Diário de Anelise Hansen - Prefácio

Havia muita coisa que eu não compreendia de uma mulher tão linda quanto Anelise. Comecei a acompanha-la por conselho de seu médico de rotina, doutor Leonard Campel. Mesmo como psicóloga formada, com diplomas e mais diplomas de mestrado, pós-graduação e várias outras especializações em psiquiatria, todos em nome de Esther Maximilian, ainda não consigo desenvolver teoria alguma sobre o funcionamento da mente complexa desta jovem mãe, vítima de um baque tão estrondoso quanto a perda de um filho tão sadio, em seus prematuros oito anos de idade.

Então, comecei meu relatório aos poucos, desde minha primeira sessão. Estavam registrados os seguintes dizeres:

“Senhora Anelise Hansen, traumatizada pela terrível perda de seu primeiro e único filho, começou o tratamento psicológico a partir de hoje, dia 31 de maio de 2014. Atualmente trabalha como escritora, porém antes de se casar e dar a luz, atuava como enfermeira sênior no hospital municipal. Seus primeiros livros foram basicamente anotações de suas próprias experiências e pesquisas enquanto trabalhava na área, mas logo depois começou a unir seus êxitos com o ocultismo presente em sua família desde sua mãe, que até hoje exerce funções mediúnicas. Casou-se com o professor de História e arqueólogo Jonathan Hansen aos 24 anos de idade, um ano antes de trazer a vida o jovem Ian, assunto na qual não abordei hoje. A mãe de primeira viagem ainda precisa de um tempo para se recompor, ainda mais depois daquela morte trágica ocorrida há menos de uma semana atrás.”

Logo depois disso, mais duas ou três sessões foram gastas para que eu conhecesse melhor os gostos, os interesses da mulher, me tornasse digna de sua confiança. Mas ainda existiam coisas que ela não queria me contar, que ela ficava receosa só em saber meu interesse crescente pelo assunto. Ainda procurei evitar saber mais sobre seu filho, mas insisti em saber sobre seu envolvimento com a mãe e com o marido. Ela nunca acreditava muito nas visões e outras coisas do gênero, que sua mãe sempre dizia, apesar de sentir enorme curiosidade. Em uma vez ou outra, aquela mulher chegava a assustá-la quando fazia certas coisas mais específicas, que ela desejou guardar para si por enquanto. Já com o marido, este se tornara sua âncora. A única coisa que não a fazia perder a vontade de viver. Mas ela sempre dizia que alguém falava coisas sobre Jonathan que ela não conseguia acreditar. Ela não queria acreditar.

A mulher começou a chorar a partir do momento em que eu perguntei quem falava essas coisas e o que eram. Me arrependi de ter feito essas perguntas, me senti como se estivesse sendo um interrogador cruel tentando tirar uma confissão de um inocente.

Então a propus um teste. Um diário, em uma semana. Teríamos mais uma sessão nesse meio tempo, então poderia ir guiando Anelise. Tudo que ela quisesse dizer e não podia, ou não conseguia por algum motivo, ela iria escrever. Ela aceitou. E agora eu vejo que realmente haviam coisas que eu não conseguia compreender naquela mulher tão ressentida.

Diário Clínico de Anelise Cameron Hansen, pela Doutora Esther Maximilian.

Luke Tantini
Enviado por Luke Tantini em 22/07/2013
Código do texto: T4399633
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