Ciência

Cada dia diante dessa sociedade eu acredito menos nela. A ciência é outra religião. Os especialistas são novos sacerdotes, com seu hermetismo acadêmico, desejando formar uma nova ordem em que eles possam ter o controle. Cada dia o mercado cria novas formas de método, tornando cada um de nós refém. Os jornais são patrocinadores, com noticiários que nada tem de jornalismo, apenas criando marketing's e embolsando os lucros de sua falsidade. Os programas de televisão são reprimidos pela quantidade imensa de propagandas. Não bastando a que passa a cada cinco minutos, ainda dentro dos programas — como as novelas e as apresentações de auditório —, ainda fazem sua insinuações, colocando anúncios patéticos que fazem dos apresentadores, um bando de macacos domesticados. Cruzo as pernas e acendo um cigarro. Foda-se toda essa porra. Vou me matando aos poucos, enojado com tudo isso que nós somos e criamos.

As religiões a cada dia abrem novos botecos. Em cada esquina um templo que tenta aliviar os sofrimentos, surrupiando o dinheiro dos fiéis e vendendo ilusões. Creio que o álcool seja melhor, por garantir desde o porre com corpo mole e mente fantasiosa, até o coma, que é o verdadeiro fim do sofrimento. Que venham as doses de glicose. Não é nada diferente dos que consomem mercadorias industrializadas e agora precisam de insulinas. Cada um com sua dose de loucura. Reclamam dos crimes. Mas a vida, cada dia mais opressiva, faz muita gente pirar. Os psicólogos, fodem ainda mais a cabeça das pessoas, com seu tratamento de caráter burguês. A culpa é sempre nossa. Reprimimos nossos instintos, com moralismos castradores e depois choramos angustiados em cima de complexos de Édipo ou de qualquer outro mito que sirva de inspiração para nossas frustrações. Ler é um novo martírio. Cada dia o mercado está mais cheio de livros que não valem à pena. Escreve-se qualquer merda e as pessoas consomem. A auto-ajuda está pronta para dar receitas. Somos viciados em bulas.

Criamos a arte da sedução e os cães apenas cheiram o rabo um do outro. Ainda temos muito o que aprender. Perguntem se os animais se incomodam com o incesto. Os hospitais repletos de gente doente ou buscando doença. O entretenimento continua vendendo sua fábula de herói. Todos querem ser o mais poderoso, o mais rico, o da pica que mais fode. Vez ou outra as crianças são deixadas em centro de reabilitação, pois sem qualquer perspectiva, resolvem matar alguém, quem sabe furtar. O importante é ter. Temos muito o que aprender. Os animais cagam e andam e nós procuramos defecar parados, isolados, presos em sanitários, com o cu apontado para uma privada, que levará toda a nossa merda para bem longe de nosso delicado olhar. As drogas não são ruins. Senão não haveria tanta gente procurando. Buscamos sempre alguma saída para essa realidade. Uns comem, outros trepam, alguns cheiram e outros comprar casas luxuosas. Tudo é a mesma merda.

Chego em casa e deito na cama. Um silêncio. A porta do quarto se abre. Vejo meu filho entrar no quarto. Aponta uma arma para mim e dispara. Não sei onde conseguiu arrumar aquela arma. Nem sabia que atirava. A bala me perfura o tórax. Ainda sinto o efeito das cervejas e a dor é ínfima. Penso que aquilo tudo deve ser alguém delírio alcoólatra. Mais outro disparo. Seus olhos são terríveis. Agora sei o motivo do silêncio. Já deve ter matado a mãe. Mais três disparos e já começo a fechar os olhos. Ele cumpriu seu destino. Os jovens vem para roubar a vida dos velhos. A substituição é o grande segredo nesse processo heraclitiano. O rio continua a correr, apesar de não ser o mesmo. Meu rio é de sangue. Engasgo com o sangue e o corpo pesado, que agora está leve, sucumbe naquele leito de morte. Eu nunca te disse meu filho, mas eu te amo. Agora não temos mais tempo para isso.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/09/2013
Código do texto: T4481218
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