Cárceres
Estava a bordo de um navio, observava da cabine superior a popa, onde havia uma enorme piscina. Pensou em mergulhar. Um homem aparecia e vinha em sua direção, com uma máscara horrível e uma capa preta, segurando um cutelo. Tentou acertá-lo a primeira vez, lascando com o cutelo uma janela daquele cômodo da embarcação. A fuga prosseguia, indo parar em um banheiro, já alagado, sendo possível ver o corpo de uma pessoa que parecia fazer parte dos tripulantes. Atravessou o lugar encharcado, com o inimigo em seu encalço. A descarga transbordava fezes. Cada passo o seu algo se aproximava mais. Chegando em um patamar que dava para a piscina, não hesitou em mergulhar. Com fortes braçadas, procura se afastara. A água estava suja e corpos boiavam. O assassino também mergulhara. Desesperado, na popa do navio, com o mar bem abaixo de onde estava. Sem saber se uma queda daquela altura seria fatal. Cada vez que o homem se aproximava o pânico era maior. Saltou para o desconhecido.
Não caiu no mar. Apareceu em uma mansão. Estava seco. Procurou por pessoas nos corredores. No primeiro cômodo, um dos quartos, havia uma mulher crucificada na parede, os olhos haviam sido arrancados. Procurou não se desesperar ainda mais. Caminhou devagar até as escadas e se deparou com um grupo de pessoas, revirando o imóvel. Logo foi visto e os homens atiraram, tentando acertá-lo. Subiram as escadas em seu encalço. A vítima correu para o quarto já conhecido, se trancando, já que a chave estava na porta. Os homens gritavam e atiravam contra a porta. Em pânico, abriu as janelas e saltou do segundo andar, a queda fez com que seu pé torcesse a andava mancando. Foi possível ver homens na janela, que evitaram disparos do lado de fora, mas logo correram para alcançá-lo ao redor da moradia. Não podia correr como deveria. Estava agora diante de um penhasco. A queda daquela altura era morte certa. Os homens se aproximavam e o sorriso maligno tomava conta daqueles rostos. Satisfeitos por ter encurralado sua vítima. Mas o perseguido, saltou para a morte sobre uma formação rochosa.
Seu corpo estava intacto ao avistar uma pequena cabana. Abriu a porta e se viu em meio a uma savana. As pessoas do lugarejo, estavam mortas de maneira brutal. Os corpos haviam sido despedaçados. Avistou leões que devoravam as vítimas. Tentou se abrigar no casebre, mas a força do animal fez a porta ceder. A corrida pela vida começara novamente. Não estava mais manco. Conseguiu subir em uma árvore, mas logo um dos leões subia com desenvoltura. Conseguiu utilizar um galho para derrubar o felino. Outros leões se aproximavam. Estava com um pedaço de carne, que lançou para o grupo. O leão tentou subir novamente e mais uma vez foi derrubado, dessa vez por chutes. A queda fez com que desabasse sobre outro leão e os dois começaram uma briga. A vítima, aproveitando a oportunidade, desceu da árvore e iniciou uma corrida, sendo perseguido pelos felinos. Alcançara um rio e se jogou com valentia. Os leões o seguiram. Mas um dos felinos gemia e foi arrastado para o fundo. Era um local repleto de crocodilos. Isso fez com que o restante do grupo se afastasse. Mas o homem, sentindo que logo seria o próximo a ser atacado, conseguiu nadar até uma queda d’água de altura monumental, lançando-se cachoeira abaixo.
Mais uma vez acordara ceco. Dessa vez, o seu local de fuga era um prédio. Sabia onde terminaria aquilo. Era um local empresarial, corpos espalhados pela sala de reuniões. A porta se abre e um sujeito feroz adentrava o recinto. Um corpo descomunal e uma expressão diabólica. As mãos ensanguentadas e uma faca que carregava, vindo em direção ao homem. Dessa vez, a vítima sabia qual era o seu papel. Não hesitou. Se jogou contra a vidraça e foi em direção ao solo. Mas agora, algo de diferente ocorreu. Sentiu o impacto do corpo no solo, com os ossos despedaçando. O crânio foi estilhaçado. Após essa dor alucinante, se viu de novo voando em direção ao solo. Cada vez que seu corpo batia contra o solo e a dor tomava conta por completo de si, voltava ao início da queda. O ato se repetia incessantemente. Preferia ter morrido devorado por leões ou sofrido as torturas de seus agressores. A queda constante o fez enlouquecer. A fraca de segundos em relação ao impacto, dava-lhe tempo de imaginar a próxima queda e a volta da dor. Não sabia o tempo que aquilo iria durar. Desejava morrer e não conseguia. Talvez já estivesse morto. Toda dúvida, crescia naquele momento instantâneo em que novamente sofria a queda. Jamais se acostumaria com aquela dor. Não havia como fugir, pois não retornava mais ao ponto que se joga, mas sempre em queda, sem ter onde se aparar. A posição poderia inverter, mas não diminuía o efeito do impacto. Já conseguia metalizar o som de seus ossos quebrando. Pedia a deus e ao diabo que tivessem piedade, mas o seu único consolo, era o solo e a dor.