A MAÇÃ SABOR INVERSO

Uma barraca de feira, miúda, abandonada em plena feira, sob sua banca, uma única cesta com seis lindas e vermelhas maçãs. A rotina da lida acaba, os feirantes desarmam as barracas, vão recolhendo suas mercadorias, até que alguém percebe, a pequena barraca abandonada e a cesta com as lindas maçãs, ninguém à vista, deixaram pra lá...

Quase três da tarde, um rapaz tímido, com os olhos baixos, parecendo inseguro, observa as maçãs abandonadas e não vendo um dono, pegou uma delas e pôs-se a saboreá-la, poucos minutos depois, ele andava com porte altivo, cabeça erguida, com semblante destemido, até mesmo com um ar arrogante, entrando em um bar, pede uma cerveja e com a demora no atendimento, soca o atendente e destrói parte do balcão de vidro, fugindo em seguida. Poucos minutos depois, um rapaz inseguro, de olhos baixos, chega à sua casa, abre a geladeira, pegaum refrigerante, senta no sofa e  liga a televisão, de nada se lembra, nem sequer entende o motivo da polícia estar na sua porta.

Em outro ponto do bairro, uma garotinha doce e sorridente,come uma linda maçã, que seu avô trouxera da feira, e do nada, pega um gatinho, seu filhotinho de estimação, o atacando às dentadas até ele com as entranhas à vista, morre sem mais miados, poucos minutos depois, ela segue brincando no jardim de casa, nem mesmo reparando, nos olhos atônitos dos vizinhos, de nada se lembra e em sua inocência, não entende o horror nos ohos de seu pai e o desmaio de sua ruiva mãezinha, sirenes começam a ser ouvidas, ao longe.

Bem próximo da praça da feira, um rapaz gordinho e guloso, numa pausa na pelada com os amigos, vai à cata de uma sombra e avista, a cesta com as quatro maçãs, logo a boca se encheu d' água, olhando para os lados e sem ver ninguém, pegou uma delas e saiu mastigando ao encontro dos colegas, chegando perto, pegou a bola e a rasgou com dois puxões, bateu com a cabeça do seu melhor amigo contra um poste, o rapaz desmaiou na hora, ele por sua vez, gargalhou de uma forma sarcástica, como se estivesse extasiado de prazer, o horror tomou todos à sua volta, o agarraram, mas, em sua fúria e transtorno, ele saiu distribuindo socos, com uma brutalidade absurda, mas, do nada pára de súbito, olhando o estupor em torno de si, sem entender o que acontecia, de nada se recordava,

No local da feira, as outras três maçãs, já haviam desaparecido, o que mais estaria acontecendo de estranho, naquele bairro?


Cristina Gapar
Rio de Janeiro, 30 de abril de 2016.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 30/04/2016
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