chamas...um espetáculo de horrores para regozijo do candidato a Governador.
Rufam-se os tambores, a chave entra pela última vez na fechadura de minha cela, os gritos de bandido e morte ecoavam pela praça. Sinceramente não sou capaz de sentir mais nada ou melhor, alívio talvez, já, já esse palco dos absurdos cerra as cortinas, pelo menos as minhas, do olhar. A porta finalmente se abre, me arrastam para fora, sigo passo a passo, subo os quatro degraus com pressa, não pretendo ver a saliva do Prefeitinho escorrer de júbilo, o carrasco me coloca em posição, a grossa corda me arranha o pescoço. Com um lenço na mão pequena, o animador de festa - vulgo Prefeito, dá o sinal e a corda vai cortando meu ar, me debato e no último instante, já ardendo nas chamas, vejo no meio da multidão, o olhar em lágrimas de Elise, já estou no paraíso...