BRINCADEIRA MORTAL: A INVOCAÇÃO DA PISADEIRA.
Depois de quase uma tarde toda viajando para chegar à casa de Carlos na fazenda do meio Cezar já começa a encher o saco de todo mundo:
- Pensei que não ia chegar nesse fim do mundo nunca, que lugar desgraçado, só tem buraco e poeira, espero que tenha pelos menos comida. – Diz Cezar já passando a mão em sua barriga demonstrando sua fome sem fim.
- Só pensa em comer e reclama de tudo, deveria ter ficado, nem sei por que te convidaram esfomeado. – Diz Fabiana com um olhar sério para Cezar.
- Deixa esse cara pra lá Fabiana, esse é do tipo de indivíduo a gente faz de conta que nem existe. – Diz Patrícia tentando conter Fabiana de sua raiva.
A estrada de terra e esburacada dava acesso às três fazendas, a fazenda da curva, a fazenda do meio e a fazenda do monte alto. Todos os nomes eram alusivos à localização de cada fazenda.
O carro desce bem devagar o ultimo morro antes de chegar a casa, um cão magro começa a latir no terreiro enquanto outros chegam para fazer-lhe companhia.
Seu João sai de dentro da casa para receber os visitantes, primeiro contem os cães, os afastando de perto do carro para que todos desçam sem correr perigo de levar uma mordida. Cezar não contem sua mania de reclamar e vai logo falando de novo:
- Andamos tanto, comemos poeira, esses sacolejos dos buracos e ainda chegamos num lugar desses, acho que vou morrer de fome aqui. – Diz Cezar chateado com a visão do lugar, achando que não havia muita coisa naquele lugar, aquela casa afastada e parecendo mal cuidado.
- Fica quieto ai esfomeado, aqui é apenas uma casa afastada da casa grande da fazenda, essa e para que possamos ficar tranquilo, sem ninguém incomodar, entendeu gorducho. – Diz Carlos sorrindo tentando tranquilizar Cezar.
- Pois pra mim ele tá muito boa, podemos ficar numa boa uma semana inteira. – Diz Sílvio falando depois de um longo silêncio observando tudo em volta.
- Vamos mesmo, preparei tudo, temos comida à vontade, seu João matou umas galinhas bem gordas, tem carne de porco e como não podia faltar muita cerveja, esse fominha não vai reclamar. – Diz Carlos tentando tranquilizar a todos e deixar que Cezar não faça seus comentários idiotas.
Nesse instante seu João se aproximou de Carlos e passou-lhe a chave da casa emitindo um sorriso e disse:
- Tá tudo prontinho seu Carlos, tudo como o senhor pediu, boas férias e espero que seus amigos gostem. – Diz seu João com um sorriso de boas vindas.
- Nós só temos um problema seu João, esse reclamão e comelão aqui nunca deixa de falar suas besteiras e depois de comer ainda fica roncando de barriga pra cima parecendo um jiboia depois que come um bezerro. – Diz Carlos apontando com o dedo para Cezar tentando tirar um sarro de sua cara.
- É mesmo patrão, pois ele tem que tomar cuidado, se a Pisadeira lhe pegar não tem salvação, ela vai comer toda comida que ele comeu e ainda comer todo bucho dele. – Diz seu João com um olhar sério, do tipo que tem certeza do que estar falando.
- Que história é essa, nunca ouvi falar disso, deixa de mentira, isso é só para que eu não coma mais, deixa de conversa fiado que não vou deixar de comer umas galinhas e umas costelinhas de porco, beber cerveja, vou encher a pança. – Diz Cezar fazendo gesto com as mãos mexendo com sua barriga.
- Quem avisa amigo é se não acredita pague pra vê. – Diz seu João deixando o local em direção à casa grande da fazenda do meio.
- Seu João muito obrigado, depois passo em casa, avisa lá pra mãe. – Diz Carlos acenando com a mão para seu João.
- Tudo bem patrão, aviso pra ela, um abraço. – Diz seu João indo em direção à casa grande pelo o caminho estreito de terra que dava acesso.
Antes de escurecer por total todos carregam suas bolsas e mochilas para dentro da casa, às luzes eram acesas em todos cômodos, pois a noite estava chegando rápido.
