PS
      (Mais um texto dedicado ao novo Projeto da Arte do Terror " Carta"

Salvador, 19 de fevereiro de um ano qualquer...

Nestor

Lembra como nos conhecemos, foi na pipoca, durante a passagem do trio elétrico dos Cavaleiros de Aruanda, muita cerveja na mente, muito calor no corpo, muita pressão da multidão e aí, apareceu você, negro lindo, cheiroso, foi se chegando falando ao meu ouvido coisas gostosas, mexendo o corpo junto ao meu, incandescentemente, era Carnaval, ébria, carente e com a libido acesa, fui presa fácil para suas investidas. Fui me deixando levar e num dos amassos senti uma picada e você deu um grito dizendo. que um bicho o havia picado, eu prontamente disse que também havia sido picada, resolvemos sair dali e fomos em direção à areia da praia, só que eu não nunca cheguei até lá...

Acordei nua, com o corpo espalhado pela escadaria da Igreja do Bonfim, coberta de excrementos e fedendo a mijo, não tinha unhas nos pés nem nas mãos e a dor que eu sentia entre as pernas,  não permitia que eu me sentasse, eu tentava gritar e não saia som. Começaram a aparecer várias pessoas que me olhavam com asco,, nojo, pena...Então entendi, caíra numa armadilha nefasta, graças à Deus, ainda existem almas caridosas neste mundo e uma jovem senhora e seu filho adolecente, me levaram para a própria casa, chamaram a polícia, tive que ir para o IML (Instituto Médico Legal), passei por todos os exames e a jovem senhora me levou de volta para minha própria casa, ajudou com meus curativos, pediu por telefone uma refeição leve, deixou o telefone para que eu ligasse se precisasse e confirmou que voltaria no dia seguinte. Quando ela saiu, desabei num choro misto de dor e ódio, você haveria de me pagar, nem que fosse a última coisa que eu fizesse no mundo, eu encontraria você e me vingaria. Demorou três anos o Universo conspirou a meu favor e eu enfim, achei você, passando tranquilamente pela Praça da Feira, me escondi e retornei no dia seguite e no outro e no último, você parecia procurar alguém, talvez uma nova presa, só que não, não no seu último dia de vida.

Passe para o final dessa página, meu querido...






Será que não estranhou eu estar tão calma depois do que me fez, apenas arranhei seu pescoço com a bofetada que lhe dei com a MÃO DIREITA, enfiei com a MÃO ESQUERDA ENLUVADA esta carta em seu bolso e fui embora, mas, estarei escondida entre as barracas, só pra ver sua reação. A curiosidade,  vai fazer você sentar em um banco da praça passando a mão no pescoço ferido e ler a carta. Agora do meu ponto privilegiado, estarei rindo por dentro sem emitir som, vendo você vomitar sangue, ir caindo do banco com dores descomunais, assistindo seus poros explodindo em chagas pútridas morrendo lentamente.

PS: Ha! Ha! Ha! Ha!       Adeus 
              Estou indo embora pra nunca mais aqui voltar
       Veneno mortal no papel e nas UNHAS DA MÃO DIREITA

Assinado:
        Último Carnaval
        Teresa - sinônimo - FeLiCiDaDe

† esta carta foi encontrada nas mãos de um moribundo negro, ensanguetado, estrebuchando caído no chão, com os olhos esbugalhados, na Praça da Feira em Salvadr - Bahia.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 01/04/2017
Código do texto: T5958638
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