POÇO DOS INFANTES
Grávidas que depois de parir, como por encanto, apareciam sem seus filhos como se nada tivesse acontecido, nunca tivessem parido. Isso nos últimos dois anos vinha sendo uma constante, no Morro do Forno, no subúrbio daquele município. A coisa estava ficando estranha demais, começando a chamar a atenção das autoridades. Numa campana, um policial percebeu uma movimentação um tanto sorrateira, próximo a uma enorme árvore que ficava junto a um poço, de onde sempre saia rolos de fumaça. Para os policiais, aquele era um lugar para queimar lixo ou folhas secas, só que o que ele viu foi absurdo, inominável cena. Uma jovem, trazendo um bebê nos braços, simplesmente o atira no poço em chamas, saindo impassível, como se aquilo fosse um fato normal e corriqueiro, o policial vomitou e sem forças para uma reação, ficou em seu ponto de observação, congelado de horror. Aquela campana não era autorizada, uma denúncia precisava ser investigada, mas, ninguém levou a sério, aquela velhinha negrinha e pobre, que numa noite de chuva, aparecera na delegacia informando que, no Morro do Forno tinha um poço onde descartavam as crianças rejeitadas e não desejadas. Acharam que ela já estava senil, nem registraram o boletim de ocorrência, a despacharam delicada e rapidamente, mas, o policial Eduardo Nogueira, ficou com aquilo martelando a noite toda na cabeça, então, resolveu investigar à paisana, por conta própria e com o que viu, estava abismado, era real o poço dos infantos, pobres criaturinhas.
Voltou à delegacia, sem saber como encontrar a velhinha para conseguir mais detalhes, mas, como não haviam registrado o boletim, não teve como localizá-la, precisava de mais provas. Se muniu de câmera para filmagem noturna e se preparou para novas campanas, o absurdo se repetiu por três vezes naquela mesma semana, Eduardo, se retorcia de asco, não podia permitir que aquilo prosseguisse na impunidade.
No sexto dia de campana, conseguiu flagar dois casos seguidos de mulheres lançando seus recém paridos bebês no maldito poço, sua ânsia de vômito estava quase saíndo pela culatra, mas, precisava se controlar e registrar os fatos, fez o que tinha que fazer e já estava indo embora, quando uma ideia veio à sua mente, fora uma coisa muito imbecil, saberemos depois. Eduardo resolveu fotografar o que fosse possível dentro do poço fumacento. A imagem embaçada na Polaroid não desvendava nada, mas, os pedacinhos de corpinhos ainda não totalmente carbonizados, se tatuou em sua mente, para todo o sempre. Correu dali sem a mínima esperança, de que um dia fosse se sentir fora daquele quadro, de fato. Suas expectativas de que denunciando com imagens, iria fazer com que as autoridades fossem enfim, acabar com aquele poço dos infernos, foram por ralo abaixo, os fantasmas e visões que se apoderaram dele o faziam ser visto como um louco, foi ficando cada vez mais desnorteado, um resto de ser humano que só repetia uma larainha...poço do forno, infantes queimados...poço do forno, infantes queimados...
Eduardo Nogueira, foi se esquecendo as outras palavras, esquecendo pessoas, cuidados pessoais, por fim esqueceu-se de tudo, vagava pelas ruas até que um dia, foi recolhido, num casebre, por uma pretinha velhinha, que cuidou dele até fenecer por completo, tendo como palavra do último suspiro...poço...
Grávidas que depois de parir, como por encanto, apareciam sem seus filhos como se nada tivesse acontecido, nunca tivessem parido. Isso nos últimos dois anos vinha sendo uma constante, no Morro do Forno, no subúrbio daquele município. A coisa estava ficando estranha demais, começando a chamar a atenção das autoridades. Numa campana, um policial percebeu uma movimentação um tanto sorrateira, próximo a uma enorme árvore que ficava junto a um poço, de onde sempre saia rolos de fumaça. Para os policiais, aquele era um lugar para queimar lixo ou folhas secas, só que o que ele viu foi absurdo, inominável cena. Uma jovem, trazendo um bebê nos braços, simplesmente o atira no poço em chamas, saindo impassível, como se aquilo fosse um fato normal e corriqueiro, o policial vomitou e sem forças para uma reação, ficou em seu ponto de observação, congelado de horror. Aquela campana não era autorizada, uma denúncia precisava ser investigada, mas, ninguém levou a sério, aquela velhinha negrinha e pobre, que numa noite de chuva, aparecera na delegacia informando que, no Morro do Forno tinha um poço onde descartavam as crianças rejeitadas e não desejadas. Acharam que ela já estava senil, nem registraram o boletim de ocorrência, a despacharam delicada e rapidamente, mas, o policial Eduardo Nogueira, ficou com aquilo martelando a noite toda na cabeça, então, resolveu investigar à paisana, por conta própria e com o que viu, estava abismado, era real o poço dos infantos, pobres criaturinhas.
Voltou à delegacia, sem saber como encontrar a velhinha para conseguir mais detalhes, mas, como não haviam registrado o boletim, não teve como localizá-la, precisava de mais provas. Se muniu de câmera para filmagem noturna e se preparou para novas campanas, o absurdo se repetiu por três vezes naquela mesma semana, Eduardo, se retorcia de asco, não podia permitir que aquilo prosseguisse na impunidade.
No sexto dia de campana, conseguiu flagar dois casos seguidos de mulheres lançando seus recém paridos bebês no maldito poço, sua ânsia de vômito estava quase saíndo pela culatra, mas, precisava se controlar e registrar os fatos, fez o que tinha que fazer e já estava indo embora, quando uma ideia veio à sua mente, fora uma coisa muito imbecil, saberemos depois. Eduardo resolveu fotografar o que fosse possível dentro do poço fumacento. A imagem embaçada na Polaroid não desvendava nada, mas, os pedacinhos de corpinhos ainda não totalmente carbonizados, se tatuou em sua mente, para todo o sempre. Correu dali sem a mínima esperança, de que um dia fosse se sentir fora daquele quadro, de fato. Suas expectativas de que denunciando com imagens, iria fazer com que as autoridades fossem enfim, acabar com aquele poço dos infernos, foram por ralo abaixo, os fantasmas e visões que se apoderaram dele o faziam ser visto como um louco, foi ficando cada vez mais desnorteado, um resto de ser humano que só repetia uma larainha...poço do forno, infantes queimados...poço do forno, infantes queimados...
Eduardo Nogueira, foi se esquecendo as outras palavras, esquecendo pessoas, cuidados pessoais, por fim esqueceu-se de tudo, vagava pelas ruas até que um dia, foi recolhido, num casebre, por uma pretinha velhinha, que cuidou dele até fenecer por completo, tendo como palavra do último suspiro...poço...