João Paulada
João, um homem marcante. Mas antes de chegarmos em sua maioridade, vamos retornar ao seu parto. Tudo indica que seus pais eram “normais” e vinham de famílias que se enquadravam na dita normalidade. Claro que toda família possui seus excessos, mas nada que influenciasse na genética aqui mencionada. Pelo menos, nada que souberam relacionar. O fato é que João, que foi batizado com esse nome em homenagem a um dos apóstolos cristãos, nasceu após os transcorridos nove meses. O parto foi extremamente complicado. O bebê, saudável, embora o ultrassom revelasse um cordão umbilical espesso. Por conta desse cordão umbilical, ao ser expelido, o bebê ficou enganchado. Veio então a surpresa dos médicos. Aquilo não era o cordão umbilical, mas o pintinho do neném. Não seria apropriado dizer pintinho, já que confundiram com o cordão umbilical. Então vamos dizer, pinto. O pequeno João ficara preso no canal vaginal de sua mãe, por causa do pinto que não deu passagem. Após várias manobras, conseguiram ajeitar e o menino saiu. Parecia que carregava um bracinho entre as pernas. Esse foi o pensamento do médico, que deixou o menino na incubadora para verificar se não haviam outros problemas relacionados a essa anomalia.
Um bebê extremamente saudável. Era o orgulho de seu pai machão, que dizia com a boca cheia, “esse é meu varão.” Não faltava mesmo vara para aquele menino. O bebê parecia com três perninhas. Saiu e foi para casa. fila de parentes e conhecidos visitando. As pessoas estavam mais curiosas do que intencionadas em felicitar o casal. Médicos propuseram operar o garoto. O pai se recusou. Disse que aquilo era um orgulho para um macho e expulsou cientistas que quiseram investigar o fenômeno. Embora tenha ganhado uma boa quantia de dinheiro por apresentar o bebê em revistas famosas e até mesmo em programas de televisão. No palco de um programa de auditório, um apresentador verborrágico, disse que o menino era “um Hércules Fálico”. O menino foi crescendo. Levado para a igreja, era uma atração. Diziam que fora abençoado pelo próprio apóstolo João. A medida que crescia, se tornava ainda mais gritante o fenômeno. Na piscina constrangi as outras crianças, pois sempre sobrava algo para fora da sunga. Começou desde cedo ter uma roupa adaptada, com uma espécie de bolso falso para guardar o bilau.
Na escola, sofrendo bullying, foi apelido de três pernas. Tentavam registrar fotos para expor na internet e constranger o garoto. Uma vez conseguiram. No site, pedófilos pederastas de plantão, desejam saber onde residia esse milagre da natureza. Já despertava a atenção de mulheres mais fogosas, fazendo beatas sentirem um certo comichão. Foi matriculado em “escola especial”, para que diminuíssem as agressões. Quando o menino colocava o bicho pra fora, quando uma roda de homens urinava junto, ninguém se atrevia a ficar próximo. Na primeira vez que lhe ocorreu uma ereção, rasgou as vestes e ficou com aquele mastro no meio da rua, indo parar em uma delegacia por atentado ao pudor. Os guardas, receosos daquela arma, mantiveram o acusado na parte traseira de um camburão. Agora sua roupa possuía, além do bolso falso, fortes pregas presas para evitar que o bicho se soltasse novamente. Alguns homens comentavam: “Que sortuda a mulher que se casar com esse cara”. Algumas mulheres também comentavam: “Coitada da mulher que se casar com esse jegue”. Foram tantos apelidos, muitos deles relacionados a equinos. Passou a trabalhar em uma oficina, com freguesia constante. Quando dirigia, deixava o pinto em volta da cintura, como se fosse um cinto de segurança abdominal. Quando ia ao hospital por uma gripe, era aquele furdunço.
As primeiras namoradas surgiram. Não passavam do beijo na boca. Uma mais atrevida resolveu ir adiante. Se assustou e nunca mais retornou. Uma mulher mais vivida e acostumada a trogloditas, disse de forma despudorada, que iria descabaçar o João. Foram para a cama e a mulher, sem ter sido penetrada como se deve, ficou uma semana de cama. Na segunda semana andava com dificuldade, na terceira caminhava com as pernas tão abertas pelas ruas, que era possível passar uma pessoa engatinhando entre elas. O exemplo acabou causando pânico em futuras pretendes. A filha de um policial se engraçou com João. Mesmo sem ter lhe tocado, o pai armou uma confusão para poder arrebentar o sujeito. Disse que não queria sua filha partida ao meio por esse jumento. Os dois estavam namorando nos fundos da casa dela. O pai chegou e pegou o rapaz daquele jeito. Na confusão, as pregas se soltaram e o troço saiu para fora, como o incrível Hulk quando se transforma. O policial, assustado, disse que mataria o sujeito. A filha fugiu. O rapaz, para se defender, usou a rola. O policial usava o cassetete e João se defendia com a piroca. Até que acertou uma bordoada no homem da lei que o matou. Registraram o óbito e prenderam o rapaz.
Após o incidente, ganhou respeito na prisão por ter matado uma autoridade. Ficou conhecido como João Paulada. Os presos mais femininos, que gostavam de praticar sexo com pessoas do mesmo sexo, faziam favores para João, mas nunca tentaram enfiar aquilo tudo no rabo deles. Uma vez, ocorreu. Uma briga na cadeia. Um desses presos tentou matar João. Era rebelião. Os outros presos disseram que precisava dar cabo do sujeito. Era estuprador, diziam que merecia uma pirusada do João Paulada. Assim fizeram. Prenderam o sujeito de quatro, lubrificaram bem as pregas e mandaram João socar de uma vez só. Nunca presenciaram algo do tipo. O pau, ou melhor, a tora, entrou e saiu pela boca fazendo o intestino ser cuspido. “Morte horrível”, alguns disseram. Cumpriu sua pena e conseguiu ser absolvido. Até porque, descobriram posteriormente, que no caso do policial morto, foi mais um ato de legítima defesa e a filha intercedeu a favor do preso, relaxando a pena, após alguns anos de reclusão. João na cadeia também usava uniforme com um forro para o pinto. Quando saiu, se despediu e deixou saudades no coração dos companheiros de cárcere. Conseguiu seu antigo emprego e tinha sua rendinha garantida.
Ainda existia a frustração. Não ter uma companheira o deixava chateado. Um dia, como por milagre, aconteceu algo que mudaria seu destino. Chegara em sua cidade, uma dama de reputação vasta. Conhecida como Maria Xavasca. O fato é que foi amor a primeira vista. Ela, abandonou o meretrício. Se dedicaram a uma vida juntos. Maria aguentava João, não acreditavam que existia uma largura que desce conta daquilo tudo. O fato é que se acertaram bem. Andavam pelas ruas com sorriso no rosto. A cidade em peso compareceu ao casamento. A própria prefeitura ajudou nos preparativos do regabofe. Logo veio o primeiro filho do casal. Depois vieram outros onze. Os pais, já velhinhos, que esperaram o filho sair da cadeira, participaram. Embora o pai tenha sido contra o casamento, dizendo que era mulher da vida. mas sabia que seu filho era ex-detento e que com aquela benção que recebera entre as pernas, não existiria outra mulher que pudesse dar conta de seu filho. Viveram juntos em uma cidade do interior. Ao contrário do que muitos imaginaram, nenhum dos filhos nasceu com algo grande ou pequeno demais. Tudo na proporção certa. Dizem que João Paulada morreu primeiro. Precisou de um caixão para ele e outro para o pinto. Maria Xavasca ficou de luto e não foi de mais ninguém, até o fim de seus dias.