Cruelty

Sem identidade. Esse é o ponto inicial. Convivia sem familiares ou amigos. Suas relações de trabalho em um setor de produção eram bem frias. Respeitado por seu jeito introspectivo. Temido pelo forte físico. Alto e forte, com uma musculatura que ajudava a dar conta do trabalho pesado na fábrica. A barba espessa e os cabelos compridos, caídos sobre o rosto, formavam uma espécie de máscara. Um dia saindo do expediente, encontrou uma bela senhora que morava algumas quadras de distância de sua residência. Casada e com dois filhos. Uma pancada na cabeça com um pequeno bastão. O desmaio. Levada na madrugada, sem testemunhas. Presa no porão de bruços, de modo a ficar com a cabeça erguida sobre o queixo. Um bairro com casas afastadas e zona rural ampla, vizinhança de pouco contato. A vítima acordada atordoada, observando o local em volta de si e entrando em pânico. Começa a se contorcer e gemer. Logo os olhos encontram aquela criatura de proporções extraordinárias. O pânico toma conta.

Os gemidos ficam mais agudos. O sujeito, com uma espécie de ferro lhe abre a boca e puxa sua língua com um alicate. Uma martelada e prega a língua sobre a mesa de madeira. As lágrimas escorrem e os movimentos fazem com que o prego rasgue aos poucos a língua. Armado com dois ganchos de pendurar carne no açougue, enterra os objetos nas nádegas da mulher, que faz força, rasgando a língua em duas partes e produzindo um rastro de sangue. Is ganchos são puxados com forças, rasgando a região onde foram introduzidos. Um serrote é utilizado para degolar a prisioneira. Começa a serrar a partir da nuca, espirrando sangue e logo separando a cabeça do restante do corpo. Com uma tesoura, abre a pele como se fosse um tecido, expondo músculos e cortando tendões. Abre o tórax com um ponteiro, a marteladas. Separa os órgãos, observando resíduos de fezes nos intestinos e restos de comida no estômago. Ensaca tudo que pode, levando até os fundos do terreno e acendendo uma fogueira, deixando aquele corpo ser consumido pela violência das chamas. O que sobra é enterrado sob as cinzas.

As buscas começam e divulgam fotos. O marido vai até sua casa e lhe informa do sumiço da esposa. A polícia investiga e a cidade pequena se comove com o caso de desaparecimento. Após dar esclarecimentos aos agentes da lei, saiu para uma caminhada noturna. No lago sujo próximo a região, o cão de um senhor escapa pelo portão aberto, indo em direção ao sujeito sentado na beira do lago. Ele se levanta e espera o salto do cão, que é agarrado no ar e tem seu pescoço quebrado. O animal é jogado no lago. Depois de ter o corpo estourado ao ser chocado contra o tronco de uma árvore. Aves de rapina buscaram se alimentar de resíduos do cão despedaçado. Mais um dia duro de trabalho. Volta para casa e encontra a movimentação nas imediações por causa do desaparecimento de uma respeitada senhora da sociedade local. Fuma seu cigarro diante do portão de entrada, observando um casal que caminha embebedado. Entra e dorme. Acordando com batidas na porta logo cedo. Crianças pedindo esmola. Fecha a porta e já começa a se aprontar para mais um dia de trabalho.

Em uma madrugada, se dirige até o cemitério público da cidade. Abre uma cova de indigente, na parte que não existe fiscalização e deposita ali os ossos de sua vítima, voltando a cobrir o buraco. Em uma ocasião o pai pediu que tomasse conta de suas filhas, pois precisava ir até o mercado socorrer um amigo que havia enfartado. Reconheceu naqueles olhos infantis os traços da mulher e procurou cuidar de forma generosa das pequenas. O pai voltou e agradeceu o introspectivo vizinho. As buscas continuaram por anos sem uma pista sequer. O sujeito continuou em sua rotina de trabalho, tornando-se idoso e vivendo naquele seu espaço, cuidando da casa e de seus afazeres. Alguns duvidavam de sua sexualidade, já que jamais foi visto com uma mulher. Embora nunca o tenham visto com homens também. O mistério passou a fazer parte da cidade e a mulher desaparecida passou a fazer parte de uma lista de pessoas que jamais foram encontradas. A família alimentava esperanças de um dia conseguir alguma informação sobre o caso. As meninas cresceram com essa ausência e o pai acabou se casando novamente e vivendo com doces lembranças da companheira querida.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 30/12/2013
Código do texto: T4629994
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