VÍBORA


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Aspergindo seu veneno, rastejando suas peles trocadas pelo solar sombrio e vazio. Naquele povoado esquecido pelos deuses, a víbora Jediba, garota mimada e vingativa, não conseguia digerir a afronta que recebera, quem aquela garota esquálida achava que era, para fazê-la passar tanta vergonha perante àquela gentinha miserável, não aceitando ter que limpar o seu lindo chapéu de aba de seda, que caíra numa poça de água suja, bem junto aos seus pés, o que lhe custava afinal?
Por acaso ela achava que ela, uma lady rica, filha do maior fazendeiro da cidade, iria se abaixar e sujar as belas mãos, para limpar o chapéu, isso não iria ficar assim, ah! Não mesmo...

Silvia, a moça magrela que causou tanto ódio na víbora, abastada e arrogante, não era uma pessoa de levar desaforo pra casa, muito menos de se submeter aos caprichos de uma garota fútil, que se achava melhor do que qualquer um, só por ter uma posição social melhor. Silvia era uma pessoa humilde, mas, orgulhosa de sua fibra, para trabalhar e estudar, era uma menina muito inteligente que estudava com afinco para conseguir seu almejado diploma de enfermeira, adorava ajudar as pessoas, já havia treinado bastante com sua amada mãe, graças aos Deuses, hoje ela estava muito bem. Quando Jediba a quis humilhar esbravejando e praticamente querendo obrigá-la a limpar seu coquete chapéu de seda, isso bem defronte ao armazém, onde ela trabalhava, Silvia simplesmente disse.

- O chapéu é seu, você que o limpe, o que fez Jediba surtar, com o que considerou ser uma desconsideração a sua pessoa.

De tanto infernizar seu pai, alegando um desejo fútil qualquer, Jediba, conseguiu dinheiro suficiente para pagar um camarada que bem pago, para dar uma surra na magrela abusada, que a afrontara na frente de todos. Armou uma emboscada, próximo ao bosque perto de seu casarão. Com a desculpa de compras do armazém, pois tinha conhecimento, que as entregas das compras para casas próximas, eram feitas por Silvia, armado o embuste era só ficar de longe assistindo a surra que Silvia iria tomar.

Só que, quando Silvia saltou da caminhonete com as compras nas mãos, seguindo na direção da entrada de serviço, pela aleia do bosque, um homem surge por detrás de um grande arbusto e a pegando pelo braço num safanão, dá-lhe soco na boca do magro estômago que a põe por terra, entontecida e assustada. Nesse momento um homem de meia idade, mas, corpulento e saudável, avança sobre o 'pau mandado bem pago' com um ancinho e quase rachou ao meio a cabeça do camarada, era tanto sangue, tanto urro de dor, que chamou a atenção de Sediba, que correu pro local, pronta pra gargalhar sobre Silvia, já logrando sua vingança, mas, a cena que se descerrou diante de seus olhos foi horrenda, Silvia caída no chão se dobrando de dor, seu contratado com a cabeça dilacerada todo ensanguentado, seu pai com um ancinho na mão, nitidamente a arma do crime, tremendo inteiro deitado no chão, parecendo estar tendo um ataque cardíaco. Jediba, gritava pedindo socorro, tentando ser ouvida por algum funcionário da fazenda. Antes que o primeiro aparecesse, quem arrastando suas dores, iniciou os procedimentos de reanimação até estabilizar o pai de Jediba, foi justamente Silvia, assim que a ambulância chegou ela se rendeu às dores e acabou sendo socorrida e levada ao hospital, juntamente com ele. Jediba, de tão desesperada e amargando um imenso remorso, nem conseguiu acompanhar o pai ao pronto-socorro, o capataz da fazenda foi que seguiu a ambulância na caminhonete de Silvia, aos gritos para que avisassem à irmã do patrão, para que ela fosse rápido encontrá-lo no hospital.

Graças aos céus, Carmel, o pai de Sediba se recuperou sem sequelas e quem ajudou muito em sua recuperação foi Silvia, que carinhosamente, foi contratada como acompanhante de Carmel até que ele ficasse bem. Sem testemunhas de sua maléfica armação, já que o 'pau mandado bem pago' morrera, Sediba estava livre de suspeitas, seu pai com o relato de Silvia e todo dinheiro que tinha, se livrou facilmente de um processo. Já Sediba, emagrecia a cada dia, definhava a olhos vistos, falava sandices, não queria mais tomar banho, andava imunda, fedendo, há semanas se mudara para um pequeno sítio, também de propriedade de seu pai, junto ao Rio Dormente. Vivia perambulando a esmo, já nem falava coisa com coisa. Certa manhã pegou uma lâmina de barbear e foi fazendo pequenos talhos nos braços e ficava observando, o sangue correr. Desmaiava e acordava, com cheiro de sangue seco nas narinas e tornava a se retalhar, três dias seguidos nesse nível de loucura e não tendo mais forças, foi arrastando sua pele de víbora retalhada até a beira do rio, se deixando levar pela correnteza, misturando seu veneno e remorso às águas do Rio Dormente...
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 04/10/2016
Reeditado em 05/10/2016
Código do texto: T5781722
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