O FAZEDOR DE ANJOS
 
Franca determinação era no que consistia a vida de Lídia, moça jovem, franzina e bela. Nenhum percalço em sua vida a impedia de prosseguir, sensata, sóbria, sorridente e altiva. Sua fé e força no seu sábio pensar, a fazia íntegra, sempre lúcida e fiel aos seus princípios, parecia que nada a podia abalar. Um dia de chuva intermitente e morna, sem qualquer importância constatada, Lídia invade um supermercado, passa pelos corredores, pega no setor de utensílios culinários dois enormes facões e sai esfaqueando as pessoas que passam por ela, numa fúria desabalada, não escolhe a vítima, apenas, crava o facão e prossegue insana, até chegar ao caixa, onde tira um dinheiro do bolso, deposita junto a um dos facões sobre o balcão e serenamente com as vestes ensanguentadas, tira com o outro facão, a própria vida, deixando ao seu redor, muita dor, sangue, lágrimas e um estupefação absurda. Nada foi apurado para que se pudesse entender, o motivo do surto mortal, sua vida foi levantada inteiramente, nenhum problema ou desafeto parecia existir na vida daquela moça, que pudesse esclarecer tamanha desordem mental. Algumas semanas depois, aparece nas redes sociais, fotos de Lídia, sobre uma cama tipo maca, aparentemente suja, embalando um feto incompleto, ensanguentado, parecendo ter saído dela própria e uma nota de rodapé, dizendo, jaz aqui em meus braços, o último inocente da Terra, espero que você Dr.Jorge Aparício Nunes de Oliveira, fazedor de anjos, agora esteja satisfeito...   


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2016
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 19/02/2016
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