Diabretes

Muito prazer - me chamo Eliza. Desde muito menina minha vó vivia me contando histórias sobre fadas e duendes. Ela me dizia que eles eram os verdadeiros defensores da natureza e que viviam escondidos entre as plantas. Eu sempre acreditei muito em minha vó. Um dia, tive certeza de que as fadas de quem ela falava existiam, mas não era nada daquilo que eu imaginava...

Do lado de minha casa havia um bosque enorme, dava para se perder se você não conhecesse o lugar. Eu adorava passear por lá. Tinha um riacho, pequenos animais e belas flores espalhadas por todos os lados. Não havia muitas casas por ali. Eu conhecia aquele lugar como a palma da minha mão. Era lá que eu caminhava com minha vó e ouvia suas belíssimas histórias de como ela havia conhecido uma fada e de como aquilo mudara sua forma de ver o mundo. Eu sonhava em ter aquela experiência.

Mas o inverno veio e após toda a minha vida ao lado de minha vó, tive que me conformar em vê-la partir. Chorei durante dias sem parar e cada vez que olhava para o bosque voltava a cair no pranto.

Passaram-se meses, eu continuava na mesma melancolia. Meu pai já não suportava quase todas as noites me ver chorar na mesa quando me deparava com o lugar de minha vó vazio. Meus pais evitavam tocar no assunto porque era certeza me verem chorar. Durante o jantar daquele sábado, tentei me segurar o máximo que pude, mas não consegui. As lágrimas desceram silenciosamente pelo meu rosto e em alguns minutos, meus pais me viam a soluçar. Infelizmente, meu pai era impaciente demais para entender meus sentimentos. Não suportando mais aquela situação, bateu na mesa fazendo todos os utensílios se moverem e gritou:

-Até quando vai chorar assim? Quando vais entender que ela não irá voltar?

Fiquei sem reação ao ver a angústia de meu pobre pai, e só chorei mais e mais. Minha mãe tentou acalmá-lo. Ele, assustado com a própria atitude, saiu para a sala - Quando tinha raiva, ia para frente da TV e fingia que o mundo ao redor não existia. – Eu fui pela outra direção, corri para a cozinha e saí pelas portas dos fundos, sentei-me no batente da porta da cozinha que dava acesso ao quintal escuro e cercado de árvores. Minha mãe não foi atrás de mim, já havia tentado muito me fazer entender, não tinha mais palavras de consolo em seu vocabulário para me oferecer. Eu chorava mais desesperada. Tanto pela mesma infeliz razão dos últimos meses, quanto pela atitude de meu pai. Não o culpava, também me fazia sofrer vê-lo de tal maneira, pois eu sabia que ele só queria o meu bem e meu apego só fazia eles sofrerem tanto quanto eu. Fiquei ali por muito tempo, cerca de uma hora. A noite se aprofundava na escuridão. O silêncio aumentou, o único barulho que se fazia presente era o dos grilos. Olhar para a mata não me assustava, mas, quando tentei abrir a porta da cozinha para entrar em casa, ela estava trancada. Ela tinha um problema com a fechadura e só era possível abri-la por dentro. Pensei em bater, para que minha mãe viesse abri-la, mas algo não me deixou fazer isso. Minha consciência pesava por deixar meus pais ainda mais tristes com o prolongamento do sofrimento da perda de minha avó que eu os estava causando. Como não havia cerca ou muro que me impedisse de passar, decidi dar a volta na casa e ir pela porta da frente que ainda deveria estar destrancada.

Minha casa era grande e nunca imaginei que dar a volta seria tão assustador, aquele mato ao redor nunca havia me assustado tanto, além de tudo, a noite parecia mais escura do que o normal, mais fria e... Eu andava devagar, não me perguntem o porquê, mas eu dava passos curtos. Deveria correr até a frente, mas não, eu mal saía do lugar.

Arrepiei-me dos dedos dos pés ao último fio de cabelo ao ouvir uma voz gritar meu nome no meio do mato escuro:

-Eliza! Eliza! – o fato de ser meu nome, não era o pior, mas o fato de ser a voz de minha falecida avó.

Fiquei paralisada! Ou eu delirava ou um fantasma me chamava.

Assustada, olhei para os lados, queria correr, mas a curiosidade, o medo e toda mais uma mistura de sentimentos me fazia ficar ali parada esperando pelo pior. Levei as mãos à boca, como que para impedir meu grito, quando vi a imagem de minha vó no mato escuro a me chamar:

-Eliza, venha aqui!

-Vovó? É você? É possível?

Corri na direção dela, mas quando me aproximei, sua imagem se converteu em fumaça branca, fiquei tonta e desmaiei.

Acordei sendo arrastada pelas pernas, já estava no meio do bosque, agora distante de minha casa. Tinha arranhões em todo corpo. Tentei ver o que me segurava, mas não consegui identificar de pronto. Era algo pequeno, com cerca de um metro de altura, mas forte, pois me levava sem esforço. Debati-me tentando fazê-lo me soltar, tentei me segurar em algo, como resposta ele apertou minhas canelas com força e preferi não confrontá-lo. Fiquei com medo de gritar e despertar raiva na criatura, então chorei de medo silenciosamente enquanto era arrastada pelo matagal.