PEQUENOS LÁBIOS RUBROS (microconto)
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2015.
Pequenos lábios rubros pintados, carregados de sarcasmo, junto com um olhar verde ferino, gargalha desbragadamente na noite chuvosa, daquela pacata cidade do interior do sul do País. Ao seu lado a face amorenada que possui um olho vendado, morto em sua órbita vazia, sorri entre dentes, conivente. Planejada a vilania dessa noite, seguem na empreitada macabra e fria. Sorrateiros e mordazes, se se pa ram em busca da vítima há três dias escolhida, em passos lentos numa esquina de pouca iluminação, aguardam até que o comerciante feche sua loja de construção, sabem que ele leva para casa a féria da noite, para só pela manhã ir até ao banco fazer o depósito, já vigiavam seus trajetos rotineiros com extremo cuidado. Certeiros e silentes, eles o cercam, lábios rubros pega a maleta e foge rapidamente, deixando à face amorenada de olho vendado, a tarefa de se livrar do comerciante, algo dá errado, o homem está armado e com um tiro à queima roupa põe por terra a face amorenada, mas, também cai de bruços ensanguentado, com o punhal do olho vendado encravado no pulmão. A uma distância segura, lábios rubros pintados observando a cena, gargalha seu sarcasmo, feliz por não ter com quem dividir os despojos, acende um cigarro e calmamente segue, pelas ruelas chuvosas, com um sorriso reticente e um olhar verde tranquilo, tendo por testemunha, só o frio da noite vazia.
Cristina GasparRio de Janeiro, 30 de setembro de 2015.