MUDA AVALANCHE

Nunca mais, mas, nunca mais mesmo, ela proferiu sequer uma palavra...

Tudo relacionado a ela, lembrava dor, exaustão, desespero e repulsa. Cada poro de sua pele, se tivessem boca e pudessem soltar a voz, gritariam AAAiii!!.
Não havia beijo sem que dilacerasse seus lábios, quantos pontos já levara. Entre quatro paredes para seu marido algoz, tudo valia, cacos de vidro, garrafas, pinças e muito mais. Sonya tinha marcas visíveis no corpo e outras dolorosas, nas entranhas, na mente e na alma. Cada gemido, cada reclamação, gerava uma avalanche de martírios, Sonya parou de se expressar, durante anos engravidava e sofria abortos espontâneos, por causa dos maus tratos, que a deixavam cada vez mais fraca. Um dia, tarde ou noite, ela nem sabia mais precisar, ele chegou com uma cânula e muita areia, foi o fim de seus tormentos. Quando um vizinho estranhando o silêncio naquela casa chamou a polícia,  a pobre criatura foi encontrada nas últimas, por mais que perguntassem, ela nada falou, nem mesmo uma única palavra, só olhou para todos com olhar de paz, o qual destoava de toda aquela situação. Na autópsia, o conteúdo de suas partes íntimas chocou Argeu, que era um experiente legista, o que sofrera aquela mulher era inominável. E ainda assim ela partiu, muda e com um olhar de paz absoluta.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 30/10/2017
Código do texto: T6157806
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