VAGALUME

Tudo lindo, águas claras, pedras polidas de rio formando pequenas ilhas, corpos estendidos ao Sol, brisa fresca, os pássaros canoros cuidavam da trilha sonora, o céu azul anil e a vegetação vibrando verdes matizes, complementavam o cenário daquela tarde perfeita ...........quase perfeita.

Entre risos e festa, piquenique saboroso na margem do rio. A família de Úrsula se divertia, aproveitando a tranquilidade da bela tarde. Uns murmúrios estranhos eram ouvidos de quando em quando. Ricardo, o pai da família não dá muita importância pois nada se avistava ao redor, mas, os ruídos persistiam, eram um misto de grasnar e assovio, de repente, uma sombra nubla por segundos o céu azul anil, foi tão rápido que  não deu para saber do que se tratava. Os sons estranhs cessaram e a tarde transcorreu serenamente, a alegria até invadiu a noitinha, ainda com sua luminosidade alaranjada. Ricardo e a família recolheram as tralhas que levaram, o lugar era lindo demais, precisava ser preservado e também, não era seguro ficar por ali no escuro, afinal o lugar era uma beleza, mas, ficava perto de mata.

Seguiram a trilha rapidamente, o carro estava bem próximo,  já escurecera quando ligaram o motor, os ruídos esquisitos foram ouvidos de novo e pareciam estar próximo a eles, mas, nada se via. Ricardo ligou o carro e resolveu sair logo dali, os olhinhos das criançasv começavam a parecer assustados, não queria que o dia maravilhoso se apagasse de suas cabecinhas.

Chegaram em casa, Úrsula ajudou seu pai a descarregar o carro enquanto Silvia, a mãe, dava banho nas crianças, já haviam comido tanto que agora seria, banho e cama. 

A noite já estava bem adiantada, foi quando Silvia chamou a atenção de Ricardo, para a volta dos estranhos ruídos. Levantaram e correram para o quarto dos filhos, Úrsula de doze, Francesca de sete e João Pedro de cinco anos, todos dormiam serenamente. Ricardo deixou Silvia com as crianças e deu uma vistoria geral na casa, do nada, pelo basculante da cozinha entra um pequeno brilho intermitente e o som dos ruídos, só que  bem mais alto, o que assustou Ricardo e na tentativa de espantar o vagalume, mal apoiado na pia, acaba caindo e arrastando consigo um copo, que se espatifou no chão cortando sei pulso esquerdo. Ele buscou um pano de prato para estancar o sangue, que espirrava pelo chão e os sons estranhos perseguiam seus movimentos, ele já estava atordoado, sem saber o que fazer grita por Silvia, que trancando as crianças no quarto, corre para junto de Ricardo e se assusta com a cena que vê, Ricardo e o piso da cozinha com sangue, um vagalume voando em torno dele e ouvia o som esquisito em tom muito alto naquele momento. Silvia tenta ao mesmo tempo amarrar o pulso do marido, espantar o vagalume, descobrir de onde viria o som e não gritar para não acordar as crianças. 

Silvia e Ricardo, abrem a porta da cozinha de supetão, fazendo pratos de raquete, colocando o vagalume para fora, como se a pobre criaturinha  fosse culpada por aquele desatino todo. Conseguem seu intento e repentinamente o som emudece, seriam loucos de imaginar que o vagalume emitisse aqueles barulhos estranhos, só que o ruído realmente cessou. Com medo de deixar a família sozinha em casa, enquanto iria buscar atendimento médico, tomou um banho, trocou de roupa, acordou as crianças e foram todos para o hospital. 

Já era madrugada, quando chegaram ao pronto-socorro, o atendimento foi rápido e assim que se aproximaram da porta blindex na saída, os sons voltaram, parecia que só eles ouviam e  era ensurdecedor, as crianças choravavam tapando os ouvidos, Silvia sacudia a cabeça violentamente, vagalumes rondavam o olhos de Ricardo, que se debatia. A equipe de enfermagem e os seguranças do hospital, tentam conter o que imaginavam se tratar de um surto psicótico coletivo, o que estaria acontecendo com aquela família pensavam.

Com muito custo todos foram recolhidos, amarrados à macas e sedados, os médicos prescreveram uma bateria de exames, pois no atendimento à Ricardo, nada notaram de anormal com nenhum deles. Algumas horas depois a família vai saindo aos poucos da sedação, a enfermeira de plantão vai até a recepção alertar aos médicos, quando vêm retornando pelo corredor houvem gritos e barulhos metálicos e o que entra no campo de visão dos profissionais de saúde, é bizarro. A família em suas macas, se debate até sangrar as amarras, batem as cabeças de forma alucinada e os gritos não saem de suas bocas escancaradas, era como se estivessem fazendo mímicas, eles não podiam ser sedados seguidamente. Com cuidado e palavras, eles tentam acalmá-los sem sucesso, de repente os corpos estancam do debater alucinado, juntos, quase que no mesmo instante. O médico e os enfermeiros depois de avaliar os sinais vitais, constatam enfim, que todos estão mortos, um absurdo total, cobrem os corpos, o legista teria um grande trabalho naquele dia. A equipe foi buscar nos pertences da família, telefones de contato de outros famiiares, como explicar tudo aquilo, difícil questão.

Dois dias depois, nos laudos do legista, constava que no sangue espalhado, dentro dos cérebros dos cadáveres, estavam misturados vagalumes e ninguém tinha explicação para esse fato. O legista teve um pensamento, que julgou digno de humor negro...'causa mortis' ...mentes brilhantes...


 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 04/03/2017
Código do texto: T5930740
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