(TEXTO PARA A ARTE DO TERROR - PARABENIZANDO PELO NOVO TEMA - CARTA - QUE IRÁ REUNIR EM SUA QUARTA EDIÇÃO, GRANDES AUTORES)
A CARTA QUE NÃO RELI
Ao Senhor Gaudêncio
Caro Senhor dos meus ais infantos, dos meus mais tenros sonhos e dos meus mais profundos quereres, saiba meu caro, que nem a mais forte beberagem da Farmácia, poderá descolar da minha face, o sorriso sarcástico e exultante que levarei para o túmulo. Ao fecharem meu ataúde ouvirão durante horas, as gargalhadas de escárnio e júbilo, pois quando eu enfim perecer, não estarei sozinha. Ao baixar aos sete palmos de terra, serei adubo de nova semente, enquanto o senhor, em três dias cairá, de doença letal, original e lenta, pena capital infligida por mim, através de uma simples agulha e ninguém desconfiará. Tão brutal será a sua tortura, sem chance de cura ou salvação, que será cremado para evitar contaminação. Senhor das agonias das minhas carnes, das minhas noites insones, das dores das minhas retalhadas costas, dos meus profanados recantos sexuais, há de pagar por cada lágrima que rolou em minha face, por todos anos de perjúrio e de humilhações.
Senhor Gaudêncio, meu marido, nem uma única estrela do céu ouvirá suas súplicas, com dores horríveis, sucumbirá sufocado com seu próprio sangue, com a pele se abrindo deixando entrever os ossos, com os olhos fugindo das órbitas para nunca mais voltarem. Sei que Deus não me perdoará tamanha falha, vingança cruel e bem tramada não terá leniência. Nem me importo, transporei os portais do Inferno, rindo, de braços abertos com a alma lavada, sem nenhum arrependimento e sobre as pedras pontudas incandecentes, com o corpo rasgado e o ventre exposto às chamas, ficarei enfim em paz.
Rio de Janeiro, vinte e três de novembro de 1982.
Das grades do Inferno
Odete
A CARTA QUE NÃO RELI
Ao Senhor Gaudêncio
Caro Senhor dos meus ais infantos, dos meus mais tenros sonhos e dos meus mais profundos quereres, saiba meu caro, que nem a mais forte beberagem da Farmácia, poderá descolar da minha face, o sorriso sarcástico e exultante que levarei para o túmulo. Ao fecharem meu ataúde ouvirão durante horas, as gargalhadas de escárnio e júbilo, pois quando eu enfim perecer, não estarei sozinha. Ao baixar aos sete palmos de terra, serei adubo de nova semente, enquanto o senhor, em três dias cairá, de doença letal, original e lenta, pena capital infligida por mim, através de uma simples agulha e ninguém desconfiará. Tão brutal será a sua tortura, sem chance de cura ou salvação, que será cremado para evitar contaminação. Senhor das agonias das minhas carnes, das minhas noites insones, das dores das minhas retalhadas costas, dos meus profanados recantos sexuais, há de pagar por cada lágrima que rolou em minha face, por todos anos de perjúrio e de humilhações.
Senhor Gaudêncio, meu marido, nem uma única estrela do céu ouvirá suas súplicas, com dores horríveis, sucumbirá sufocado com seu próprio sangue, com a pele se abrindo deixando entrever os ossos, com os olhos fugindo das órbitas para nunca mais voltarem. Sei que Deus não me perdoará tamanha falha, vingança cruel e bem tramada não terá leniência. Nem me importo, transporei os portais do Inferno, rindo, de braços abertos com a alma lavada, sem nenhum arrependimento e sobre as pedras pontudas incandecentes, com o corpo rasgado e o ventre exposto às chamas, ficarei enfim em paz.
Rio de Janeiro, vinte e três de novembro de 1982.
Das grades do Inferno
Odete