Esquizofrenia Parte VI
Capítulo VI
O número é o seis, seis, seis. Disseram que se virasse o álbum da Xuxa ao contrário o X viraria Six. Tudo bem que a música dela é uma merda, mas daí chamarmos de coisa do Diabo, chega a ser uma ofensa com o soberano das trevas. No canto mais longínquo do planeta, ou seja, na baixada do Rio de Janeiro, nasce o sexto filho. Qual o significado disso?^Nenhum. Não passa de mais uma boca a ser sustentada em tempos de crise. O cheiro da cachaça que parece fazer parte do hálito daquele pai. A mãe usa crack e fica pelas ruas, dando em troca de pedra. A casa não é suja, mas sim imunda. Aquele bebê vai usar a mesma fralda suja por dias. Os dedos queimados depois de tanto fumar. O segundo de transe faz esquecer a tragédia e desejar um novo segundo. A busca incessante. Reunidos em um terreno baldio, fumando um baseado e longe do tumulto daqueles bêbados, que vomitam por exagerarem e não terem fígado para suportar a dose extra. Aquele cretino pega a bacia de lavar roupa da dona da casa e vomita dentro, mergulhando o dedo em seguida e lambendo. Acorda com um saco de ração jogado sobre a cabeça, chacoalhando o pouco cérebro que lhe resta.
— Fogo!!! — Alguém grita.
Não passa de fogo no rabo de uma vadiazinha crente, chateada porque foi rejeitada por um galã de meia pataca. Todo mundo sabe que o carinha é um bosta, mas a crente do cu quente precisava dar a perereca de qualquer jeito. Mas não foi daquela vez. Até ignorou os preceitos da igreja e estava em ambiente profano, com intenções luxuriosas. A libido é mais forte do que os desígnios de Deus. Nenhum empecilho a mulher casada que resolveu dar para o pastor. Fodida com vontade na cama do casal, quando o marido havia saído para trabalhar. Taxista que passava a noite defendendo o ganha pão e o par de chifres. A mulher quando gozava louvava a Deus por isso. O que uma boa foda não é capaz de fazer? Mais tempero no caldeirão, já que a feijoada está começando a ficar insossa. As partes do porco, após ter sido morto de forma inapropriada, com quatro homens com seus pés pisando nas patas do bicho e espetando o coração com a habilidade de um matador de suínos. O animal grita, muito mais do que o galo degolado que saiu pelo quintal com o pescoço pendurado, deixando uma trilha de sangue. Quanto rituais voodoos precisaram ser feitos para que se consiga honra os ancestrais e ao mesmo tempo afugentar esse mal que é nossa própria consciência? O morcego continua a espreita, pronto para voar no pescoço e dilacerar a jugular.
Reunindo-se em sala com ar condicionado, biscoito pequeno e refrigerante, para se discutir sobre satanismo. Tudo muito convencional. O livro do Demônio é fácil de ser comercializado, já que o mercado de jovens retardados cresce a cada dia. Andar de carro, invadir uma festa de aniversário de pessoas desconhecidas. Isso não tem preço. Beber whisky vagabundo e cheirar loló, depois de encharcar a roupa, borrifando o produto com embalagem de Leite de Rosas. Sim, ela vai sair para um encontro, com seus dentes cariados, borrifando dois jatos de Leite de Rosas para poder beijar com bom hálito. Talvez seja fácil entender porque o próprio beijo na boca é um hábito recente na história da humanidade. E na mesa o médium recebe o espírito, depois de beber um copo de água. A voz sussurrada parece ser a mesma para todos do outro mundo. É possível tentar segurar um peido na hora do passe, mas seria muito engraçado se não fizessem. O casal com seus vinte e poucos anos de casado. Estão esperando comemorar bodas de alguma coisa. Mas nem se beijam na boca, na bochecha também não. Ficam o dia todo fora para se verem o mínimo possível. Na casa dos avós os netos não se lembram de pedir a benção, mas esperam ganhar algum dinheiro e pegar algum doce.
— Encosta na viatura e abre as pernas... Estão fazendo o que aqui?
— Apena solhando a paisagem.
— Tem drogas ou armas?
— Não senhor.
— Quando a gente passar aqui de novo é bom que não estejam aqui.
O dia parece sempre maior na segunda-feira. Abrir os olhos e ir trabalhar. A merda do chuveiro queimou e agora só resta a água fria. Mandam economizar água. Banho rápido só com água gelada às cinco da manhã Mandem o governador economizar, o presidente ou as grandes indústrias. Fodem a gente o tempo todo. Senta num tijolo e abre a mão para ver as cartas na partida de buraco. Canastra. Parece que só tiro naipe de paus. Efeito bumerangue, você ferra hoje e amanhã é ferrado. Casa de ferreiro é assim mesmo. Soldando uma coisa aqui e outra ali, chassi adulterado e desmanche operando a mil.
— A casa caiu! Perdeu! Mão pra cima!
Na encosta o barraco caiu e matou a família. Lance de premonição, a vizinha disse que a doméstica havia comunicado um dia antes que sonhou ter engolido um monte de terra. Gaia. Poluição fazendo a gente tossir vinte e quatro horas por dia.
— Aí cobrado, deixa a gente pular a catraca.
— Está cheio de câmeras aqui e logo nem vai mais ter cobrador. Respeito meu trampo enquanto ele ainda existe.
— Por isso mesmo, os caras não estão nem aí. Alivia essa.
— Aí motô, os caras querem pular a catraca aqui.
Pisou no freio e já puxou uma barra de ferro. A porta de trás aberta e a molecada vazou por ali mesmo. Cheiro de maconha vindo da casa ao lado. Não adianta chamar a polícia para esse maloqueiros. Som alto até altas horas. Expulsou o cachorro e vomitou na casa do bichinho. O cachorro come o próprio vômito, mas o da gente é outra história. Ainda estão dando prêmio de melhor escritor ao Paulo Coelho. A Academia Brasileira de Letras, já faz tempo não passa de uma piada de mal gosto. Quanto mais togado, menos me toca. Na lápide do político falta o epitáfio: “Enfim, deixei de roubar.” Que roam até os ossos desses filhos da puta. Comemorando vestido de roupa íntima de mulher, cheiro nos peitos de uma puta e ainda se dizendo lorde. Os ingleses tem um senso de humor estranho. Revolução Industrial, Jack – O Estripador, Beatles, Frankenstein. E o Big Bang badalando do início ao fim. Fish and Chips é o Leviathan da contemporaneidade. Um brinde com cerveja a Hobbes.
— Cof... Cof... — Pausa para tossir fuligem.