Ômega Parte XIV

Capítulo XIV

[Anjos e Demônios]

O sol brilhava como se aquela aurora fosse a primeira e a última. Ômega estava diante da Morada dos Anjos e seu pé esquerdo não vacilou ao entrar. O local era esplêndido, com templos titânicos, florestas repletas de árvores de cristal. Anjos não precisavam se alimentar e sua morada consistia de uma beleza marmórea. Logo nos primeiros passos, uma voz rugia feito um trovão, com uma figura enigmática se apresentando, ameaçando o intruso por ter ousado chegar até ali. Elemiah era o nome do Serafim e a batalha se iniciou. Como Gabriel havia previsto, com as transformações de ômega, conseguira liquidar o anjo. Logo vieram outros, ainda mais poderosos, fazendo com que o invasor precisasse invocar formas de grande poder. Conseguiu aniquilar os Serafins e logo estava duelando contra dos Querubin. Outra vitória esmagadora e enfrentara os Tronos. Chegara a vez das Dominações. Em seguida as Potências. Ainda não dando por satisfeito, lutou com as Virtudes. Os Principados vieram e logo depois os Anjos. Foi a batalha de uma década. Dos setenta e dois anjos, restaram apenas dez. Ômega invocara desde super-heróis incríveis, como o Super-Homem, Capitão Marvel etc, passando por super vilões como Lobo, Blackheart, Onslaught etc, até se substanciando em eventos do tipo explosões estelares, supernovas, buracos negros e o que conseguia criar para subjugar os quase invencíveis oponentes.

Inesperadamente, quando muitos acreditavam que Ômega estivesse exausto diante dos últimos feitos, ele invadiu também o Inferno. Transformando-se nos anjos que havia vencido, eliminou legiões infernais. Das seiscentos e sessenta e seis entidades, restaram apenas dez. A surpresa dos que acreditavam na queda do Céu e na esperança de usurpar aquele reino. Também ficaram frustrados os que imaginaram que ômega seria uma espécie de líder infernal, já que demonstrara ser também impiedoso para os que ali estavam. O Inferno possuía uma natureza sombria, também não necessitando de formas de vida para alimentar os que ali habitavam, repleto de lugares de fogo em que o magma transborda e construções rochosas imponentes. Nada tão espetaculoso como o mencionado por Dante Alighieri, mas próximo em sua impressão de grandiosidade, alguns diriam até que havia ali uma inspiração Barroca.

Quando os últimos anjos se preparavam para uma investida contra a Terra. Ômega fez sucumbir cinco Arcanjos, fazendo com que o Inferno também sentisse sua ira e reduzindo também a cinco a horda infernal. Resolveu retornar ao Reino dos Mortos, já que a grande quantidade de baixas fez com que a transição se tornasse volumosa. A energia daqueles seres magníficos também se reunia naquele Limbo. Na Terra uma harmonia parecia imperar nesse dia glorioso.

Uma visão interrompeu a panorâmica sobre os mundos. Era uma figura emblemática, com uma armadura dourada que resplandecia. Na cabeça, um elmo que fechava sobre o crânio e deixava apenas dois olhos furiosos se revelarem. Ômega em instantes estava diante daquele ser, ambos flutuando sobre a Torre Eiffel.Cidadãos parisienses, avistavam apenas dois pontos distantes, sendo apenas um deles luminoso. Mas essa impressão foi percebida apenas por uns raros expectadores mais observadores.

— Quem é você? - perguntou de forma enfática Ômega.

— Vai importar mais o que sou do que quem eu sou.

— O que você é?

— Meu nome é Alpha... Estou aqui para lhe destruir, assim como esse planeta e qualquer outro que você tenha pisado, fazendo com que sua existência desapareça por completo.

Os olhos inflamaram e um golpe impossível de enxergar acertou Ômega mortalmente. Diversas transformações se seguiram. O oponente era sem dúvida o mais forte que havia enfrentado. A batalha se estendeu para outros planetas, sendo que corpos celestes eram esfacelados nesse combate. Chegaram a um imenso planeta, com poucos seres que viviam nele. Ali´o duelo se intensificou. Ômega admitiu que estava perdendo as forças, já que suas opções de mutação ficavam cada vez mais reduzidas. Alpha então declarou:

— Essa será nossa batalha final e dessa vez providenciarei para que não consiga escapar.

— Já nos enfrentamos? Quem é você?

Uma onda de imagens bombardeou a mente de ômega, como um ataque mental, fazendo com que as lembranças se ordenassem e por fim aparecendo a imagem da revelação. Ômega deixou o nome escapar:

— Eric!

— Sim, sou eu.

— Eu havia destruído você.

— Realmente conseguiu aniquilar meu corpo. Mas o Senhor me fez ressurgir e me concedeu esse novo corpo, que possui um poder magnífico. A oferta que me foi oferecida era irrecusável. Acabar com sua raça, destruir tudo que alguma vez entrou em contato com você e por fim, governar os mundos que fazem parte dessas esfera.

— Faz parte da sua natureza ser assim... corrupto.

— Eu aceitaria ter como prêmio apenas arrancar a sua cabeça.

O duelo prossegui, ambos já exaustos pela grande quantidade de energia despendida no combate. Ômega entendeu que a Eric foi dada uma nova oportunidade como aquele oferecida a ele. Sabia que suas transformações apenas fariam com que o combate se arrastasse. Voltou a sua forma normal, deixou-se envolver por aquela espécie de armadura obscura que apareceu em seu corpo desde a primeira manifestação de suas habilidades. Ao ataque violento de Alpha, com a mão cravada em seu peito, conseguiu retirar o punho do agressor e atravessou de corpo inteiro a armadura dourada, como se cada célula do seu corpo reagisse e aniquilasse o oponente. Era como se tivesse absorvido Alpha, conseguia sentir as emoções de Eric em seu próprio ser, como se tivessem fundido.

Retornando ao Céu, aniquilou os últimos cinco anjos, agora com transformações magníficas. Utilizava a forma do Deus Brahma. Conseguiu ainda retornar à Terra e comparecer ao velório de Sofia. Chegara aos setenta anos resistindo ao câncer. Os filhos crescidos e bem cuidados, o marido com quase oitenta anos, parecia não ter mais forças para seguir muito adiante. Voltou a sua forma, como um belo rapaz na casa dos vinte anos. Ana Carolina, filha de Sofia, uma moça adorável, prestou atenção ao jovem que prestava suas homenagens. Voltariam a se encontrar posteriormente, em um Café Bar no centro de São Paulo. Começaram a se encontrar com frequência e um romance se iniciou. Conversavam sobre temas diversos. Carol, como era conhecida, se apaixonava por aquele rapaz tão maduro para a sua idade e com um olhar misterioso. Ômega, encantava-se a cada dia com todo o frescor daquela jovem e marcante mulher. Fizeram piquenique no Parque Ibirapuera, lendo um para o outro os versos de Fernando Pessoa:

“... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba

[o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência é não pensar...”

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/06/2015
Código do texto: T5288400
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