DISTRAÇÃO I
Chuva forte, ruas vazias, vertentes obscuras, becos e vielas mal iluminadas, numa grande cidade , numa noite qualquer, de uma terça-feira qualquer, corpos híbridos, andrógenos, encapuzados, mãos os bolsos, olhos soturnos observam os passantes, em seus passos rápidos e desatentos, fugindo da chuva. Espalhados por duas paralelas esquinas, como que buscando presas mais fáceis.
Áurea uma jovem mãe de trinta e dois anos, marido trabalhando no interior do Estado, filho na creche, ela se dividindo entre casa, creche, trabalho, integralmente mãe e pai por cinco dias por semana, Eloy, seu marido chegava às sextas, então ela tinha alguns momentos de relaxamento. Nesse início de noite, correra tanto pra não chegar atrasada à creche, para pegar seu filho, mas, foi impossível pois a chuva fez o trânsito estacionar sem pontos. A diretora da creche já havia ligado para seu celular duas vezes, Áurea sabia que iria encontrá-la irritada. Já próximo à entrada, se atrapalhando, com bolsa, guarda-chuva e poças d'água, pegou o telefone para informar que já estava quase no portão, do nada, sentiu uma pancada forte na cabeça e caiu por terra sem um só gemido.
Áurea saiu do torpor, gelada, molhada, muito dolorida e...nua
Seu primeiro pensamento, foi para seu pequeno Felipe, estaria bem nos seus quatro aninhos de inocência ou chorando de saudade. Olhou a sua volta, a noite já estava bem alta provavelmente madrugada, só haviam ruínas de concreto, um pedaço de lage, ainda de pé, restos de comida, jornais rasgados, guimbas mortas de cigarros e um odor acre, meio azedo, além da chuva só o som do silêncio e ela gelada e nua. Por pudor pegou algumas folhas de jornal, tentando cobrir algumas partes, furou uma folha dupla e enfiou a cabeça por ela, com outras duas montou uma saia criativa e saiu em busca de socorro, sentia dores, não se sentia estuprada, suas dores não eram na genitália, mas, seu corpo fora machucado com força, doía.
Tentando ter alguma calma, observando a paisagem, viu que estava na zona oeste da cidade, avistava luzes de algumas casas ao longe, ela estava num matagal próximo à uma pequena estrada de terra, resolveu seguir por ela, quem sabe alguém poderia aparecer e socorrê-la e foi seguindo rápido, chegou ofegante até uma casa logo na saída do matagal, bateu na porta, gritou, bateu de novo, enfim alguém atendeu...
Continua...
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 30 de abril de 2015.
Chuva forte, ruas vazias, vertentes obscuras, becos e vielas mal iluminadas, numa grande cidade , numa noite qualquer, de uma terça-feira qualquer, corpos híbridos, andrógenos, encapuzados, mãos os bolsos, olhos soturnos observam os passantes, em seus passos rápidos e desatentos, fugindo da chuva. Espalhados por duas paralelas esquinas, como que buscando presas mais fáceis.
Áurea uma jovem mãe de trinta e dois anos, marido trabalhando no interior do Estado, filho na creche, ela se dividindo entre casa, creche, trabalho, integralmente mãe e pai por cinco dias por semana, Eloy, seu marido chegava às sextas, então ela tinha alguns momentos de relaxamento. Nesse início de noite, correra tanto pra não chegar atrasada à creche, para pegar seu filho, mas, foi impossível pois a chuva fez o trânsito estacionar sem pontos. A diretora da creche já havia ligado para seu celular duas vezes, Áurea sabia que iria encontrá-la irritada. Já próximo à entrada, se atrapalhando, com bolsa, guarda-chuva e poças d'água, pegou o telefone para informar que já estava quase no portão, do nada, sentiu uma pancada forte na cabeça e caiu por terra sem um só gemido.
Áurea saiu do torpor, gelada, molhada, muito dolorida e...nua
Seu primeiro pensamento, foi para seu pequeno Felipe, estaria bem nos seus quatro aninhos de inocência ou chorando de saudade. Olhou a sua volta, a noite já estava bem alta provavelmente madrugada, só haviam ruínas de concreto, um pedaço de lage, ainda de pé, restos de comida, jornais rasgados, guimbas mortas de cigarros e um odor acre, meio azedo, além da chuva só o som do silêncio e ela gelada e nua. Por pudor pegou algumas folhas de jornal, tentando cobrir algumas partes, furou uma folha dupla e enfiou a cabeça por ela, com outras duas montou uma saia criativa e saiu em busca de socorro, sentia dores, não se sentia estuprada, suas dores não eram na genitália, mas, seu corpo fora machucado com força, doía.
Tentando ter alguma calma, observando a paisagem, viu que estava na zona oeste da cidade, avistava luzes de algumas casas ao longe, ela estava num matagal próximo à uma pequena estrada de terra, resolveu seguir por ela, quem sabe alguém poderia aparecer e socorrê-la e foi seguindo rápido, chegou ofegante até uma casa logo na saída do matagal, bateu na porta, gritou, bateu de novo, enfim alguém atendeu...
Continua...
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 30 de abril de 2015.