Legião Parte VI
Capítulo VI
{Canibais}
Os antropófagos existem desde épocas que remontam aos primeiro hominídeos. Diversas tribos adotaram essa prática, inclusive determinados grupo indígenas do Brasil na época da colonização. O fato é que comer carne humana faz parte da cultura do homem e que com o passar do tempo foi se tornando culturalmente como algo inapropriado. Casos extremos como os ocorridos em acidentes, onde diante da morte a pessoa faz a escolha em consumir os mortos, tais hábitos são vistos de forma geral como anomalias de comportamento. Na Legião, Leonel era considerado e apelidado de Hannibal. Não apenas pelos hábitos alimentares, mas também pela sofisticação, dedicação aos estudos, conhecimentos anatômicos e gosto refinado pelas artes.
Sua realidade de infância foi penosa, fazendo com que tivesse que escolher entre a vida do pai e da mãe diante de um ato de ira do seu genitor. Abandonado na comunidade rural onde residiam, foi obrigado a sobreviver nos bosques e a consumir carne animal conseguida em suas caçadas. Mas a primeira carne humana que provara havia sido a do próprio pai, já que ficara encarregado de sumir com o corpo para evitar suspeitas. Como a mãe o abandonou e pediu que não mais retornasse, já que tinha receio de Leonel, com sua natureza agressiva, tentar causar alguma mal aos seus irmãos. No desespero da fome, consumiu o próprio pai e aprendeu que poderia fazer daquela necessidade um hábito. Conseguiu se empregar a partir de favores que estranhos lhe concederam e seu desempenho e inteligência faziam com se destaca-se em todos os empregos. Sua formação foi primorosa e logo estaria recebendo belíssimos prêmios por conta de seus projetos universitários. Também investiu na área culinária e logo pode utilizar sua criatividade gastronômica, dando temperos especiais a carne humana e fazendo da mesma uma iguaria que servia em seus restaurantes, que eram frequentados pela elite.
As vítimas eram sempre muito bem escolhidas, com intuito de jamais levantar suspeitas. Corpos eram abandonados como se tivessem sido vítimas de assaltantes e engrossavam as estatísticas relacionadas a violência cotidiana. Descobriu como existiam partes do corpo humano que eram mais suculentas e de sabor sem igual. As nádegas eram muito apreciadas, chamava-as de “cupim do homem”. O mais próximo que chegou de ser capturado foi quando resolveu investir em carne de crianças. O sumiço de crianças na sociedade atual chama mais a atenção da opinião pública e começaram a criar uma linha de raciocínio que ligava os crimes cometidos nos últimos anos. Havia sequestrado uma garota na porta da escola, procurando cortar-lhe a garganta a aproveitar ao máximo seu órgãos para fazer uma feijoada, que serviu com maestria aos convidados. Entre os convidados estavam os pais da garota, que foram chamados para o evento por Leonel, que por ser uma pessoa carismática e dono de uma certa fortuna, demonstrou interesse no sumiço das crianças e se prontificou a não poupar esforços em auxiliar a sociedade. O jantar foi uma espécie de convite a que todos se empenham-se na causa e não se omitissem diante do que chamou de “calamidade contemporânea”.
Na Legião, Leonel não precisaria mais fugir das autoridades. A oferta foi irrecusável. Era inteligente para saber que o cerco se fechava. Agora teria missões onde poderia não apenas liquidar inimigos, mas também angariar carne de primeira, já que era possível em uma investida, servir-se dos presentes a situação. Alguns membros evitavam provar dos pratos deliciosos e bem decorados que ela preparava durante das missões. Outros não resistiam e acabam se tornando apreciadores, pedindo que demonstrasse novos pratos. Adrian se recordara de quando atacaram um grupo que pertencia a uma organização terrorista. Estava muito quente e resolveu se abrigar dentro de um galpão. Observara que Leonel havia retalhado os mortos, tirando bifes com uma lâmina afiadíssima e depois utilizou o aro de uma roda de caminhão para improvisar uma churrasqueira, com o arame servindo de grelha. Disseram que foi o melhor churrasco que tiveram a oportunidade de provar.
“o desejo selvagem, o ardor,
de misturar o sangue e as feridas
aos gestos e caretas do Amor
e de achar, debaixo das mordidas
que perpetuam o sabor dos beijos,
os soluços da amante e os seus ais…
ah! rudes e intranqüilos desejos
de meus antepassados canibais…”
(Leon Laleau)