Ômega Parte XVII(Final)

Capítulo XVII

[Eterno Retorno]

Após a morte de deus, ômega voltara ao Inferno, encontrando Lúcifer e Lilith. Quando resolveu dirigir a primeira palavra, os dois seres se fundiram em um só. Uma criatura magnífica e que emocionava com sua beleza.

— Então vocês sempre foram o mesmo.

— Androgynos.

— Me recordo desde as leituras, Eósforo e Héspero, Estrela D'Alva e Estrela Vésper. Então você é meu pai e minha mãe, além de ser meu amante.

— Com todo o amor que puder existir.

Se abraçaram e se beijaram, para que Ômega pudesse seguir a morada dos Deuses Antigos. O lugar onde havia as formas mais espetaculares e criadores inclusive do deus que havia sido derrotado recentemente. Ao chegar na Grande Passagem, o Porteiro, apenas observou Ômega e fez um sinal para que passasse. O que viu do outro lado era algo impossível de conceber, já que a imaginações e torna refém daquilo que conhecemos. Mas Ômega conseguia ter alguma noção, já que também recebera na sua concepção uma parte genética que provinha desse outro lado. Flutuava em grande velocidade por esferas gigantescas, até chegar a uma espécie de palácio, onde em um salão suntuoso estavam reunidos centenas de seres colossais. Conseguiu uma audiência uma dezena deles e se dirigiram a um outro salão mais modesto, onde se dispuseram em círculo, diante de algo que fazia lembrar uma mesa. O primeiro da esquerda para a direita abriu a sessão:

— Seja bem-vindo, Filho dos Eternos.

— Agradeço por terem me recebido.

— Cedo ou tarde nos encontraríamos.

— Venho em paz.

— Conhecemos suas intenções antes delas existirem.

— Aqui seria o Início?

— Quem disse que precisa haver um?

— Vocês criaram as esferas e os deuses que nelas habitam.

— De fato... Mas e quem nos criou?

A resposta atingiu Ômega como um soco no estômago. Recuperou o fôlego e prosseguiu em sua sabatina:

— Mas qual o propósito?

— Não existe propósito além da falta de propósito.

— Mas pra que seguir então uma ordem?

— Nunca existiu tal ordem, apenas enxerga um ordenamento porque o cérebro humano tende a tentar criar essas razões de existir..

— Mas mesmo o Caos não seria uma ordem não conhecida?

— A própria ideia de caos parte de uma razão.

— Mas é pela razão que estamos aqui.

— Justamente por você ainda estar dependente dela. Nos rebaixamos a ela para atender aos seus desejos e lhe conceder essa audiência.

— Mas sem razão, o que resta?

— Tudo.

— Mas não seria o Nada essa não-razão?

— Nada é Tudo.

— Como se atinge isso?

— Você busca isso por fazer parte de tudo que existe, o verdadeiro sentido. Atingindo essa etapa compreenderá sem necessitar de um raciocínio sequer.

Enquanto conversavam, Ômega sentia a influência dos outros Seres ali presentes, a forma como acessavam sua mente e as informações que transmitiam a todo momento, num fluxo nunca antes sentido e que muitas vezes o levava a exaustão, precisando de longas pausas para se recompor. Sendo interrompido por seu interlocutor:

— Não se preocupe com o Tempo, aqui ele nos é indiferente. Ele só existe onde alguns sentiram a necessidade de fazê-lo presente.

Uma centelha havia se desprendido e parecia ter alcançado Ômega, que numa espécie de Despertar, começou a elaborar um sentido. Fazendo com que interrompesse a audiência, agradecendo de forma respeitosa aos presentes e se dirigindo a Lúcifer, que habitava um lugar que não era mais conhecido como Inferno, mas sim como a Casa de Luz ou dos Iluminados. A chegar beijara os lábios do seu genitor e começara a expor a sua vontade:

— Deixo em suas mãos a governabilidade dessa esfera. Conhece muito bem os que aqui habitam e sabe melhor do ninguém as minhas intenções.

— A audiência com os Antigos iluminou você?

— Acredito que tenha percebido um sentido a seguir e estou colocando-o em prática. Agradeço por toda confiança depositada e a devolvo com todo o carinho e respeito. Os mundos antes separados, agora fazem parte de uma comunhão. Todos irmãos e que irão regressas a sua Majestade quando cruzarem a fronteira entre a vida e a morte, que não passam de duas faces de uma mesma moeda existencial.

— Honrarei você meu filho e a cada ser que faz parte da sua herança.

Se beijaram e se amaram como despedida. Um pedido final de Ômega veio em seguida:

— Faça de nosso filho o nosso sucessor.

A partir dali, foi possível ver nos olhos de Lúcifer as lágrimas que caíam como gotas de ouro num orvalho ocularmente solar. Ômega sentira naquele momento cada ser, desde os planetas remotos onde existiam espécies com diferentes modos de vida e biologias atípicas das encontradas na Terra até se dedicar ao planeta natal, precorrendo cada pessoa, planta, animal, rocha. Enfim, fazendo parte daquele Todo. O homem idoso tossindo deitado no leito de um hospital, a respiração ofegante da mulher tendo um orgasmo, a baforada do adolescente fumante, a mão do rapaz segurando o gatilho de uma arma encontrada em escavações, os olhos dos pais diante do filho que acabou de nascer, o choro da filha no enterro da mãe, o bebê dando chutinhos no ventre da mãe, o menino se habituando a usar óculos, o professor se esforçando em explicar a lição, a frustração do médico ao perder seu paciente, a alegria do sujeito que perdera uma perna e agora participava de uma maratona, a vitória dos que se enfrentavam em uma competição, a satisfação do gato mordiscando um grilo e o sofrimento do grilo que agonizava, o vento fluindo pela vegetação, fertilizando campos, agredindo as rochas, como a a força do mar arrebentando sobre as areias. Era muito mais do que se poderia descrever. Desfragmentando em seguida e fazendo parte de cada uma dessas existências, como minúsculas centelhas que se agregaram a tudo aquilo que faz parte de si, compondo a Grande Fogueira da Vida e a Brasa das Cinzas da Morte. Era Tudo e não era Nada, sendo Todos passou a ser Ninguém. Um corpo estava lá, como tantos outros, chamado Ômega, apaixonado pela Ana Carolina, envelhecendo, sofrendo, feliz, ou seja, vivendo. Lúcifer observava de longe, sabia que amaria cada um daqueles fragmentos e que o altruísmo havia sido completo. Todos são filhos do Filho. Irmãos. Se um dia houvesse alguma nova grande ameaça, talvez aquela figura máxima viesse a ressurgir dessa fragmentação. Mas agora cada um fazia sua escolha e se responsabilizava pelos seus atos. A falta de ídolos faria com que alguns criassem novo avatares. Mas o ciclo continuaria, porque o Amor é o grande Eterno Retorno, que se renova a cada instante sendo o Mesmo.

αFIMω

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 01/07/2015
Código do texto: T5296157
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