POR NADA (mini conto)
Plácidos olhos verdes profundos, vislumbram com inocência o azulejante e infinito balanço do mar. Mórbidos olhos cinzentos, observam furtivos, os olhos inocentes verdes profundos, serenamente à beira do mar. Sorrateiramente vai serpenteando passos, em surdina na manhã clara e morna, preparando o bote certeiro e fatal. Sem grito ou qualquer alarde, olhos verdes profundos, esmaecem e se apagam, com vinte reais, lucro do parco despojo, olhos cinzentos fogem pela orla, felinos, sem alma ou remorso. Deixando na areia, só com o mar por testemunha, um corpo inocente, de olhos verdes profundos, eternamente cegos, surdos, mudos, com um enferrujado facão de cozinha encravado no dorso, sem vida, sem motivo, por nada. Inocência ceifada.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2015.
Plácidos olhos verdes profundos, vislumbram com inocência o azulejante e infinito balanço do mar. Mórbidos olhos cinzentos, observam furtivos, os olhos inocentes verdes profundos, serenamente à beira do mar. Sorrateiramente vai serpenteando passos, em surdina na manhã clara e morna, preparando o bote certeiro e fatal. Sem grito ou qualquer alarde, olhos verdes profundos, esmaecem e se apagam, com vinte reais, lucro do parco despojo, olhos cinzentos fogem pela orla, felinos, sem alma ou remorso. Deixando na areia, só com o mar por testemunha, um corpo inocente, de olhos verdes profundos, eternamente cegos, surdos, mudos, com um enferrujado facão de cozinha encravado no dorso, sem vida, sem motivo, por nada. Inocência ceifada.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2015.