LOUROS, RUIVOS, ROSADAS E MORENINHAS GORDINHAS

Crianças brincando, três pequenas e rosadas e duas moreninhas gordinhas, aos gritinhos de alegria, era essa a imagem que Pedro e Inez vislumbravam, em sua caminhada pelas estradas floridas da Escócia, em sua primeira estada naquele País. Ao se aproximarem um pouco mais perto, perceberam alguma coisa estranha no caminhar daquelas crianças, corriam meio sem rumo, como se não se apercebessem umas das outras, resolveram se aproximar um pouco mais, e ficaram assustados com o que viram. As crianças não tinham olhos, suas pálpebras eram fechadas com linhas costuradas, mas, sem marcas de que tivessem sido feitas por agora, uma cena insótita e horripilante.

Pedro e Inez, seguraram um pouco seus passos louros e notaram que bem próximo às crianças de olhos costurados havia um par de corpos masculinos arruivados, deitados na relva verde luminosa, apenas admirando o brincar dos pequenos seres, tinham nas mãos vários carretéis de linhas cor de rosa pálido e uma pequena sacola estendida aos seus pés. Os passos louros resolveram então, se abaixar para que os corpos arruivados, não notassem a sua aproximação e presença, a situação era no mínimo inusitada e estranha.
As crianças pareciam felizes, corriam meio desnorteadas aos gritinhos, não parecendo se importar com os olhos costurados.

Os ruivos corpos estavam deleitados com a brincadeira das crianças, não pareciam estar causando qualquer transtorno às pequenas e frágeis criaturas. Quando Inez e Pedro começaram a se movimentar de novo em direção ao grupo, um dos ruivos se levantou, pegou uma das crianças rosadas e simplesmente lhe arrancou um dos braços com uma facada certeira, sem que a pobre e indefesa criança esboçasse qualquer suspiro, pegou o bracinho e o comeu, e a criança continuou brincando, com o sangue escorrendo para o tronco como se nada tivesse acontecido, nesse momento, Inez e Pedro paralisaram no tempo e no espaço, congelaram de terror, se deitaram na relva luminosa, quase como que assumindo sua forma esverdeada, tão grudados no solo ficaram. Se entreolharam e abismados não sabiam o que fazer, os corpos arruivados eram altos e em fortes e apesar do semblante alegre, comum aos escoceses, aquela situação era macabra e impensável. Que criaturas seriam aquelas?  Pensavam os passos louros.

Pedro e Inez, ficaram aterrorizados, ao ver que mais uma vez, o ritual se repetia, agora com uma das moreninhas gordinhas, a cena foi a mesma, só que desta vez ele passou o bracinho para o outro homem arruivado, e continuaram esparramados na relva, observando placidamente as crianças brincando, duas com sangue escorrendo de seus troncos, aos gritinhos de alegria.

Os passos louros incrustados no solo calados e totalmente estarrecidos, ficaram por alguns minutos sem saber como agir, então, devagar e silenciosamente começaram a se esgueirar, para longe daquele horror todo, quando se levantaram deram com os dois corpos arruivados e fortes bem defronte aos seus olhos. Três horas depois, tudo que se ouvia naquela imensa relva esverdeada e luminosa, eram gritinhos alegres de crianças, que não se sabia de onde vinha, pois só havia uma enorme planície relvada e vazia, uma estrada de terra, ladeada de flores multicoloridas e um lindo céu azul, límpido de nuvens.
 


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2015.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 06/07/2015
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