Assassino de Egos
Na tua carne macia, trespasso a lâmina que lhe corta em camadas, maltratando aos poucos. Como se degustasse uma iguaria. Nas idas e vindas um novo corte, ainda mais fino, deixando nervos expostos, como tentáculos de uma vida que se perde. Sem salvação entre estas quatro paredes, que lhe exprimem o cérebro em desespero. Tudo é dor, passando a não mais discernir o que existe além disso. A condição é sofrer. Morrendo em esperança para depois perder a carne trêmula que gravita no metal impiedoso. Arrancado-lhe os dentes, um a um, formando uma boca banguela, que jorra sangue em pigarros espasmódicos. Sufocando-lhe com as próprias tripas, enroladas no pescoço que gela, com a intensidade de um pré-cadáver. Esfolando feito um animal medíocre, retirando o escalpo e exibindo o couro cabeludo destroçado. A língua correr sobre essa porção machucada, provando o gosto do teu sangue e as terminações nervosas, com aquele sabor de medo.
Cada martelada esmaga um dedo, espatifando falanges e fazendo unhas se soltarem. Pequenas poças de sangue, salpicando o tapete branco, numa arte selvagem e cruel. Cigarros acesos e brasas apagadas nos olhos. O aroma de olho queimado. Mais uma chama e a tocha faz enrugar a pele das costas, com gritos que ecoam nessa ópera do desespero. Uma mordida que arranca uma parte do lábio inferior, mastigando e engolindo aquela pequena porção. Máscaras grudadas nas faces, não podendo distinguir os sexos. Só mesmo expondo as genitálias, que muitas vezes foram decepadas. Pregando a pele que sobra embaixo dos braços, com marteladas certeiras, introduzindo cada grosso prego e deixando o corpo em suspenso, fazendo parte da parede, sustentado pela própria carne. O seio aberto ao meio, como uma fruta podre, que não oferece muita resistência à lâmina afiada.
Mãos que seguram a batem a cabeça ao solo, até ver os trincados no crânio e a massa encefálica escorrer. Choques que provocam vômito, escorrendo fezes e urina. Um condutor introduzido no ânus e o choque que fazer queimar o intestino. Sacos escrotais cortados com foice, fazendo com que os testículos saltem. Pelos pubianos arrancados com mãos fortes e colocados para sufocar na boca da vítima, até que morra engasgada com os próprios pelos. A agulha inserida na pálpebra atravessa a córnea e os movimentos circulares para quebrá-la dentro das órbitas. Cacos de vidro introduzidos nos corpos, como se fosse muros de casas com medo de invasores. O sangue desce em cascata e crianças bebem, alimentadas desde pequenas pelo gosto da natureza humana. Alguns seguem pendurados em ganchos de carne, com aos presilhas introduzidas em seus ânus, no grotesco espetáculo de um empalamento ainda mais cruel. Moscas acumulam diante da carne dos que apodrecem. Não existe inferno. A realidade por só dá conta do recado.