Depois de deixar tudo em ordem, os amigos se reúnem na sala para combinar o que vão comer essa noite. Cezar logo tenta impor seu cardápio e tentando convencer todos logo descreve seu desejo:
- Já pensou gente, um pernil assado, um arroz tropeiro, uma farofa bem recheada, feijão, sem esquecer-se de umas batatas assadas junto com o pernil, depois uma galinha caipira com pequi, isso só para começar. – Diz Cezar lambendo os lábios demonstrando gosto ou fome canina como diz Silvio quando fala com ele.
- Você tá louco, depois de uma viagem dessas, você pensa numa comida pesada e ainda tanto assim, que fome dos infernos, como sempre falo isso é fome canina, nunca vi uma pessoa com tanta fome assim. – Diz Sílvio tentando entender aquela fome enorme de Cezar.
- Deixa esse cara pra lá, vamos começar a fazer nosso rango, se seu João deixou tudo pronto e só preparar e empurrar pra dentro do bucho com umas cervas. – Diz Patrícia animada com aquela noite na fazenda.
- Não se preocupem hoje tudo já estar pronto, o único trabalho que vamos ter é começar a comer, a mulher de seu João, uma cozinheira de primeira já deixou tudo pronto, esse fominha ai vai tirar a barriga da miséria. – Diz Carlos olhando para Cezar sorrindo.
- E se a história de seu João for verdadeira, não quero ficar aqui pra vê uma coisa horrível dessa, todo mundo sabe que esse porção ai come e depois fica ai roncando e peidando a noite toda, fica uma podridão só. – Diz Fabiana colocando a mão na boca para demonstrar que sente ânsia de vômito quando fala dessas coisas.
- Então vamos fazer um acordo aqui, depois de comer e encher a cara vou querer saber dessa Pisadeira ai, quero conhecê-la melhor, vou encarar ela de frente, vocês vão vê. – Diz Cezar com cara de gozação.
- Cara isso é coisa séria, essas coisas de sertanejos não devemos duvidar, quando eles falam uma coisa é porque tem conhecimento de causa, vamos deixar isso pra lá. – Diz Carlos tentando conter o ânimo de Cezar.
- Tá com medinho é, pois vou comer até não aguentar mais, depois vou deitar bem aqui nessa mesa de madeira no centro e vou invocar essa tal de Pisadeira, quero vê se ela existe mesmo. – Diz Cezar debochando da história de seu João.
- Se eu fosse você não brincava com essas coisas, uma hora vai se dar mal. – Diz Fabiana reprovando a ideia de Cezar.
- Mas minha querida você não é eu, olha só esse corpinho aqui, você tem até inveja, olha quanta carne, não é essa magreza ai de atleta de corrida. – Diz Cezar tentando debochar do corpo de Fabiana.
- Tudo bem, vamos para com essa discussão e vamos comer, temos uma noite cheia de coisas pra fazer. – Diz Patrícia convidando-os para a mesa.
A noite chegou, mas dentro da casa os amigos comiam e bebiam sem parar, depois de algumas horas de farra a bebida já tomava conta de todos, cada um ficava mais tonto que o outro. Cezar lembrou-se de sua promessa e logo se alterou:
- Lembram-se do que falei, agora é a hora boa, to com a barriga e cara cheia, quem topa invocar a tal de Pisadeira. – Diz Cezar provocando todos.
- Eu estou bêbada, mais tenho medo disso, não vou participar disso não. – Diz Fabiana demonstrando medo em sua fala.
- Também estou fora, não quero brincar com as lendas de meus amigos aqui da roça, espero que vocês saibam o que estão fazendo. – Diz Carlos também tirando o corpo fora da brincadeira.
- Deixe de besteira, nunca ninguém ouviu falar dessa tal Pisadeira, isso é mito desse povo. – Diz Patrícia concordando com a brincadeira que Cezar quer fazer.
- Tudo bem, é problema de vocês, vou ficar aqui só vendo. – Diz Fabiana já sonolenta com a comida e a bebida.
- Também vou ficar assistindo, acho que estou morrendo de sono e isso vai me deixar com mais sono ainda. – Diz Carlos colocando a mão na boca demonstrando realmente estar com sono.
Enquanto Carlos e Fabiana ficam sentados olhando, Cezar, Patrícia e Silvio começam a brincar. Cezar deita-se sobre a grande mesa de madeira de lei, Sílvio fica de um lado e Patrícia fica do outro lado.
O vento bate forte na janela nesse instante, a porta range bem devagar como se alguém sem pressa estivesse entrando, mas era apenas um cão que tentava encontra alguma comida pelos os cantos da casa.
