Esquizofrenia Parte II
Capítulo II
Quando toca o samba, a dignidade do favelado vem á tona. As meninas mulatas rebolam e se mostram, diante da elite branca que aplaude dos camarotes vip’s. Cada artista promove o seu produto e consegue um bom dinheiro. As putas televisivas vão exibir seus silicones e os corpos fitness que estão na moda, na base de ração, shake e outras merdas que enriquece quem vende e deixa a pessoa com corpo de bonequinho de desenho de ação. Tem gente que acredita que a vida é um pouco mais, outros um pouco menos. Esperam a globeleza, mas o racismo está lá pra quem quiser ver. Solta o confete e a purpurina que o palco logo vai estar desmontado. Cada barraca exibe a mercadoria. Vai banda de bunda? Que tal um pouco de peito siliconado freguês? Se rebolar até o chão vira funk. Veja, funk e não fiuk. Já penso logo em ver o Michael Jackson aparecendo nas fotos das favelas, embora ele tenha tentado se tornar branco. Falta aquele orgulho negro dos Panteras Negras.
— Black Power, man!
Cada colarinho branco não passa de uma galinha-d’angola que merece ser degolado. Quem se importa realmente com as galinhas de Angola? Não nos importamos nem com a nossa própria granja. E pensar nesses resorts cheios de putaria, verdadeiro canjão, com aquela galinhada se espojando na água quente e cozinhando a periquita. A única coisa certa nesse tipo de lugar é pegar uma micose, devido a quantidade de mijo das piscinas. Mijar em piscina é quase orgasmático. Urina nos olhos dos outros é refresco de cloro. Cada mergulho é uma engolida. A vantagem das cachoeiras. Quanto mais alta a queda d'água menos merda você engole. Deixa as piscinas abaixo servirem de esgoto para quem se banha acima. E a mãe dando de beber para filha, dizendo que é água pura e que faz bem. Até que se deparam com aquele pedaço de bosta que vem boiando feito uma jangada. O pesadelo fecal de cada higienista puritano. Guardando seu otimismo furado no rabo. Saindo da sauna e pulando nas águas geladas, para aquele choque térmico que dizem fazer mal quando bebemos água gelada depois de ingerir café quente ou quando tomamos banho quente e saímos na friagem.
A função da sereia é destruir o homem, que acha que pode foder uma peixa, mas quem se fode é ele. De forma geral não se tem vocação pra Ulisses e muito menos possui uma Penélope. No máximo um par de chifres e um pé na bunda é o que vai encontrar depois de uma viagem considerada sem volta. Nos calcanhares de Aquiles, uma flecha pronta a espetar e muitos coçam achando ser apenas bicho-de-pé. Alergia quando ataca faz querer rasgar a pele. Coça, coça, coça. Toma uma coça de criar bicho nas costas. Tradição de espancamento que muito pai ensina ao filho esquecendo de que um dia envelhece e a surra volta. Vai e volta, bumerangue de vida. Eterno retorno, ainda que a escrita seja reta e as linhas tortas. Cada vale de curvas pautadas não vale muita coisa. Espreme um hífen e acredita que está tudo certo. Uma dose de conhaque vagabundo e está tudo resolvido. Serve direto do gargalo da garrafa quadrada de gente antiquada, mas que dizem descer redondo. Pensando na falta da bebida, só posso dizer:
— Volta redonda!
Todo amigo não vale muito quando descobrimos o nosso próprio valor. Jogo de interesses. Hoje o amigão te liga porque não tem porra nenhuma pra fazer e ninguém mais para dar ideia para os papos idiotas dele. Você se faz de bom amigo e sem ter o que fazer também vai lá e troca um lero. Falam de coisas dispensáveis e assistem a programa de bosta da TV. Televisão aberta é feito fossa. Está na fossa, porque namora uma garota que gosta de trepar com outros caras. É agora a hora de dizer que você também trepou com ela? Foda sem graça, mulher dura feito uma tábua, nem gemer não geme. Mas pra depositar porra, serve. Se fosse o contrário ele faria o mesmo. Eis a certeza da amizade. Mulher de amigo é homem, muitos dizem. Parece que muitos adoram transar com homens então. Basta uma faísca para começar um incêndio. Mas água mole em pau duro tanto ensopa até que estupra. Toda majestade deveria sofrer um crime de lesa majestade. Inclusive as peruas que adoram ostentar sua cafonice.
Quatro corpos encontrados. Vítimas de uma chacina. Não dizem nomes, apenas números. O número um foi alvejado na cabeça. O número três tentou escapar e foi metralhado na esquina. Um parecido com um desses parou o carro no sinal antes de ontem. Tentava vender um chocolate Bis, a caixinha completa e no abrir e fechar do farol, a tentativa de esvaziar a embalagem.
— Sai pivete! Não quero comprar nada! — esbravejou um motorista careca, de vidro fechado e cigarro na boca.
A molecada cercava os carros e motos. As pessoas viravam a cara. Nem olhavam os pés descalços e as camisas furadas. A cara encardida. O tempo passou. Um desses moleques cresceu um pouco. Bateu no vidro do carro. Cano de revólver, bala na agulha e dedo no gatilho.
— Passa logo a grana seu coroa de merda.
Antes de destravar o cinto o balaço na cara. O garoto corre entre os carros e some pelas avenidas. Alguém chegou a pedir o resgate pelo celular. Mas o fluxo de curiosos fez o trânsito engarrafar e a ambulância chegou atrasada. Mas não daria para fazer muita coisa. Era só mais um Silva e se tornaria um número também, não fosse o fato de ser considerado um advogado figurão da área. Passou nos jornais e logo vieram pedir a redução da maioridade penal. Apenas ficam esperando a oportunidade de foder quem já nasce fodido. Quem tem boca vai a Roma e quem tem costas quentes não sabe o que é um chilindró. Malandro é malandro e mané é mané. No sobe e desce do morro, com aquele baseado prensado e o povo do asfalto cheio de graça. E a P.M. pronta para miliciar. A molecada vê a P.M. e pensa “Puta Merda!”. Já chamam logo os policiais de porcos e depois se mijam na hora da sova dentro da D20. O pau canta e o malandrinho só diz “Sim Senhor, Não Senhor”. Solto o faz-me rir que está tudo liberado. Bebe-se o defunto de um só trago, deixando o morto na estica. Quanto vale um pobre? E se for preto? Olha quantos pretos tem nas cadeias e depois vai olhar quantos pretos tem fazendo Medicina. Desigualdade é isso aí. O pior cego é o que faz questão de não ver.