O Delito

Como amava aquela filha. Dizem que quando nasceu, sua empolgação foi tão grande que resolveu sair contando para pessoas estranhas. Muitas vezes se endividara para lhe conceder o menor capricho que fosse. Já adolescente e com educação recatada, saía pouco de casa. indo fazer o tratamento ginecológico corriqueiro, algo diferente ocorreu. A menina passou a demonstrar um estado deprimido, como um animal acuado. Através de informações de pessoas que trabalham no setor de enfermagem daquele hospital, souberam de casos de denúncias de estupros em relação ao mesmo médico que acompanhava a menina. Sobre pressão ela confessou. Mesmo depois de reunir tantas provas e o caso ganhar notoriedade. A imprensa sendo acionada já que a justiça estava pouco interessada em punir uma pessoa com o prestígio que aquele médico possuía.

Depois de uma luta severa e opinião pública em cima, ocorreu a condenação. O tempo passa e as pessoas esquecem. Surgem novas tragédias. Por mais que a família tenha lutado, a menina não foi mais a mesma. Era como se algo houvesse se quebrado dentro dela. A família não mantinha a mesma estrutura. O médico, livre e atuando normalmente, atendendo pacientes da forma mais normal. O próprio prejuízo financeiro foi dos menores. O conselho de medicina fez vista grossa. O estuprador, além de médico, era de família tradicional e conseguiu reverter sua situação, estando até mais popular e conseguindo um lucro ainda mais expressivo em seus atendimentos. O pai, consumido pelo fato, mal dormi, começou a fumar e beber, agredindo muitas vezes verbalmente a esposa, que aturava calada, pois também estava abalada com tudo que havia acontecido.

Um dia, já bem mais velho e com aparência abatida, conseguiu marcar uma consulta com o mesmo médico no atendimento do pronto atendimento do hospital público da cidade. Aguardou pacientemente sua vez, depois de horas de espera. Passou pelos corredores e se dirigiu até a sala. Sentou na cadeira e o médico, aquele que estuprara sua filha, nem olhou em seu rosto. Mesmo que olhasse não reconheceria mais aquele vigor de outras épocas. O homem comentou sobre sentir uma angústia e algo que fazia com que sentisse dores fortes no peito diariamente. Quando encaminhado para a maca, para um exame mais detalhada, surpreendeu o médico com uma pancada na cabeça. Trouxe uma barra de ferro dentro da jaqueta que usava. O médico tonto, foi colocado em cima da maca, a porta trancada. Foi amordaçado com o que o agressor encontrou na sala e teve os membros amarados. Os olhos de pavor. O homem falava sussurrado próximo a seu ouvido, “eu sou o pai daquela menina que você estuprou”.

Logo o estuprado tomou consciência do fato, conseguindo reconhecer naqueles olhos, através daquela face cansada, a figura daquele pai que tanto o perseguira. Chegou a implorar clemência com os olhos lacrimosos. As pancadas eram fortes, rasgando a pele, um delas chegando a romper os ligamentos do joelho. Uma enfermeira quase abriu a porta, mas sentindo que estava trancada se retirou. Imaginou que o médico poderia estar dormindo, fazendo algo de muito particular com algum paciente ou havia saído como eles costumam fazer nos horários de maior movimento. Um bisturi encontrado foi utilizado para cortar o pênis do médico e jogá-lo ao solo. O sujeito, amarrado, se debatia e começou a perder os sentidos. Foi virado de cócoras e a barra introduzida em seu ânus, depois de ter a cabeça estourada com as pancadas que recebera.

Saiu tranquilamente da sala, com a roupa suja de sangue. Andando feito um zumbi, acompanhado de gritos da pessoa que por curiosidade resolveu ver se o médico já iria voltar a atender os outros pacientes. Seguranças correram em direção ao local e logo conseguiram se apoderar do homem, que estava sentado em uma cadeira destinada aos acompanhantes de quem está na sala de repouso. Sem nenhuma forma de apelação, o pai daquela menina, foi condenado e jogado em uma cela. Sua família o visita na cadeia. Os presos o respeitam e pedem sua opinião quando estão diante de questões importantes. A esposa olha com carinho para o marido. A menina continua quebrada por dentro, mas já consegue sorrir e isso é algo glorioso para aquele pai, que já começa a confeccionar alguns itens de decoração para presentear a filha, já que aprendeu mais ofícios dentro do sistema penitenciário. Apesar de preso, dorme todo dia tranqüilo. Não deixa de fazer suas orações e pedir perdão a deus. Deseja cumprir sua sentença e ainda poder ver o neto em liberdade.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 27/12/2013
Reeditado em 27/12/2013
Código do texto: T4627545
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