Ômega Parte XV

Capítulo XV

[Origem]

Ômega vivia um romance, mas sabia que não era como as outras pessoas. Não podia se iludir com aqueles momentos de felicidade. Retornara ao Inferno. Assumindo a forma de Brahma por mais uma vez, enfrentou Belial e o fez sucumbir, encontrando Leviathan, que depois de uma batalha dura, também sucumbiu. Adentrara finalmente os domínios de Shaitan, com sua forma demoníaca que causara tanto pavor ás pessoas ao longo dos tempos. Os poderosos cornos do Diabo davam um ar ainda mais esplêndido. A voz tonitruante ecoava pelos vales de fogo:

— Então resolveu me afrontar?

— Então resolveu me afrontar?

— Assim como todos os outros que se tornaram obstáculos a meus objetivos.

— Saiba que não sou o Adversário sem uma razão. Esmagarei você como o inseto que é e criei um reinado nunca antes imaginado. Destruirei essa raça humana fraca e farei uma legião de seres poderosos.

— Poderosos como os que destruía ao invadir o Inferno?

— Zomba enquanto pode.

Após esta frase, Satanás iniciou uma batalha terrível contra Ômega, acabando por fim, derrotado. A cabeça fora arrancada e jogada no mar de fogo. Logo as portas de uma nova câmara de abriram e dentro do local uma figura extraordinária. Suas formas femininas eram de uma beleza suprema e existia algo de familiar naquele olhar. Uma voz sedutora se revelou:

— Entre Ômega... Sou Lilith!

— A primeira esposa de Adão.

— Mais do que isso... Estou entre as criaturas mais antigas. Adão foi uma das propostas, mas que por ter me negado a ser subserviente, recebi castigos incontáveis.

— Mas porque você me parece tão familiar?

— Quando estive na Terra, te visitei com a forma e o nome de Psi.

Agora Ômega compreendia perfeitamente. Era a sua amante. A pessoa a quem havia se entregado e sentido aquela forte atração desde o primeiro contato. Diante de tal informação, necessitava de respostas:

— Porque resolveu me avisar acerca dos próximos acontecimentos?

— Meu desejo era preservar-lhe. Não deseja que um dano maior viesse comprometer a sua existência.

— Foi a pedido de Soma?

— De certa forma sim, mas também conforme minha vontade. Era preciso mudar a ordem que existe e você é a chave para a mudança.

— Mas porque essa interferência? Muitos outros Demônios não fizeram e inclusive os combati aqui no Inferno.

— Instinto maternal.

— Como?!?!

— Sou sua mãe!

As palavras caíram como adagas que perfuravam o peito de Ômega. Estava diante de sua mãe. Fervilhavam perguntas em sua mente.

— Ana...

— Ana, como lhe foi revelado, serviu como invólucro para conceber sue corpo terreno. Eu como sua mãe, procurei reunir características de diversos seres que fazem parte da existência desde tempos insondáveis. Consegui guardar um pouco da essência de cada um dos amantes que possuí e essa formação genética foi o seu legado. Suas habilidades são a herança que te ofereci, meu filho.

Era possível sentir que aqueles informações eram verídicas, podendo conceber em sua mente imagens fragmentadas de eventos passados. Sendo interrompido ao tentar ordenar os pensamentos:

— Não sou sua inimiga. Caso queira me abater, estou á sua disposição, continuarei a te amar.

— Também não a considero minha inimiga e sinto a verdade em seu olhar.

Se abraçaram e se beijaram.

— Depois que nos envolvemos na Terra, Ômega, retornei com uma proximidade ainda maior de você.

— Não compreendo.

— Estou carregando um filho seu.

Ômega congelara diante da notícia e ao mesmo tempo um sorriso se esboçou. Pronunciando a palavra:

— Pai!

— Sim. Filho e irmão, fazendo parte de uma prole que anuncia uma Nova Era.

Mais uma vez se beijaram e Ômega afagava o frente, observando os contornos daquele corpo magnífico, coberto por um traje semelhante ao que cobrira seu corpo no momento em que suas habilidades se manifestaram. Realmente era sua mãe e podia sentir o filho se desenvolvendo. Ainda necessitava fazer mais uma pergunta:

— Porque fui batizado como Ômega?

— Você foi o resultado de todo um processo de concepção, o fim de uma Era e consequentemente, o início de outra. A inspiração dos gregos foi marcante na escolha, devido a sua contribuição em relação a nossa forma de pensar. Jamais concebemos os homens como inferiores e por isso não os deixamos de fora no processo. Por muito tempo daqui observo e visito a Terra, sei das potencialidades. Mulheres magníficas honraram meu nome através dos tempos.

Nesse momento uma segunda porta se abriu.

— Caminha e encontra seu próximo destino, meu filho.

Com estas palavras, Ômega foi em direção a próxima câmara, encontrando um lugar paradisíaco, com uma arquitetura que representava o belo em si. No fundo, sentado sobre um trono majestoso, um ser, que se levantou diante do visitante. Era de uma estatura colossal, com asas que se abriram vigorosas, vestindo uma armadura reluzente. A voz de deidade se pronunciou:

— Seja bem-vindo! — E o ser acenou levemente com a cabeça, quase como um gesto de reverência.

— Lúcifer?

— Sou eu... meu filho.

Mais uma vez a informação oprimiu seu peito, sentindo o peso daquela informação e precisando respirar fundo por um momento.

— Não há o que temer. Não sou seu adversário. Apesar de todo filho ser o declínio dos pais... Confesso estar feliz diante de você e orgulhoso, ainda que me custe a existência.

— Sou filho de muitos pais.

— Mas tem um principal, podendo dizer que sou aquele que deu liga a esse emaranhado genético. Acompanhando seus passos. Te visitando como Soma, depois como Sigma.

— Tenho tantas perguntas.

— Que ótimo! Não esperava menos de você. Quem busca respostas acaba findando em sua verdade lodocenta. Mas as perguntas são a grande chave dos mistérios. Questionar alimenta o ser que busca o não conformismo. Você abandonou a forma e vejo sua transformação como uma dádiva.

— Me sinto menor diante de você.

— Está lidando com novas noções de perspectiva. Logo observará, como bem expôs Hermes Trimegistvs, que cima e baixo fazem parte de uma mesma estrutura e a forma como visualizamos é que vai ser o fator determinante. Mas que no fim, alteramos a forma quando é possível saltar para fora dela.

— Me sinto bem por ser meu pai.

Um abraço e um beijo selou aquele momento.

— Ainda tenho muito o que fazer, meu pai.

— Você faz o seu destino... Já ultrapassou muitos limites. Não será fácil dar o próximo passo, se assim desejar. Mas terá sempre o meu apoio e o de sua mãe.

Nesse momento Lilith cruza o salão e senta-se no trono ao lado, esboçando um sorriso radiante.

— Preciso ainda bater nas portas do Céu.

— Estaremos aqui, aguardando o seu retorno, pois acreditamos no seu triunfo.

— Mas o que será depois disso?

— A dúvida será a próxima criação.

Ômega tocou a face de Lúcifer com a ponta dos dedos e em seguida foi até Lilith, beijando-lhe os lábios e caminhando em direção a saída. Antes de sair proferiu as seguintes palavras:

— Estão livres. Me surpreendam transformando esse lugar e quando retornar... Se retornar... Espero que possam me ajudar diante do que virá.

— Que seja feita sua vontade. — Eis o que Lúcifer disse e Lilith consentiu com um aceno rápido.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 27/06/2015
Código do texto: T5291631
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