Diário de Anelise Hansen - Posfácio

Hoje é segunda feira. Fazem poucos dias que estou aqui, e não consigo me acostumar. De vez em quando me pego vegetando, olhando para um canto da parede do quarto, devido aos efeitos do remédio. Tive que me conformar com o fato de que eu estou definitivamente ficando louca.

Eu sentia falta de Ian. Eu sabia que tudo o que eu estava vendo eram apenas alucinações, então me sentia mal por ter sonhado aquele monte de besteiras com uma das únicas pessoas que me tornavam feliz, que me davam vontade de continuar vivento. Jonathan. Sinto muito sua falta. Mas hoje é dia de visitas, visita particular. Mal consigo me conter, não sei se consigo me segurar e tentar não voar em seus braços, o agarrar para nunca mais soltar, sentir seu corpo novamente, ouvir sua voz.

Eu esperava ansiosa pelo horário de entrada. Até que ele chegou, e um enfermeiro veio me chamar no meu quarto, para me levar até a sala de visitas. Só eu e meu marido, finalmente. Sem enfermeiros me enchendo o saco com remédios, sem sonhos demoníacos, sem fantasmas e criaturas me perseguindo por aí. Só eu e ele.

Então ele entrou e se sentou na cadeira a minha frente, sério. Ele estava preocupado, parecia mais triste, mais acabado, como se emagrecesse muito em pouco tempo, como se passasse noites em claro. Eu me sentia responsável e não conseguia sequer olhar diretamente para seus olhos. Eu me sentia envergonhada demais. Me sentia péssima, como um lixo.

- Você não parece muito bem...

Eu não tinha o que dizer. Foi a única coisa que saiu da minha boca. De um modo sinistro, ele respondeu em tom seco.

- Este corpo já não está mais me aguentando.

Eu via uma clara depressão em sua voz. Eu o havia decepcionado. Eu queria ter feito mais por ele, ter pedido desculpas. Ter me redimido, mas eu não podia ficar lá, trancada como a louca que eu tenho que, obrigatoriamente, admitir que sou, apenas observando Jonathan se degradar aos poucos por minha culpa. Eu comecei a chorar. E a me desculpar. Não necessariamente nessa ordem, mas meus soluços eram altos até para mim mesma. Eu o abracei.

- Sinto falta de você. De poder estar com você. Sinto falta de poder sentir seu corpo...

Eu não podia negar, eu também estava com saudades. Mais do que eu aguentava em mim mesma. Ah, se eu pudesse fazer alguma coisa...

- Quero te levar para casa Anelise. Quero tirar você daqui.

- É o que eu mais quero, poder ir com você. Poder estar só nós dois.

- Então me deixe te tirar daqui.

Meus olhos brilharam. Eu ia estar de volta, eu ia melhorar, eu ia estar com meu marido novamente. Eu estava com medo, lógico, mas eu não iria ter mais problemas em relação a isso. Tratamentos psicológicos podem ser feitos com acompanhamentos à distância, eu poderia estabilizar meus remédios e continuar perto da minha família. Me lembrei de minha mãe também. Sinto a falta de seu colo, seu carinho. Eu iria ter tudo isso de volta, toda a minha vida. Então, por debaixo de seus ombros largos, na qual eu não me desprendi desde que ele chegou, eu olhei em volta e vi mais uma vez meu pesadelo se tornando real.

Era Ian, parado, do lado da porta que Jonathan entrou, me encarando. Estava com uma aparência muito semelhante com a do pai, exceto que este estava vivo. E eu, estava delirando novamente.

A princípio eu havia levado um susto. Então me soltei aos poucos, respondendo que faria qualquer coisa para que pudesse voltar para casa, voltar para ele. Olhei para cima, tentando ignorar o fantasma de meu filho se projetando de dentro da minha cabeça para o mundo real, se é que algo até agora foi real de verdade. Os olhos de Jonathan estavam brancos, sem presença da retina, inchados e sangue. As veias estavam saltadas por cima das olheiras, da mesma forma que naquelas alucinações. Estava começando tudo de novo.

- Eu posso dar sua vida de volta, Anelise. Posso te tirar daqui. Mas eu preciso do seu corpo para mim. Só para mim.

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Anelise Hansen pode retornar em breve...

Luke Tantini
Enviado por Luke Tantini em 25/07/2013
Código do texto: T4403714
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