Cezar como sempre agitado gritou com o coitado que saiu logo da porta. Novamente começaram a brincadeira. Sílvio e Patrícia começam a tirar a camisa de Cezar revelando seu tronco robusto, sua barriga enorme aparecia e brilhava sobre aquela mesa enorme, naquela situação parecia um grande banquete para a Pisadeira, pois ela desce do telhado como seus braços abertos, sua boca enorme revelando seus dentes grandes e afiados.
Enquanto brincavam e bebiam cada vez mais, Fabiana e Carlos pegavam no sono, nem viam a brincadeira que cada vez mais ficava mais engraçada. Sílvio jogava cerveja em cima de Cezar que rolava sobre a mesa se sujando com o resto da comida que ali estava.
Patrícia aproveita e joga restos de costeletas fazendo a maior sujeira em cima do corpo de Cezar. Uma grande gargalhada é ecoada na casa, apenas Cezar ouve, é uma gargalhada pavorosa, daquelas que esfria até a espinha dorsal.
Percebendo que apenas ele ouve, para de brincar e fica deitado sobre a mesa olhando para o teto da velha casa de telha colonial empoeirada. Sílvio percebe sua reação e também para de brincar. Patrícia fica atenta e também percebe que alguma coisa estranha pode acontecer.
- O que foi Cezar, tem alguma coisa no teto. – Diz Sílvio também olhando para o teto da casa sem vê nada de anormal.
- Vocês não ouviram, acabei de ouvi uma gargalhada pavorosa, tem alguma coisa por ai, acho que é aquele moço que tá tentando nos assustar. – Diz Cezar querendo desviar o assunto para o outro lado da história.
Outra gargalhada é ecoada, agora com mais nitidez, bem próximo. Cezar fica parado ainda olhando para o teto. Sílvio se afasta um pouco da mesa, Patrícia acaba fazendo o mesmo como uma reação espontânea.
Outra gargalhada é feita e um espectro pavoroso desce do teto, Cezar fica estático, não se mexe, sem reação, apenas sente quando a Pisadeira senta-se sobre sua enorme barriga, suas enormes mãos com suas unhas afiadas vão rasgando sua carne revelando suas tripas e estômago, seu sangue começa a banhar a mesa com rapidez.
Patrícia percebe aquele sangue jorrando, depois não consegue olhar aqueles pedaços de carnes humanas sendo despedaçados pouco a pouco. Cezar enquanto é dilacerado observa aquela bruxa de cabelos desarrumados, lenço vermelho no pescoço, corpo magro e seco com braços e unhas afiadas que desceu do teto para comer toda comida e lhe arrancar as entranhas.
Patrícia vendo aquele reboliço na grande mesa não descobria o que realmente estava acontecendo. Sílvio sem falar e sem ter qualquer reação apenas observava seu amigo sendo feito aos pedaços em cima da mesa.
Numa tentativa rápida Sílvio acorda Carlos e Fabiana que ainda tontos da bebida e do sono não sabem o que fazer nem tão pouco o que estar acontecendo naquele momento.
Um grito seguido de um choro lamentoso é dado por Patrícia, isso desperta Carlos e Fabiana que acabam presenciando aquela cena horrível. Sobre a mesa de madeira de lei o corpo de Cezar todo dilacerado ainda escorre um pouco de sangue, ficando intacto apenas sues membros superiores e inferiores.
Aquela noite agora ficou mais tensa, ninguém se mexia. A porta começou a ranger bem devagar de novo, o cão apareceu de novamente e ficou observando os quatro amigos parados, sem qualquer reação diante daquela cena de terror.
Outra grande gargalhada foi ecoada, agora todos ouviram e olharam uns para os outros e aos arredores tentando saber de onde vinha. O cão saiu correndo e gruindo porta a fora. A energia acabou de repente trazendo mais medo e aflição, num piscar de olhos voltou e as luzes se acenderam.
Seu João entrou pela porta e ao vê o corpo de Cezar todo dilacerado sobre a mesa já fedendo muito falou:
- Fazia tempo que a Pisadeira não aparecia por estas bandas, mas tem sempre alguém que desacredita e a invoca, agora não teremos mais sossego, quem se aventurar vai sofrer as consequências. Temos que tirar esse resto de corpo da mesa e enterra-lo embrulhado com folhas de bananeiras e mamonas, o fedor vai ficar intenso, outras Pisadeiras podem aparecer.
