Ômega Parte XVI
Capítulo XVI
[Ecce Homo]
Após deixar o Inferno, Ômega se dirigiria ao Céu. Adentrara aquele que outrora fora domínio dos Anjos e chegando às portas do Céu, invadiu um suntuoso salão, a Morada dos Santos. Se deparou com grandes homens que triunfaram em nome da fé, desde Gandhi até João Paulo II. Disse que iria libertar os que estavam naquele limbo e com um golpe devastador fez com que engrossasse o número de caminhantes no Reino dos Mortos. Em seguida se deparou com os apóstolos, tanto os seguidores de Cristo quanto os de Maomé, varrendo-os do mapa também. Maomé foi o próximo a aparecer, portando sua espada e acabou sendo destroçado sem grande esforço. Maria tentou interceder por seu filho, mas acabou também trespassada por uma lâmina luminosa, sucumbindo diante do invasor.
Na câmara principal, Jesus aguardava em trajes simples e semblante de padecimento. Suas palavras saíram de forma resignada:
— Te encontrar aqui era algo esperado por mim.
— Confesso ter essa curiosidade, já que muitas vezes duvidei se realmente havia existido.
— Muitos possuem essa dúvida, meu filho.
— Me considera seu filho?
— Como todos os homens.
— Ainda que eu não faça parte de forma completa da raça humana?
— A forma como luta pelo homem demonstra ser um homem completo.
— Mas sabe porque estou aqui.
— Claro que sim. Devo adverti-lo que sua postura causará uma transformação que pode ir além daquilo que supusera.
— Isso é o que me motiva.
— Pretende ser o Senhor dos homens?
— Não tenho tal pretensão.
— Mas a sua postura é de dominante.
— Foi um mal necessário. Como em certas teorias, por exemplo as marxistas, onde para se chegar ao último estado, o chamado Comunismo, precisaríamos antes passar por posturas mais rígidas.
— Sim. Muitos teóricos vieram a mim.
— E no final, pra que serviu tamanho sacrifício? Já que o mundo desde então continua seguindo rumo ao abismo.
— O propósito é maior, como você mesmo disse.
— E por isso estou aqui, criar um novo propósito.
— Você me odeia?
— O que me move não é o ódio.
— Não te comove o meu sacrifício?
— Considero que seja seu e sinto comoção. Mas estender aos homens como forma de torná-los reféns de uma promessa, considero que seja uma contradição, já que o ideal deveria ser libertar.
— Existem muitas formas de se chegar a um objetivo.
— Por isso utilizei as minhas e cheguei até aqui.
— Sou um adversário insignificante. Mas passando por mim, o desafio estará muito além do que possa imaginar.
— Estou disposto a enfrentar o que vier.
— E quanto ao amor ao próximo?
— Não existe ouro motivo além desse.
— Então crê em mim.
— Creio no mesmo que você, o que é muito diferente.
— Não posso renegar o Pai.
— Por isso terá uma morte honrosa.
Dito isso, Ômega com um golpe rápido, fez Jesus tombar sobre aquele piso. Observava a cabeça portando uma coroa que não era mais a de espinhos e o corpo que antes fora afligido para ter esse lugar de destaque, à destra de Deus. Havia uma imensa passagem, ao fazer a travessia, encontrou um local que parecia um novo Universo, representado por duas colunas que sustentavam duas potências. De um lado a inscrição dizia Allah e do outro Jehovah. Sabia que a única maneira de ultrapassá-las seria destruir os selos que as interligavam. Fazendo isso, libertaria as duas potências. Sem hesitar, rompeu os selos sagrados e um estrondo maior do que qualquer outro visto aconteceu. As duas potências se uniram, formando um único Ser. Uma voz estrondosa se manifestava em sua mente:
— Eis-me aqui, o seu Deus.
— Estou aqui para provar-lhe que não sigo nenhum deus.
A batalha magnífica começara. A cada forma uma destruição, dissolvendo cada possibilidade de ômega reagir, reduzindo-o por fim a seu estado normal, dilacerando sua armadura e expondo seu corpo, que recebia golpes que o faziam atravessar barreiras temporais, criando sequências de memórias e fissuras no espaço-tempo.
— Você tenta continuar a obra de Lúcifer. — Foram as palavras de Deus.
— Meu objetivo é avançar em minha própria obra.
Duelaram por um mês, exaurindo forças, até que Ômega sacou um trunfo, transformando-se no Beyonder, personagem da raça inumana da Marvel, que possui a habilidade de alterar a realidade de acordo com aquilo que imagina. Ao se concentrar imaginou a derrota de Deus e mais, este Ser Supremo sendo absorvido e desintegrando em sue corpo junto com o personagem que havia se transformado, como uma forma de extinguir ambos. No momento dessa execução, uma espécie de Big Bang se formou e tentou engolir toda aquela realidade, sendo contido pelos poderes invocados da força de Alpha, fazendo com que essa contraparte sua também se desintegrasse. Não mais haveria aquelas alterações de humor e memórias misturadas que se fizeram parte de sua vida após ter derrotado seu arqui-inimigo. Ômega parou diante do Universo e olhou para a imensidão daquele suposto vazio, deixando escapar da sua mente as palavras sentenciosas:
— Deus está Morto... E eu o matei!