Ômega Parte IX

Capítulo IX

[Portais]

Realmente as pessoas viviam com mais prazer. Ômega percorria diversos planetas, voltando sempre para combater crimes de pequena monta, casos isolados, na Terra. Algo o intrigava. Quando se aventurou fora do planeta, havia percebido algo estranho, como se em certo pontos do espaço houvessem portais. Não saberia dizer se eram realmente passagens, mas pelo que compreendia a partir de seus conhecimentos, inclusive empíricos, em relação a Física, aquilo se encaixava perfeitamente. Visitara mais uma vez o túmulo de sua mãe Ana, recordando-se da última vez que o fizera, quando enfrentara uma organização russa e precisou invadir o Kremlin. Gostava de ir próximo ao túmulo e ficar meditando. Mas dessa vez conseguiu sentir perfeitamente uma presença.

— Ômega!

Aquela voz...

— Psi?

— Sim.

Se encararam por uma pausa que parecia mais longa do que realmente o tempo pudera registrar.

— Não imaginei que retornaria... ainda mais em tão pouco tempo.

— Tenho a habilidade de surpreender. — respondera dando uma risada cínica e maligna.

— A que veio?

— Pensei que seria recebida com mais receptividade.

— Apesar do grande interesse por seu retorno, sempre fico me perguntando o motivo.

— Seu ceticismo é empolgante, querido.

Ambos riram.

— Realmente estou aqui com outro propósito além de te rever... Não que isso seja mais importante do que sua companhia... Além disso... também consigo saber a respeito do que pensa e confesso ter ficado encantada com a forma como tem dedicado sua imaginação a minha pessoa. — Agora Psi forçava uma riso tímido, quase convencendo de sua ingenuidade.

— E qual seria o outro propósito? — Ômega respondera com certo rubor nas faces.

— Sei que já conseguiu detectar os portais.

— Então eles realmente existem.

— Sim... E sabendo de sua obstinação, sabia que procuraria se aventurar e descobrir o que existe além deles.

— Realmente conhece um pouco de minha natureza.

— Eu diria que conheço muito.

— Veio tentar me convencer a não ultrapassá-los?

— Agora eu que devo deduzir que conhece pouco a respeito da minha natureza.

— Não consigo compreendê-la.

— Vim lhe explicar o motivo deles existirem.

Ômega ficara calado, em posição contemplativa, quase como um Pensador de Rodin. Aguardava ansioso pelo que viria a ser revelado.

— Você chegou onde poucos conseguiram chegar. O mínimo que deve receber é a informação a respeito do que te aguarda.

— Prossiga! — Completou de forma imperiosa Ômega.

— Se acalme meu doce pecado. Nosso tempo é outro... Se voltarmos a época imemoriáveis, chegaremos ao início de tempos obscuros. Como sempre estudou a respeito de culturas antigas, deve se recordar dos mitos de criação, onde temos seres antigos, criadores do planeta e além dele.

— Me fez recordar de quando adolescente, me chamavam de bruxo por carregar livros de magia.

— O que tenho a lhe revelar é que muito do que se acredita ser lenda, é de fato resíduo de algo já acontecido. Essas criaturas magníficas que criaram galáxias, mundos,formas de vida, não apenas fizeram coisas construtivas, mas também lutaram, travando batalhas que poderiam durar por um tempo que não poderíamos deduzir, causando cataclismos como o que aqui chamaram de Big Bang.

— Como é possível??

— O Ragnarok realmente acontece, mas de diversos modos. Os que vocês chamam deuses, muitas vezes sucumbiram diante de outros mais fortes ou de algum ardil que tenha lhes feito padecer. Uma batalha violentíssima ocorreu em época mais recente, criando a ordem que conhece hoje.

— Se refere ao deus bíblico, Jeohváh?

— Exato. Me excita a sua perspicácia... Esse é o deus que governa atualmente e que conseguiu reunir força suficiente para fazer sucumbir diversos outros que tentaram resistir a seu reinado. Por isso teria se tornado supremo. Criando não apenas a sua unidade, como fazendo nascer uma nova raça de homens, uma raça de anjos e um séquito que alimenta seu poder. Mais ainda. Conseguiu bipartir essa realidade, criando essa dicotomia que se conhece como Céu e Inferno, onde dois reinos coabitam com a Terra, e não apenas esse planeta, mas todos os outros ligados a sua esfera de domínio. Cada planeta que você visitou, cada rastro que conhece, faz parte desse mesmo reino. Os portais que conseguiu observar são as passagens que levam a essas outras duas extremidades. Atravessando um dos portais, estará adentrando os domínios onde habitam o Céu e o Inferno.

— Por estes portais que fazem suas intervenções em nossa realidade?

— Exatamente.

— Atravessar os portais significaria...?

— Significaria adentrar territórios que não é permitido visitar. Não sem o consentimento de quem exerce domínio sobre eles. Seria estar praticamente declarando guerra a Deus.

Apesar do impacto da última frase, Ômega não se deteve a fazer um questionamento:

— Mas porque mencionaste a criação de uma nova raça de homens?

— Se ainda tem memória em relação às lendas estudadas, se recordará de que deuses antigos também disseram ter criado o homem. Isso significa que Deus também o fez, mas a sua imagem e semelhança.

— E quanto aos anjos?

— Estes também foram forjados pelo Grande Arquiteto. Muitos eram deuses antigos que se renderam e conseguiram sentar à destra de Deus, ocupando cargos que fazem parte de sua hierarquia divina. Ao contrário dos que tentarams e rebelar e que por isso foram punidos com o banimento para esta outra esfera criada.

— Mas porque simplesmente não foram destruídos, como ocorrera com outros deuses?

— Porque Deus percebeu a necessidade de um equilíbrio e que isso só ocorreria na medida em que existisse essa contradição, fazendo com que sua força se apoiasse nessa dialética.

A medida que Psi comentava sobre os fatos, imagens surgiam na mente de Omega, como se certas memórias fossem transmitidas, não deixando dúvidas em relação aos fatos. Sendo interrompido em suas divagações:

— Por isso estou aqui... Se você ultrapassar o portal, não poderia mais interferir. Estará adentrando domínios onde não mais poderei interferir e lhe orientar. Eis a minha real preocupação... Um caminho sem volta.

Se olharam como se o mundo coubesse em suas órbitas. Se beijaram, com a força do início dos tempos. Se amaram. Já havia feito sexo antes. Mas aquilo. Era como se o Cosmos participasse no instante do ato. Trocaram juras de amor e observaram cada detalhe da natureza ao redor. Desde o leve balançar das folhas, até o pássaro que voava desengonçado. Ao buscar se concentrar em uma flor que desabrochava, havia perdido a companhia de Psi, que desaparecera sem deixar rastros.

A decisão estava em suas mãos. Já tinha em mente a resposta. Tomava fôlego e sabia da importância de cada ato a partir de agora. Transitara pelo mundo por um mês, numa espécie de despedida, caso não mais retornasse. Concentrou-se no local onde havia encontrado um dos portais e se metamorfoseou em algo que pudesse suportar o que estava por vir. A mente não parava de processar informações e começou a conversar consigo:

— Eu sou o responsável pelo meu próprio destino. Minha necessidade é de ir além... Além do Bem e do Mal.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/06/2015
Código do texto: T5283002
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