Depois de quase uma tarde toda viajando para chegar à casa de Carlos na fazenda do meio Cezar já começa a encher o saco de todo mundo:
- Pensei que não ia chegar nesse fim do mundo nunca, que lugar desgraçado, só tem buraco e poeira, espero que tenha pelos menos comida. – Diz Cezar já passando a mão em sua barriga demonstrando sua fome sem fim.
- Só pensa em comer e reclama de tudo, deveria ter ficado, nem sei por que te convidaram esfomeado. – Diz Fabiana com um olhar sério para Cezar.
- Deixa esse cara pra lá Fabiana, esse é do tipo de indivíduo a gente faz de conta que nem existe. – Diz Patrícia tentando conter Fabiana de sua raiva.
A estrada de terra e esburacada dava acesso às três fazendas, a fazenda da curva, a fazenda do meio e a fazenda do monte alto. Todos os nomes eram alusivos à localização de cada fazenda.
O carro desce bem devagar o ultimo morro antes de chegar a casa, um cão magro começa a latir no terreiro enquanto outros chegam para fazer-lhe companhia.
Seu João sai de dentro da casa para receber os visitantes, primeiro contem os cães, os afastando de perto do carro para que todos desçam sem correr perigo de levar uma mordida. Cezar não contem sua mania de reclamar e vai logo falando de novo:
- Andamos tanto, comemos poeira, esses sacolejos dos buracos e ainda chegamos num lugar desses, acho que vou morrer de fome aqui. – Diz Cezar chateado com a visão do lugar, achando que não havia muita coisa naquele lugar, aquela casa afastada e parecendo mal cuidado.
- Fica quieto ai esfomeado, aqui é apenas uma casa afastada da casa grande da fazenda, essa e para que possamos ficar tranquilo, sem ninguém incomodar, entendeu gorducho. – Diz Carlos sorrindo tentando tranquilizar Cezar.
- Pois pra mim ele tá muito boa, podemos ficar numa boa uma semana inteira. – Diz Sílvio falando depois de um longo silêncio observando tudo em volta.
- Vamos mesmo, preparei tudo, temos comida à vontade, seu João matou umas galinhas bem gordas, tem carne de porco e como não podia faltar muita cerveja, esse fominha não vai reclamar. – Diz Carlos tentando tranquilizar a todos e deixar que Cezar não faça seus comentários idiotas.
Nesse instante seu João se aproximou de Carlos e passou-lhe a chave da casa emitindo um sorriso e disse:
- Tá tudo prontinho seu Carlos, tudo como o senhor pediu, boas férias e espero que seus amigos gostem. – Diz seu João com um sorriso de boas vindas.
- Nós só temos um problema seu João, esse reclamão e comelão aqui nunca deixa de falar suas besteiras e depois de comer ainda fica roncando de barriga pra cima parecendo um jiboia depois que come um bezerro. – Diz Carlos apontando com o dedo para Cezar tentando tirar um sarro de sua cara.
- É mesmo patrão, pois ele tem que tomar cuidado, se a Pisadeira lhe pegar não tem salvação, ela vai comer toda comida que ele comeu e ainda comer todo bucho dele. – Diz seu João com um olhar sério, do tipo que tem certeza do que estar falando.
- Que história é essa, nunca ouvi falar disso, deixa de mentira, isso é só para que eu não coma mais, deixa de conversa fiado que não vou deixar de comer umas galinhas e umas costelinhas de porco, beber cerveja, vou encher a pança. – Diz Cezar fazendo gesto com as mãos mexendo com sua barriga.
- Quem avisa amigo é se não acredita pague pra vê. – Diz seu João deixando o local em direção à casa grande da fazenda do meio.
- Seu João muito obrigado, depois passo em casa, avisa lá pra mãe. – Diz Carlos acenando com a mão para seu João.
- Tudo bem patrão, aviso pra ela, um abraço. – Diz seu João indo em direção à casa grande pelo o caminho estreito de terra que dava acesso.
Antes de escurecer por total todos carregam suas bolsas e mochilas para dentro da casa, às luzes eram acesas em todos cômodos, pois a noite estava chegando rápido.
