CADAFALSO ÚMIDO

Uma réstia de luz invadia a sala vazia. Os fantasmas passeiam pelo interior penumbrado. Os sons das lamúrias e lamentos, ecoam pelo espaço repleto de lembranças sem móveis ou tralhas. Lembranças felizes há muito fugiram pelas portas, em busca de melhores prados. Eu passo todos os dias pelo portão daquela casa que abandonei, pura vitrine de dor e tormentos. A simples visão da construção, arranha meu coração dilacerado. Não consigo sequer lembrar do que ouvi sobre sua queda com nossa filhinha no colo, por descuido, você pisou no gato amado por nós e caiu de forma distorcida por cima de nossa princesinha. Ela bateu com a cabeça no chão e morreu na hora. Louca de desespero você se retalhou à faca até perder as forças. Isso foi o que perícia apurou. Desvairei por semanas quase pus fogo na casa maldita. O gato sumiu, pressentindo o destino que eu lhe daria. Agora só me resta ser um frangalho de ser. Sem coragem para retomar à vida...arrastando os meus fantasmas sigo na direção do cais...meu cadafalso líquido...

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 26/10/2017
Reeditado em 28/09/2022
Código do texto: T6154083
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