Matthew Escatológico
No benzimento da extrema-unção coletiva, o Pároco disse aos mortos: "O sol, o trabalho, a fome, o suor, a simplicidade, a honestidade, a justiça, a tribulação, o julgamento, a humildade (se é que ela existe), a razão, a morte, a cegueira, a provação, a eternidade, o furacão Matthew, o sal, são aptidões escatológicas que pertencem a Deus. Que o pai todo poderoso os acolha em seu imenso e justo aprisco".
Alcoolizado,
embebedou,
encharcou o carburador,
sonhou que amava o mais belo alter ego da balada.
Acordou abraçado com um objeto luminoso, fechando curtos-circuitos, explodindo tudo no passeio da avenida.
Horrorizado, o povaréu parou para observar a cena causada por aquela figura misteriosa e estranha. Diziam: "só pode ser resto de fim de mundo. Cruz-credo"!
Enquanto o monstro estribuchava, esganiçava no chão, agoniza a desilusão de estar no lugar errado, momento errado, o povo se benzia fazendo o sinal da cruz e sem tino, se retirava do local. Enquanto muitos tombavam em penitência, outros muitos tombaram pelo faiscamento.
Não muito distante dali, outro acontecimento igual. Mais um. E outro.
Naquele dia, metade da população da cidade foi dizimada. E segundo anunciado, os que sobraram estariam com os minutos contados.
Sempre bem informados, ao saber da notícia, muitos apressaram em atentar contra si, o provável ato que poria fim ao continente inteiro. E os infelizes povos que habitavam aquele continente não souberam mais o que era paz; porém, paradoxalmente, foram brilhantemente iluminados. Obviamente, por um breve período.