Depois de deixar tudo em ordem, os amigos se reúnem na sala para combinar o que vão comer essa noite. Cezar logo tenta impor seu cardápio e tentando convencer todos logo descreve seu desejo:
- Já pensou gente, um pernil assado, um arroz tropeiro, uma farofa bem recheada, feijão, sem esquecer-se de umas batatas assadas junto com o pernil, depois uma galinha caipira com pequi, isso só para começar. – Diz Cezar lambendo os lábios demonstrando gosto ou fome canina como diz Silvio quando fala com ele.
- Você tá louco, depois de uma viagem dessas, você pensa numa comida pesada e ainda tanto assim, que fome dos infernos, como sempre falo isso é fome canina, nunca vi uma pessoa com tanta fome assim. – Diz Sílvio tentando entender aquela fome enorme de Cezar.
- Deixa esse cara pra lá, vamos começar a fazer nosso rango, se seu João deixou tudo pronto e só preparar e empurrar pra dentro do bucho com umas cervas. – Diz Patrícia animada com aquela noite na fazenda.
- Não se preocupem hoje tudo já estar pronto, o único trabalho que vamos ter é começar a comer, a mulher de seu João, uma cozinheira de primeira já deixou tudo pronto, esse fominha ai vai tirar a barriga da miséria. – Diz Carlos olhando para Cezar sorrindo.
- E se a história de seu João for verdadeira, não quero ficar aqui pra vê uma coisa horrível dessa, todo mundo sabe que esse porção ai come e depois fica ai roncando e peidando a noite toda, fica uma podridão só. – Diz Fabiana colocando a mão na boca para demonstrar que sente ânsia de vômito quando fala dessas coisas.
- Então vamos fazer um acordo aqui, depois de comer e encher a cara vou querer saber dessa Pisadeira ai, quero conhecê-la melhor, vou encarar ela de frente, vocês vão vê. – Diz Cezar com cara de gozação.
- Cara isso é coisa séria, essas coisas de sertanejos não devemos duvidar, quando eles falam uma coisa é porque tem conhecimento de causa, vamos deixar isso pra lá. – Diz Carlos tentando conter o ânimo de Cezar.
- Tá com medinho é, pois vou comer até não aguentar mais, depois vou deitar bem aqui nessa mesa de madeira no centro e vou invocar essa tal de Pisadeira, quero vê se ela existe mesmo. – Diz Cezar debochando da história de seu João.
- Se eu fosse você não brincava com essas coisas, uma hora vai se dar mal. – Diz Fabiana reprovando a ideia de Cezar.
- Mas minha querida você não é eu, olha só esse corpinho aqui, você tem até inveja, olha quanta carne, não é essa magreza ai de atleta de corrida. – Diz Cezar tentando debochar do corpo de Fabiana.
- Tudo bem, vamos para com essa discussão e vamos comer, temos uma noite cheia de coisas pra fazer. – Diz Patrícia convidando-os para a mesa.
A noite chegou, mas dentro da casa os amigos comiam e bebiam sem parar, depois de algumas horas de farra a bebida já tomava conta de todos, cada um ficava mais tonto que o outro. Cezar lembrou-se de sua promessa e logo se alterou:
- Lembram-se do que falei, agora é a hora boa, to com a barriga e cara cheia, quem topa invocar a tal de Pisadeira. – Diz Cezar provocando todos.
- Eu estou bêbada, mais tenho medo disso, não vou participar disso não. – Diz Fabiana demonstrando medo em sua fala.
- Também estou fora, não quero brincar com as lendas de meus amigos aqui da roça, espero que vocês saibam o que estão fazendo. – Diz Carlos também tirando o corpo fora da brincadeira.
- Deixe de besteira, nunca ninguém ouviu falar dessa tal Pisadeira, isso é mito desse povo. – Diz Patrícia concordando com a brincadeira que Cezar quer fazer.
- Tudo bem, é problema de vocês, vou ficar aqui só vendo. – Diz Fabiana já sonolenta com a comida e a bebida.
- Também vou ficar assistindo, acho que estou morrendo de sono e isso vai me deixar com mais sono ainda. – Diz Carlos colocando a mão na boca demonstrando realmente estar com sono.
Enquanto Carlos e Fabiana ficam sentados olhando, Cezar, Patrícia e Silvio começam a brincar. Cezar deita-se sobre a grande mesa de madeira de lei, Sílvio fica de um lado e Patrícia fica do outro lado.
O vento bate forte na janela nesse instante, a porta range bem devagar como se alguém sem pressa estivesse entrando, mas era apenas um cão que tentava encontra alguma comida pelos os cantos da casa.
Cezar como sempre agitado gritou com o coitado que saiu logo da porta. Novamente começaram a brincadeira. Sílvio e Patrícia começam a tirar a camisa de Cezar revelando seu tronco robusto, sua barriga enorme aparecia e brilhava sobre aquela mesa enorme, naquela situação parecia um grande banquete para a Pisadeira, pois ela desce do telhado como seus braços abertos, sua boca enorme revelando seus dentes grandes e afiados.
Enquanto brincavam e bebiam cada vez mais, Fabiana e Carlos pegavam no sono, nem viam a brincadeira que cada vez mais ficava mais engraçada. Sílvio jogava cerveja em cima de Cezar que rolava sobre a mesa se sujando com o resto da comida que ali estava.
Patrícia aproveita e joga restos de costeletas fazendo a maior sujeira em cima do corpo de Cezar. Uma grande gargalhada é ecoada na casa, apenas Cezar ouve, é uma gargalhada pavorosa, daquelas que esfria até a espinha dorsal.
Percebendo que apenas ele ouve, para de brincar e fica deitado sobre a mesa olhando para o teto da velha casa de telha colonial empoeirada. Sílvio percebe sua reação e também para de brincar. Patrícia fica atenta e também percebe que alguma coisa estranha pode acontecer.
- O que foi Cezar, tem alguma coisa no teto. – Diz Sílvio também olhando para o teto da casa sem vê nada de anormal.
- Vocês não ouviram, acabei de ouvi uma gargalhada pavorosa, tem alguma coisa por ai, acho que é aquele moço que tá tentando nos assustar. – Diz Cezar querendo desviar o assunto para o outro lado da história.
Outra gargalhada é ecoada, agora com mais nitidez, bem próximo. Cezar fica parado ainda olhando para o teto. Sílvio se afasta um pouco da mesa, Patrícia acaba fazendo o mesmo como uma reação espontânea.
Outra gargalhada é feita e um espectro pavoroso desce do teto, Cezar fica estático, não se mexe, sem reação, apenas sente quando a Pisadeira senta-se sobre sua enorme barriga, suas enormes mãos com suas unhas afiadas vão rasgando sua carne revelando suas tripas e estômago, seu sangue começa a banhar a mesa com rapidez.
Patrícia percebe aquele sangue jorrando, depois não consegue olhar aqueles pedaços de carnes humanas sendo despedaçados pouco a pouco. Cezar enquanto é dilacerado observa aquela bruxa de cabelos desarrumados, lenço vermelho no pescoço, corpo magro e seco com braços e unhas afiadas que desceu do teto para comer toda comida e lhe arrancar as entranhas.
Patrícia vendo aquele reboliço na grande mesa não descobria o que realmente estava acontecendo. Sílvio sem falar e sem ter qualquer reação apenas observava seu amigo sendo feito aos pedaços em cima da mesa.
Numa tentativa rápida Sílvio acorda Carlos e Fabiana que ainda tontos da bebida e do sono não sabem o que fazer nem tão pouco o que estar acontecendo naquele momento.
Um grito seguido de um choro lamentoso é dado por Patrícia, isso desperta Carlos e Fabiana que acabam presenciando aquela cena horrível. Sobre a mesa de madeira de lei o corpo de Cezar todo dilacerado ainda escorre um pouco de sangue, ficando intacto apenas sues membros superiores e inferiores.
Aquela noite agora ficou mais tensa, ninguém se mexia. A porta começou a ranger bem devagar de novo, o cão apareceu de novamente e ficou observando os quatro amigos parados, sem qualquer reação diante daquela cena de terror.
Outra grande gargalhada foi ecoada, agora todos ouviram e olharam uns para os outros e aos arredores tentando saber de onde vinha. O cão saiu correndo e gruindo porta a fora. A energia acabou de repente trazendo mais medo e aflição, num piscar de olhos voltou e as luzes se acenderam.
Seu João entrou pela porta e ao vê o corpo de Cezar todo dilacerado sobre a mesa já fedendo muito falou:
- Fazia tempo que a Pisadeira não aparecia por estas bandas, mas tem sempre alguém que desacredita e a invoca, agora não teremos mais sossego, quem se aventurar vai sofrer as consequências. Temos que tirar esse resto de corpo da mesa e enterra-lo embrulhado com folhas de bananeiras e mamonas, o fedor vai ficar intenso, outras Pisadeiras podem aparecer.